Expoente do abstrato geométrico brasileiro, Celso Renato de Lima (1919-1992) foi, ao lado de Amilcar de Castro (1920-2002), um dos mais singulares artistas no diálogo com o construtivismo em Minas Gerais. Boa parte do legado do artista, que nasceu no Rio de Janeiro e veio ainda criança para Belo Horizonte, está reunida em “100 Anos de Celso Renato”, aberta ao público, a partir desta quarta-feira (31), na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard do Palácio das Artes. A artista plástica, professora e galerista Cláudia Renault assina a curadoria. A mostra abrange todo o período de criação do artista (1960-1990) e representa a maior individual já dedicada a ele. Ao todo, são 76 criações, entre desenhos, telas e pinturas sobre madeira, além de um vídeo produzido pelo mineiro Eder Santos em 1983.

Grande parte do conjunto pertence a colecionadores particulares e uma das obras integra o acervo da Pinacoteca de São Paulo. “Esta é a única exposição que abarca toda a trajetória de Celso Renato, não se detendo apenas à fase áurea das pinturas em madeira. Foram feitos minuciosos levantamentos e um grande trabalho de busca das obras, que estão organizadas em três módulos: o primeiro, com os desenhos inaugurais; o segundo, com as pinturas abstratas; e o terceiro, com as obras em madeira que o consagraram como um dos maiores artistas brasileiros”, explica a curadora.

Cláudia diz que “100 Anos de Celso Renato” vai destacar a série de trabalhos sobre madeira, as chamadas pinturas-assemblages, feitas em materiais recolhidos em obras de construção civil. “Nós vamos apresentar também os desenhos, que são muito curiosos – feitos com pena de pato. Dessa forma, o público vai poder ver desde o início do gestual bem informal que ele produz até esse grupo de criações que marcam, definitivamente, a presença dele na arte brasileira”, frisa a curadora.

A mostra chama atenção para a vocação abstrata que emerge nos trabalhos. “Celso Renato salta etapas. Ele nunca estudou formalmente, teve algumas informações para ser um artista clássico, porém logo aproximou-se do abstrato. Os artistas, em geral, levam anos para conquistar um gesto livre, e essa certeza do gesto é algo que é nítido nas obras de Celso Renato, o que é genial e surpreendente”, ressalta a curadora.

Esta é a terceira individual do artista organizada por Cláudia. A última foi montada em 2007 na Escola Guignard, e, apesar dessas iniciativas, ela destaca que o artista ainda é pouco conhecido, embora sua obra esteja obtendo certo reconhecimento até no exterior – atualmente há uma exposição em Milão, na Itália, com suas obras. “Nós queremos mostrar o trabalho de um artista mineiro que é da maior qualidade, mas ainda poucas pessoas conhecem. Na década de 80, Celso Renato já era valorizado, mas somente entre os artistas. Atualmente, nem mesmo os estudantes de arte sabem quem ele foi, por isso a importância dessa mostra. Ele completaria cem anos em 2019, então, estamos antecipando as comemorações”, afirma Cláudia.

Trajetória

Autodidata, Celso Renato cresceu em um ambiente em que a arte fazia parte do cotidiano. Seu pai, Renato de Lima (1893-1978), também foi pintor e, com ele, o artista adquiriu os primeiros conhecimentos na linguagem, progredindo depois nos estudos que empreendeu por conta própria.

Entre os amigos do artista, um dos mais significativos foi Amilcar de Castro, que, inclusive, escreveu um poema que estará exposto na Grande Galeria. “Amilcar sublinha que a comunicação de Celso Renato se dá por tambores, uma referência ao modo como ele trabalhava a madeira, pintando sempre com as tintas vermelho, preto e branco. Isso traz uma conversa forte com a arte indígena e africana”, afirma Cláudia.

 

Legado continua atual e afinado

As obras de Celso Renato, em especial as pinturas sobre tapume, reforçam como o pintor se mantém atual e afinado com as investigações que artistas brasileiros seguem experimentando no presente.

“Ele continua contemporâneo, e, se observamos os projetos de alguns artistas nacionais, podemos identificar conversas entre esses e o trabalho de Celso. São exemplos as obras de Marcone Moreira e Solange Pessoa. Acho que Celso deixou uma influência sobretudo no olhar de uma geração. Por isso, ele e Amilcar de Castro são duas grandes referências bem diretas na arte mineira e brasileira”, conclui a curadora Cláudia Renault.

Agenda

O quê

Abertura da exposição “100 Anos de Celso Renato”

Quando

A partir desta quarta (31). Horário de visitação: de 3ª a sáb., das 9h às 21h; e dom., das 16h às 21h. Até 27.1.2019

Onde

Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro, 3236-7400)

Quanto

Entrada gratuita