Dois grupos de sete homens (com um ator/provocador inserido nos dois), selecionados a partir de um anúncio de jornal, são convidados a debater questões femininas numa câmara de espelhos, montada em um estúdio. Entre as falas ouvidas, estão “existe uma ordem de importância: homem, as crianças e depois a mulher” e “meu sonho é casar com uma mulher surda, muda e ótima doméstica”.

Desde sua estreia no Festival de Brasília de 2016, o documentário pernambucano “Câmara de Espelhos” vem causando polêmica e levantando discussões por onde passa. E, nesta quinta, o público de Belo Horizonte finalmente vai poder participar da conversa com a estreia do longa no Cine 104 – seguida de um debate com a diretora Déa Ferraz, idealizadora do dispositivo.

“É muito interessante perceber como o filme chega de formas diferentes para pessoas diferentes, sobretudo homens e mulheres”, reflete a cineasta. Nas muitas sessões, em espaços e contextos diversos em que o filme foi exibido no último ano, ela percebeu que a reação das mulheres se divide em duas. “Há aquelas que já estão por dentro das discussões de gênero que o filme propõe e já entendiam o que é dito ali como violência. Essas celebram o final porrada e gritado do longa. E há aquelas que ainda não percebiam isso e têm uma reação de destampar os ouvidos, sem conseguir mais ouvir o que ouvia antes, inclusive dentro de casa”, descreve.

Entre os homens, as respostas também se dividem. “Alguns reagem de forma bem negativa, no sentido de se afastarem e rejeitarem o filme completamente. E outros admitem que se viram no filme ou já ouviram aquilo nos grupos que circulam”, conta Ferraz.

Acima de tudo, a diretora celebra a capacidade que “Câmara” tem demonstrado de provocar o debate. A trajetória permitiu que ela percebesse algumas coisas que a incomodam no filme – como a figura do ator infiltrado na câmara, que ela identifica hoje como um sintoma de sua “insegurança”. Mas, da sessão que ela fez para sete dos participantes do filme, conseguindo olhar nos olhos deles e dizer o que suas falas a fizeram sentir, até a discussão “afetuosa” após uma exibição em Natal no último fim de semana, Ferraz acredita que o documentário tem feito homens e mulheres falarem – e se ouvirem. “Acho que esse é o caminho. A gente precisa começar a aprender a se ouvir para construir uma coisa nova e diferente”, reflete.

Programe-se

Documentário. “Câmara de Espelhos”, seguido de debate com a diretora Déa Ferraz

Quando. Quinta, às 20h30

Onde. Cine 104 – praça Ruy Barbosa, 104, Centro

Quanto. R$ 12 (inteira)