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Nesta quarta, Grupo Galpão debate a peça ‘Nós’ e a cultura em tempos de pandemia
Em live, Eduardo Moreira, ator e fundador da companhia, e o diretor Marcio Abreu falam do espetáculo e também refletem sobre o papel da arte no atual contexto de crise
“Estou a postos”, diz a mensagem do ator e fundador do Grupo Galpão, Eduardo Moreira, na manhã desta quarta-feira (20). Quando ele atende o telefone para esta entrevista, é inevitável que o primeiro assunto não seja a saída da atriz Regina Duarte da Secretaria Especial da Cultura. Moreira diz que recebeu a notícia sem surpresa. Para ele, independentemente de quem ocupar o cargo, o plano já está traçado. “Com ou sem Regina, se for terraplanista ou não, existe claramente um plano de destruição da cultura”, afirma.
O ator diz que vivemos tempos muito difíceis e lamenta o fato de, além de termos de conviver com uma pandemia que já levou mais de 17 mil vidas, o Brasil viver o que ele chama de “ideologia do ódio”. “O tempo inteiro uma coisa de guerra desde que a extrema-direita que assumiu o poder. Nunca vi, e olha que vivi a maldita ditadura militar, um governo tão assumidamente não republicano como esse”, ele completa.
A situação da cultura no país nesse contexto de pandemia e o espetáculo “Nós”, do Grupo Galpão, que completou 35 anos de atividade em 2017, serão temas de uma live que Eduardo Moreira e o diretor Marcio Abreu, que assinam o texto da peça, fazem na noite desta quarta, às 19h. O bate-papo será transmitido pelo perfil da companhia no Instagram. Durante a quarentena, a peça também está disponível no YouTube.
Segundo Abreu, o texto de “Nós” cria possibilidades de conexão com o real ainda que não seja sobre algum movimento específico. O espetáculo estreou em 2016, em meio ao processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Mesmo sem querer, pois foi criada em 2015, a peça dialoga com aquele cenário. “Ela não era sobre a destituição ilegítima da Dilma e todo aquele caos, mas, naquele momento, também não deixou de ser”, pondera.
Essa força de reencontrar sentidos ao longo do tempo e dialogar permanentemente com acontecimentos do mundo, segundo Eduardo Moreira, é um trunfo de “Nós”, montagem muito presente na trajetória da companhia mineira: “É um espetáculo absolutamente atual, apesar de não fazer referência nenhuma ao mundo atual. A peça trata da situação de um grupo quase confinado numa sala e aí explodem as violências, a coisa do coletivo, de repente, rejeitar um de seus indivíduos. Tem ali toda uma paródia do que a gente está vivendo”.
Arte em tempos de pandemia
Eduardo Moreira diz que a arte, especialmente o teatro, vive um momento paradoxal. Ao mesmo tempo em que as pessoas precisam dela como uma válvula de escape, essa mesma arte está, de certa maneira, confinada. “O teatro pressupõe como ato inaugural o encontro, a relação direta, presencial, e isso está impossibilitado no momento. Claro que vamos tentando marcar presença, dizer que estamos aqui criando projeto e possibilidades, mas o encontro é insubstituível”, ressalta o ator e fundador do Grupo Galpão.
Para Marcio Abreu, a cultura vem sofrendo uma tentativa de extermínio e é papel do artista dar seu testemunho e buscar na linguagem e na manifestação do fazer artístico a construção de um pensamento para permanecer cada vez mais potente, sobretudo em um momento que ele classifica como “disruptivo e distópico”.
“E mais violenta, não no sentido da violência que matou o João Pedro, mas de romper com essas estruturas violentas que nos assolam. Senão, a gente desaparece. O ‘Nós’ é um exemplo específico para pensar como a arte pode permanecer”, diz o diretor.
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