Lançamento

Tutu com Tacacá desfila influências de Minas e do Pará em estreia fonográfica

Álbum autoral do grupo mineiro reúne oito faixas autorais e chegou às plataformas digitais nesta sexta-feira (26)

Por Bruno Mateus
Publicado em 26 de novembro de 2021 | 09:12
 
 
 
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“É um sonho antigo nosso. Somos muito fortes no palco, nosso show é muito dançante, mas as pessoas perguntavam porque não tínhamos um registro fonográfico”, diz Ana Luísa Cosse, vocalista do Tutu com Tacacá, que lança seu primeiro disco nesta sexta-feira (26). O Tutu com Tacacá, é bom explicar, nasce em 2016 fruto do encontro entre musicistas do Grupo Folclórico Aruanda, dedicado à pesquisa das culturas populares tradicionais do Pará. Antes da banda, esse núcleo de artistas criou o Bloco da Fofoca, que trouxe o carimbó para o Carnaval de rua de Belo Horizonte. Fofoca é uma vestimenta utilizada embaixo da maioria dos trajes das danças pesquisadas pelo Aruanda.

Formado por Ana Luísa Cosse (vocalista), Camila Menezes (baixista), Leléo Lima (percussionista), Marina Araújo (percussionista), Shari Simpson (flautista), Stênio Galgani (guitarrista) e Vivi Cosse (vocalista e maraqueira), o Tutu com Tacacá estreita, no álbum homônimo, as fronteiras entre Minas Gerais e o Pará, e mistura as influências do congado, da Folia de Reis e da catira mineira com a guitarra e o banho do carimbó paraense, criando um ritmo carregado de tambores, danças e folclore.

Antes do lançamento do disco, produzido por Luiz Camporez, o septeto já havia mostrado os singles “Canto de Moçambique/Tutu com Tacacá” e “Mineira no Carimbó” em agosto e outubro, respectivamente.

São oito faixas autorais, quase todas compostas antes da pandemia. “Viemos mineirizar” resume a essência musical e ideológica do grupo. “Essa música fala sobre a nossa voz, sobre o que pensamos, qual é o nosso propósito desde o início. Pesquisamos e estudamos o carimbó nortista, mais focado no carimbó do Pará, mas não somos um grupo tradicional. Somos todos mineiros e fazemos uma homenagem e uma releitura desse carimbó com influências de ritmos de Minas. “No Tutu nós apoiamos toda diversidade/ LGBTQI e gente de toda idade/ Aqui dança homem com homem e também ‘duas mulher’/ Não tem nenhuma regra, dança com quem cê quiser”, proclama a banda.

Viabilizado com recursos da Lei Aldir Blanc, “Tutu com Tacacá” foi gravado no Eremita Estúdio, localizado na casa do músico e produtor Luiz Camporez, que também assina os arranjos, a mixagem e a masterização do álbum.

“Resiste, Sempre-Viva” é mais um o manifesto sonora do grupo mineiro. A música nasceu nos atos políticos de 2018 liderados por mulheres e coletivos feministas, entre os quais o #EleNão, em 29 de setembro - poucos dias antes do primeiro turno das eleições presidenciais, portanto -, manifestação contrária ao então candidato Jair Bolsonaro. A analogia à flor Sempre-viva, endêmica do cerrado brasileiro, demonstra a resiliência dessas mulheres.

“Marielle Franco vive, sempre viva em cada mulher/ Que se coloca nas ruas para dizer o que ela quer/ Nossos direitos são frutos de luta/ Meu corpo, minha lei/ E para nenhum homem minha cabeça abaixarei”, versa um trecho da letra de Marian Araújo. A faixa tem participação de Lorena Lemos, militante do Levante Popular da Juventude, que declama uma poema no último minuto da canção. “Abaixo à misoginia e ao facismo eu digo não”, ela diz.

“Guarás” nasce de uma experiência muito particular da vocalista. Em 2017, ela e Ana faziam um passeio pela Ilha do Marajó, no Pará, quando a cantora avistou, pela primeira vez, num grande terreno com mato alto, vários pássaros vermelhos voando em disparada. “A coisa mais linda. Depois fui procurar saber e me falaram que eram guarás”, ela relembra. A cena ficou na cabeça de Ana e serviu de inspiração. No ano seguinte, ela mostrou a música à banda.

Com retoques na letra e nos arranjos, e a colaboração de Luiz Camporez, a canção, que nunca foi tocada ao vivo, agora ajuda a dar contornos ao álbum: “Pensei no Lobo-guará do cerrado de Minas Gerais e imaginei como seria o encontro desses dois guarás em uma roda de carimbó. Fiquei nessa viagem. Essa música é muito emocionante para mim”.

Para 2022, o Tutu com Tacacá planeja um show de lançamento do disco, embora ainda não tenham previsão de quando isso irá acontecer. “Estamos com muita saudade do palco”, comenta Ana Luísa Cosse. 

 

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