Na Netflix

"Silêncio na Floresta" é excelente opção para quem gosta de suspense

Baseada na obra de Harlan Coben, produção polonesa fisga o espectador desde o primeiro capítulo

Por Patrícia Cassese
Publicado em 02 de julho de 2020 | 17:24
 
 
 
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O advento das plataformas de streaming trouxe, em seu bojo, um ganho precioso para fãs de filmes e séries: o contato com trabalhos de países cuja produção audiovisual não é, digamos assim, tão divulgada quanto a norte-americana ou a de alguns países europeus, em particular a França. Por consequência, muitas empreitadas de calibre acabavam não sendo submetidas ao olhar do público brasileiro. 
 
O catálogo Netflix, por exemplo, abriga atualmente pérolas como o filme "My Happy Family", uma produção da distante Geórgia. Mas é da Polônia que  vem uma série com credenciais para agradar a todos os gostos. Trata-se de "The Woods", ou "Silêncio na Floresta", baseado na obra homônima do norte-americano Harlan Coben e com a direção dividida entre Agata Malesinska e Wojtek Miłoszewski. A primeira temporada, disponibilizada no mês passado, reúne seis eletrizantes episódios que fisgam o espectador de primeira.
 
A narrativa é dividida em dois recortes temporais principais. A que inclui os acontecimentos que acabam perpassando toda a trama estão localizados no início dos anos 90, o que é pontuado inclusive pela trilha sonora, por meio de músicas como "Two Princes" (1993), do grupo Spin Doctors. Em um acampamento de verão de estudantes, Pawel Kopinski (Hupert  Milkowski) e Laura Goldsztajn (Wiktoria Filus) se arriscam a sair à noite para namorar na floresta do entorno quando escutam gritos aterrorizantes. Assustado, Pawel pede a Laura que retorne ao acampamento e vai atrás do ponto onde eles poderiam ter partido. 
 
Um salto de 25 anos traz Pawel nos dias atuais, agora incorporado por Grzegorz Damięcki. Ele é um promotor que recentemente ficou viúvo e cuida da sua filha pequena, Kaja, com a ajuda da irmã de sua esposa e do marido dela. Envolto em um caso de estupro no qual tem que pisar em ovos, já que os apontados como culpados são filhos de pessoas graúdas, Pawel se surpreende ao ser acionado por investigadores para fazer o reconhecimento de um corpo no Instituto Médico Legal. 
 
De pronto, ele não sabe de quem se trata. Até o passado voltar a dar as caras em sua vida: no citado acampamento, 25 anos atrás, os gritos citados balizavam uma tragédia que marcou para sempre a vida de todos os que ali estavam, naquele verão. Durante uma festa, quatro jovens que se aventuraram para fora do acompamento desaparecem. Nas buscas, apenas dois corpos são encontrados: o de Monika (Kinga Jasik), que está despido e com um corte no pescoço, e, em outro ponto, em meio às árvores, o de Daniel (Jakub Gola), com várias facadas.  O tempo passa e, embora os corpos dos outros dois jovens nunca tenham sido localizados, o entendimento é o de que, tal como os colegas, eles também estariam mortos. Um deles seria Kamila, justamente a irmã de Pawel. O outro, o de Artur (Adam Wietrzynski), filho da faxineira, Bozena. 
 
Mas há também complicações de outra ordem. Natália (Ewa Skibinska), mãe de Pawel e Kamila, e Dawid (Jacek Koman), pai de Laura, eram nada menos que os responsáveis pelo acampamento, assim como Pawel, um dos monitores. Não por outro motivo, teriam que zelar pela integridade dos estudantes ali reunidos. O fato de ao menos quatro deles terem saído furtivamente, à noite, rumo à floresta, já indicaria uma falha, uma omissão indesculpável.
 
À essa tragédia, somam-se outras de similar magnitude. Logo na sequência desses eventos, Natália abandona o marido e o filho. Perseguidos por antissemitas, Laura e o pai também se vão. Com a morte da esposa de Pawel quando a série alcança os dias atuais, não é difícil deduzir que o personagem central se tornou um homem amargo, o que só é atenuado com o afinco ao trabalho, o convívio com a filha, a organização social fundada pela mulher (agora tocada pela cunhada) e, num segundo momento, a reaproximação com Laura (na segunda fase, Agnieszka Grochowska, uma mistura de Luma de Oliveira com Erika Mader), quando a chama entre os dois volta a se acender - embora ela já esteja casada, no caso com o reitor da universidade na qual trabalha.
 
E essa reaproximação se dá justamente por conta do citado corpo encontrado, que, para surpresa geral, é, sim, de um dos jovens que se pensava ter morrido naquela fatídica noite do acampamento: Artur. Saber que ele esteve vivo todos esses anos ressuscita em Pawel a esperança de que sua irmã também tenha sobrevivido. Mas, no caso, o que teria acontecido a ela? Na verdade, o que teria ocorrido de fato naquela noite? Quem matou Monika e Daniel? O suspeito - Malczak (Krzysztof Zarzecki) - ,que acabou sendo preso? Ou ele foi apenas um bode expiatório escolhido para encerrar a contento o caso, à época, dando uma resposta à sociedade? O que motivou o crime? Por que a mãe de Pawel não quis levar o filho consigo, ao deixar o marido? Por que ao menos não se despediu do garoto?
 
Todas essas dúvidas do passado caminham ao lado da também já citada investigação da época atual, a de um estupro cometido por dois estudantes e filmado por outro, e que começa a afetar sobremaneira a vida de Pawel à medida em que o pai de um dos envolvidos, um jornalista famoso, começa a acuá-lo com ameaças e avisos velados. Ele vai resistir à pressão? Ao mesmo tempo, novas perguntas vão emergindo. Pawel e Laura voltarão a se envolver? Quem teria matado, agora, Artur? E mais uma vez: por qual motivo?
 
Avançar a partir daí sem se valer de spoilers é praticamente impossível. No entanto, vale destacar que o ritmo e a sucessão de fatos é tão bem trabalhada no roteiro (o que a gente supõe não ter sido tarefa fácil) que o espectador fica praticamente o tempo todo com a respiração em suspenso. 
Com uma ou outra exceção, o time de atores tem peso fundamental para o êxito da investida, em particular, Grzegorz Damiecki, o Pawel adulto. O trabalho de câmera também é primoroso - quantas belas e inventivas tomadas! O capítulo final praticamente elucida o crime na floresta, mas não coloca todos os pontos finais na miríade de acontecimentos. Seriam os fios soltos indícios de uma segunda temporada? Bem, a gente torce, ardentemente, para que sim.

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