Impossível falar da música dos últimos 70 anos sem citar Ray Charles Robinson, ou simplesmente Ray Charles, nome que o cantor e pianista norte-americano escolheu para não ser confundido com o boxeador Sugar Ray Robinson no fim dos anos 40, quando já tocava em bailes de música negra. Nesta quarta-feira (23), um dos maiores artistas de todos os tempos faria 90 anos e o legado deixado por ele é imenso e fundamental, sobretudo porque resiste ao tempo e influenciou - e ainda influencia - diversas gerações de artistas de diferentes estilos.
A infância difícil de Ray Charles em Albany, no estado da Geórgia, sul dos Estados Unidos, foi marcada pela pobreza em um país que vivia as duras consequências sociais e econômicas da Crise de 1929, pela cegueira absoluta aos 7 anos - suspeita-se que por conta de um glaucoma - e pela perda do irmão mais novo, George, que morreu afogado em uma bacia que a mãe Aretha usava para lavar roupas.
Ray aprendeu a tocar piano com um vizinho chamado Willie Pitman, que tinha um café perto de sua casa, e se aperfeiçoou em uma escola para cegos e surdos onde a mãe, que faleceu quando o música tinha 14 anos, o havia matriculado. Ray e o piano eram inseparáveis. O primeiro sucesso veio em 1953, com "Mess around". As décadas seguintes trouxeram vários outros sucessos, turnês, prêmios, milhões de discos vendidos e reconhecimento capazes de garantir a Ray Charles um lugar entre maiores de todos os tempos.
O pianista também enfrentou o racismo e lutou, por 20 anos, contra o vício em heroína, que quase lhe custou a carreira. A cinebiografia “Ray”, com a impressionante atuação de Jamie Foxx, que levou o Oscar em 2005, no papel do músico é um registro que vale a pena ser visto. O artista morreu aos 73 anos, em 10 de junho de 2004, mesmo ano em que o premiado filme estreou.
Ray Charles ajudou a gravar na história da cultura pop a imagem do homem virtuoso ao piano. Ele fundiu a música gospel das igrejas negras dos Estados Unidos com o blues, o rhythm and blues, o country, o jazz e o soul, gênero do qual é um dos mestres fundadores. Ray podia ser frenético e alegre, mas também era melancólico e sentimental. O carisma irresistível e o largo sorriso sempre conviveram com as lembranças e o sofrimento de um artista que encontrou na música a maneira mais sincera para falar sobre o que ele - e muita gente - sentia.
Dê o play e ouça 10 canções que mostram a força e a beleza de Ray Charles:
"Hard Times" (1958)
"Georgia On My Mind" (1960)
"Ray's Blues" (1961)
"I Can't Stop Loving You" (1958)
"Drown In My Own Tears" (1957)
"Come Back Baby" (1957)
"A Fool For You" (1957)
"Without Love" (1987)
"Your Cheatin's Heart" (1962)
"Ruby" (1960)