Literatura

Paulo Bezerra realiza palestra em BH sobre o romance 'O Idiota'

Tradutor de obras diretamente do russo, o estudioso vai analisar o clássico de Dostoiévski

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 21 de agosto de 2019 | 03:00
 
 
 
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O professor e tradutor Paulo Bezerra já verteu diretamente do russo para o português diversas obras do consagrado escritor Fiódor Dostoiévski (1821-1881), entre elas “Crime e Castigo”, “Os Irmãos Karamázov”, “Os Demônios” e “O Idiota”. Em razão de seu vasto conhecimento de literatura russa, ele foi convidado para ser o consultor teórico do espetáculo “Nastácia”, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil até o dia 9 de setembro.

Como atividade complementar às encenações da peça, que tem Flávia Pyramo, Odilon Esteves e Chico Pelúcio no elenco e é baseada na trajetória da heroína Nastácia Filíppovna, apresentada no romance “O Idiota”, Bezerra vai realizar nesta quinta (22) uma palestra centrada nessa ficção.

“Eu tenho um carinho especial pelo ‘O Idiota’, porque vejo nele uma ode à vida, a despeito de toda a sua configuração trágica: (o príncipe) Míchkin, sua personagem central, defende ardentemente a vida ao longo de toda a narrativa e acaba sucumbindo à morte de Nastácia Filíppovna”, diz Bezerra.

Trajetória

Antes de trabalhar na tradução de “O Idiota”, o especialista já havia dado o mesmo tratamento ao livro “Crime e Castigo”, que, por sinal, foi sua porta de entrada no universo literário de Dostoiévski. Bezerra observa que “O Idiota” traz uma escrita muito diferente se comparada ao estilo dos outros títulos do autor russo. 

“O livro foi escrito, ou melhor, ditado entre uma crise epiléptica e outra de Dostoiévski, por isso é marcado por uma oralidade bem maior do que ‘Crime e Castigo’”, comenta o tradutor. Apesar dessas diferenças, Bezerra relata que ter se aprofundado nos meandros linguísticos e narrativos de “Crime e Castigo” contribuiu muito para que ele pudesse criar uma versão em língua portuguesa de “O Idiota”.

“Traduzir ‘Crime e Castigo foi uma experiência fundamental por ter sido minha primeira tradução de Dostoiévski. Foi o primeiro desafio de traduzir uma sintaxe totalmente diferente da praticada pelos demais romancistas russos – só encontrando paralelo em Gógol. Traduzir ‘O Idiota’ não foi mais fácil, porém, a linguagem de Dostoiévski já estava entranhada em minha consciência”, relata ele.

Contexto

Atualmente, tem circulado pelo mercado editorial brasileiro diversas traduções diretas de obras russas que até então eram raras de encontrar no país. E, sem dúvida, Bezerra é parte importante desse processo, ao abrir caminho nesse nicho. “Posso dizer, sem risco de cair no vitupério, que minha tradução de ‘Crime e Castigo’ mudou o panorama da recepção da literatura russa no Brasil”, frisa.

“O caminho da tradução direta do original russo já fora aberto pelo trabalho pioneiro do saudoso mestre Boris Schneiderman, mas ‘Crime e Castigo’ chamou atenção do público para a enorme diferença entre tradução indireta via francês ou inglês e tradução direta do russo. É essa a razão do atual boom da literatura russa no Brasil, graças às edições da Editora 34”, acrescenta ele.

Serviço

Paulo Bezerra realiza palestra sobre “O Idiota”, nesta quinta (22), às 19h30, no teatro do CCBB (praça da Liberdade, 450). Entrada gratuita 

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