Dois transeuntes que se encontram todos os domingos ao cair da tarde para contar a história de Dom Quixote e Sancho Pança. Em alguns pontos, a peça lembra “Esperando Godot”, clássico do irlandês Samuel Beckett que consolidou o chamado teatro do absurdo e suas questões existenciais. Porém, a montagem da Cia. Paulicea de Teatro, que se apresenta em Belo Horizonte pela primeira vez, com única sessão nesta quinta-feira (4), traz “características que são calcadas em experiências muito próprias da América Latina”, assinala Alexandre Kavanji, diretor de “A Razão Blindada”.

Com texto original do argentino Aristides Vargas, a peça recebeu tradução de João das Neves, carioca fundador do combativo Grupo Opinião na década de 60, que escolheu Minas Gerais para viver. Em 2010, Alexandre pediu a João para adaptar o texto. “Por motivos de agenda não foi possível (na época), mas era um desejo muito antigo nosso, e a espera valeu a pena”, considera.

Contexto. Protagonizada por Dudu Oliveira e Cássio Castelan, a montagem aborda “todas as opressões cotidianas a que estamos sujeitos”. “Fala de diferentes tipos de aprisionamento, desde o cárcere até um hospital psiquiátrico, passando pelo trabalho análogo à escravidão. Trata deste tempo e espaço que é o século XXI, em que as pessoas são vigiadas 24 horas por dia”, detecta Alexandre. A peça estreou no último mês de novembro, em São Paulo, e já tem planos para uma turnê na Argentina em agosto. Uma das motivações para adaptar a dramaturgia, criada há dez anos, foi o momento político. “Temos um contexto efervescente, com um país repartido, agressivo”, ressalta. Na peça, as personagens encontram sua “tábua de salvação na utopia”. “A partir do fantástico, da alegoria, modificamos o real”, sustenta o diretor.

 

Agenda

O quê. “A Razão Blindada”, da Cia. Paulicea de Teatro
Onde. Funarte (rua Januária, 68, centro)
Quando. Nesta quinta-feira (4), às 20h30
Quanto. R$20 (inteira)