“Isso é uma entrevista ou um depoimento para o Museu da Imagem e do Som?”, questiona, pelo telefone, antes de disparar mais uma de suas saborosas risadas. Jaime Alem, 66, de fato, tem muita história para contar, e laudas de jornal dificilmente seriam suficientes. Neto de maestro, filho de mãe bandolinista e aluno de Guerra-Peixe, ele trabalhou com Sueli Costa, se apresentou com a Orquestra Sinfônica Nacional, escreveu peças populares e eruditas, foi gravado por Elba Ramalho e produziu um emblemático disco da tríade de malandros formada por Moreira da Silva, Bezerra da Silva e Dicró.
No entanto, o episódio mais marcante de sua trajetória foram os mais de 25 anos como músico e arranjador de Maria Bethânia. A separação, ocorrida em 2012, durou bem menos. A dupla reatou a parceria que poderá ser conferida pelo público de Belo Horizonte no dia 5 de maio, quando a turnê “Maria Bethânia & Zeca Pagodinho: De Santo Amaro a Xerém” aporta na capital. “Sentia falta dela, é uma grande artista, de inteligência destacada, alguém que está numa busca sempre incessante, o que rejuvenesce a sua obra. A gente já estava namorando esse retorno há um tempo”, confessa Alem.
À época do desligamento, o músico admitiu que as coisas não iam muito bem. “Na verdade, eu não queria a interrupção e nem sei se era a vontade dela. Foi o desgaste decorrente de uma série de tensões que estavam fortes, mas teve importância para me abrir outras perspectivas e também para a Bethânia avaliar a minha ausência. Se ela me chamou agora é porque sentiu saudades”, diverte-se.
Orgulhoso do papel que o encontro teve na história da música brasileira, o músico se põe a escolher três álbuns-chave da baiana em que atuou. “O ‘Olhos D’Água’ (1992) foi marcante para mim, produzi esse disco. Já em ‘As Canções Que Você Fez Pra Mim’ (1993) me permiti abusar um pouquinho na elaboração dos arranjos, colocar harmonias intricadas, chegar a uma sofisticação que acredito que o Roberto (Carlos) tenha gostado. Não posso esquecer, ainda, do ‘Brasileirinho’ (2003), um momento de muita inspiração nossa”, diz. Para o compositor, existe um motivo claro para Bethânia se destacar entre seus pares e agradar tanto a crítica quanto o público, sendo uma das recordistas de vendagem de discos.
“Além do timbre de voz ser especialíssimo, das escolhas musicais que ela faz, outro componente forte é a ligação com a poesia. São elementos que compõem uma personalidade que não se atém apenas à cantora ou à intérprete, diz sobre uma inquietude, ela sempre procura abrir caminhos”, enaltece. A união do universo particular de Bethânia com o de Zeca Pagodinho reforça a tese de Alem, que não enxerga dificuldades para si nesse trabalho. “Já estive com a Bethânia em outros momentos em que ela dividiu o palco com pessoas ligadas ao samba. Tecnicamente é tranquilo, adoro o Zeca, não há diferença em acompanhar a Bethânia com ele ou o (tenor italiano) Luciano Pavarotti”, brinca o entrevistado. “O mais complicado foi encaixar todas as agendas”, completa.
Encontros. O afastamento de Bethânia levou Alem a tecer uniões diversas. Atualmente, segue apresentado o show “Suburbano Coração”, com Rita Benneditto. Nesse ínterim, participou em seis faixas no disco autoral que a cantora Joanna se prepara para lançar. O cantor João Fênix foi outro companheiro de estrada, enquanto com a esposa Nair Cândia, presente nos cinco títulos da discografia solo de Alem, ele permaneceu realizando concertos. No mais recente, “Relicário”, de 2014, o músico prestou homenagem ao avô multi-instrumentista. Português e anarquista, ele se mudou para Capetinga, no interior de Minas Gerais, o que levou o paulista Alem, nascido em Franca, na divisa dos Estados, a “se sentir mineiro”.
“Amo a música do Milton Nascimento, o Clube da Esquina me influenciou muito”, afiança ele, que considera o violonista Raphael Rabello “o maior de todos”, mas não se esquece de elogiar Yamandu Costa, André Mehmari e Marcelo Caldi. A mais remota lembrança musical é de, aos 9 anos, ser convocado pelo pai para cantar na varanda de casa, em meio à jogatina dos convidados, canções de Nelson Gonçalves, como “A Deusa da Minha Rua”.
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