Falta pouco menos de um mês para a principal estreia da teledramaturgia nacional em 2024, o aguardado remake de “Renascer”. A estreia da substituta de “Terra e Paixão”, na faixa das nove da Globo, está programada para o dia 22 de janeiro.
A trama de Benedito Ruy Barbosa, exibida há 30 anos, conta a história de José Inocêncio, um poderoso fazendeiro da zona cacaueira de Ilhéus, na Bahia. Seu grande amor é Maria Santa, com quem tem quatro filhos. O protagonista tem uma péssima relação com o caçula João Pedro, já que a esposa morre durante o parto do menino.
Apesar de a essência da novela original ser mantida, algumas modificações foram necessárias. A começar por uma primeira fase maior. Na versão de 1993, que revelou talentos como Leonardo Vieira, na pele do “coronelzinho” José Inocêncio, os primeiros capítulos deixaram um gostinho de quero mais. Com uma linguagem cinematográfica – marca do então diretor Luiz Fernando Carvalho –, a etapa inicial durou apenas cinco episódios.
Agora, serão 13, como explica Bruno Luperi, autor do remake e neto de Benedito. O dramaturgo, aliás, que considera “Renascer” o ápice do avô enquanto novelista e contador de histórias, revela que, na original, a ideia era ter uma primeira fase maior, mas que acabou sendo reduzida. No entanto, as cenas gravadas não foram desperdiçadas e entraram no decorrer do folhetim como flashbacks.
“A ideia de crescer (a primeira fase) em 2024 é por uma série de fatores, e o principal deles é que a gente quis explorar um pouco do universo da história e aqueles personagens maravilhosos da primeira fase. E, com isso, deixar essa novela acontecer com a potência que ela tem”, frisou.
O diretor artístico Gustavo Fernandez – que trabalhou com Luperi também no remake de “Pantanal”, exibida em 2002 – celebra o prolongamento da etapa inicial da produção. “‘Renascer’ tem um tom épico, mítico e místico, e isso se reflete na estética que a gente está adotando, sobretudo na primeira fase. Esses 13 capítulos iniciais vêm consolidar tudo o que virá nos 180 restantes”, opina.
Bruno Luperi teve que fazer algumas atualizações na narrativa e justificou que, de 30 anos para cá, o Brasil e o mundo passaram por muita coisa que não poderiam deixar de se fazer presentes na novela. Questões como a preocupação com o meio ambiente, o advento da internet, a diversidade de credos e o novo contexto econômico do cacau serão abordadas.
“Sobretudo com esta revolução tecnológica que vivemos, surgiram novas formas de interação humana. Tem muita coisa que já não funciona para a nova geração. O tempo mudou, mas a essência é a mesma. A nossa novela fala de um Brasil profundo, de como vivemos nosso tempo, e tentei recriar ao máximo a fotografia daquele tempo que ele fez (Benedito Ruy Barbosa), mas sem apresentar o menor juízo de valor. Minha intenção é honrar esse legado”, assegura.
Atualizações
Entre as principais adaptações para tornar a trama mais contemporânea está a variedade religiosa. Se, antes, o catolicismo predominava, principalmente com a devoção de Maria Santa à Nossa Senhora, além de dois personagens padres na produção, agora, há espaço para outros credos. “É uma novela ecumênica e tem que ser”, pontua o autor.
Padre Lívio, um dos personagens mais lembrados da primeira versão e que foi interpretado pelo ator Jackson Costa, mudará de religião e será um pastor evangélico na nova versão.
O papel agora será do baiano Breno da Matta, que fez parte do elenco da série “Justiça 2”. Já Inácia – guardiã e devota de José Inocêncio (Humberto Carrão/Marcos Palmeira) e cozinheira de mão cheia –, vivida nas duas fases por outra artista da Bahia, Edvana Carvalho, será uma representante do candomblé. “Inácia é uma ialorixá. É um grande presente da ancestralidade poder representar uma mulher preta, contadora de história, e poder trazer as religiões de matriz africana. Sem contar que é uma tremenda responsabilidade interpretar um papel que foi de Solange Couto e da nossa querida e saudosa Chica Xavier. Inácia é uma grande mãe de todos”, comenta Ednalva.
Outra figura icônica da novela de 1993 foi Buba, que lançou Maria Luiza Mendonça para o grande público. Na época, a personagem era hermafrodita (condição na qual a pessoa nasce com dois órgãos sexuais, tanto do sexo masculino como do feminino). Desta vez, com o desejo de dar mais representatividade para a produção global, Buba vai ganhar a vida por meio da atriz transexual Gabriela Medeiros, que faz sua estreia na televisão. A artista pode ser vista no elenco da série “Vicky e a Musa”, do Globoplay, como Dani, atuando ao lado de João Guilherme e Nicolas Prattes.
Outra novidade é o ingresso de novos personagens, como o coronel Firmino, papel de Enrique Diaz. O fazendeiro fez fortuna atuando como intermediário na compra e venda do cacau na região e, mais tarde, como agiota. Ardiloso e bastante ambicioso, ele não deixa transparecer suas reais pretensões.
O filho Egídio (Vladimir Brichta) assumirá os negócios depois que Firmino for assassinado num ajuste de contas que jamais foi esclarecido. Aliás, na primeira versão, o personagem de Brichta se chamava “Teodoro” e foi do ator Herson Capri. Enrique Diaz afirma que fazer um personagem que não existia na trama de Benedito é “divertidamente curioso e interessante” e que isso acabou estimulando ainda mais sua intuição. “Foi um processo bem mais intuitivo, e é um personagem muito rico. A caracterização foi muito forte, e isso ajudou na hora de criar. Eu me deixei levar muito pelos diretores da cena, pelos encontros com outros atores, pelas situações, pelo texto, e foi ótimo. Tem sido bem bacana fazer”, admite.