Um diálogo entre as personagens Clara (Regiane Alves) e Helena (Priscila Sztejnman) exibido no capítulo desta segunda-feira (24) de Vai na Fé levantou no público a suspeita de que a autora, Rosane Svartman, usou o momento para mandar uma indireta contra à censura que as cenas do casal homoafetivo vem sofrendo ao longo da novela das 19h.
Na trama, a ex-modelo interpretada por Regiane engata um romance com a personal trainer após se separar de seu marido, o vilão Theo. Entretanto, o amor do casal tem sofrido, por exemplo, com cortes nas cenas de beijo, que foram substituídas apenas por troca de carinho.
Em uma cena exibida nesta terça-feira, o casal parte rumo à São Paulo, onde Clara va realizar um trabalho como modelo. Quando as duas entram no carro, o seguinte diálogo se estabelece.
Clara: Ai, amando essa nossa road trip. Tô me sentindo naquele filme Thelma & Louise
Helena: Ai, não, elas morrem no final!
Clara: Ai, verdade. Deixa eu te falar, Helena, eu tô tão sem roupa de frio para São Paulo. O que você acha da gente passar no shopping?
Helena: Shopping? Não, amor, a gente vai direto! É melhor.
O Rafa dizendo que elas fazem um casal LINDO! AHHHHHHH! Eu amo uma família.
— Relicário Sztejnman (@relicariodapri) July 24, 2023
🎥 Reprodução: TvGlobo/GloboPlay. pic.twitter.com/6P7NWPbwBV
Os elementos inseridos no texto levantaram no público a suspeita de que Rosane Svartman quis fazer um protesto, de forma elegante e inteligente, contra a censura que casais gays sofreram na teledramaturgia
"Duas referências sutis, mais importantes, acidente de carro e shopping. Muito perspicaz ter colocado isso no texto", comentou a internauta Ana Cecília Souza no vídeo da cena publicado por um fã de Priscila Sztejnman no Twitter.
Mas o que essas referências querem dizer no final das contas. Em Thelma & Louise (1991), as protagonistas que dão nome ao filme são melhores amigas que se tornam fugitivas após uma delas matar um homem. No final, as duas morrem ao se jogarem de carro em um penhasco.
E o que Thelma & Louise tem a ver com Clara e Helena? Poderíamos dizer aqui que, por causa da censura, o casal de Vai na Fé parece mais melhores amigas, como as personagens do filme, mas a citação parece ter uma motivação ainda sútil e se refere mais a morte do que a amizade.
Como assim? na opinião do profissional que vos escreve, Rosane Svartman fez duas claras referências a casais lésbicos que foram censurados em outras novelas brasileiras.
O primeiro foi Cecilia (Lala Deheinzelin) e Laís (Christina Prochaska) da novela Vale Tudo, de Gilberto Braga. Na trama de 1989, o casal lésbico viva junto, mas não era aceito pela própria família. Na época, a Censura Federal vetou diversos diálogos que deixavam mais explícita a relação homoafetiva entre as duas. Como previsto na sinopse, Cecilia morreu justamente em um acidente de carro, portanto o casal não teve um final feliz.
Nove anos depois, em Torre de Babel, de Silvio de Abreu, foi a vez do casal Leila (Sílvia Pfifer) e Rafaela (Christiane Torloni) sofrerem com a censura e, pior ainda, com a rejeição do público. Diante disso, as personagens foram eliminadas da história na explosão do shopping, que é o ponto central da novela.
Deste modo, Rosane Svartman pareceu querer avisar ao público que o casal Clara (Regiane Alves) e Helena (Priscila Sztejnman), que é muito querido pelos telespectadores, terá um final feliz e vivo em Vai na Fé, que encerrará seu ciclo na TV Globo no dia 11 de agosto.