“O budismo é um estilo de vida”, define o reverendo Seino Choho Roshi, superintendente geral da missão do budismo Soto Zenshu da América do Sul, que estará em Belo Horizonte para dois eventos (ver agenda) nos quais os simpatizantes dessa tradição poderão tirar suas dúvidas em relação à prática milenar.

O Esotérico convidou a monja e psicanalista Bernadette Biaggi para dialogar com o reverendo sobre temas que suscitam dúvidas entre os leigos.

AGENDA: O reverendo Seino Choho Roshi vai participar do “Diálogo Zen”, no próximo dia 4, às 19h30. Inscrições (31) 99983-4578. No dia 6, das 8h às 14h, ele fará a palestra “Meditação e Silêncio”. Inscrições: (31) 99745-4450.

Finitude da vida

Reverendo Seino Choho Roshi: É algo que deveria ser aceito, e não pensado. Nós, humanos, sentimos a maior felicidade quando uma nova vida, que nunca existiu antes, nasce e cresce gradualmente, mas sentimos o maior infortúnio quando envelhecemos, adoecemos e morremos. No entanto, nascer, envelhecer, adoecer e morrer são funções da vida. Não há certo ou errado no nascimento, na velhice, na doença e na morte, pois são aspectos naturais da vida. No entanto, nós os julgamos segundo nossos sentimentos pessoais do que é bom ou mau. Quando pensamos no fim da vida como morte, existe vida precisamente porque existe morte. Cada momento da vida brilha porque ela é finita. Não devemos ter a ilusão de que o tempo é contínuo, do passado ao futuro. O tempo já está completo naquele momento. O passado se foi, não há o presente, e o futuro ainda não está por vir. Mesmo este momento presente já está no passado assim que você o reconhece. O fluxo do tempo é uma série de momentos descontínuos. Toda a existência repete nascimento e morte a cada momento.

O que é o ego?

Reverendo Seino Choho Roshi: Ele é incapaz de se controlar porque é arrastado pelos desejos e está numa situação em que passa a vida fazendo o que os desejos lhe dizem para fazer. As pessoas acham prazerosas as coisas que satisfazem seus desejos, e as coisas que não os satisfazem são desagradáveis. Qualquer coisa que satisfaça os desejos só é conveniente para a pessoa presa nos desejos, mas não significa felicidade. Não confunda conveniência com felicidade. O egoísmo é um estado mental e físico em que as pessoas acreditam erroneamente que conveniência é felicidade e continuam a buscar a conveniência, enquanto pensam que estão buscando a felicidade. Os ensinamentos do Buda argumentam que nós, humanos, não devemos erradicar todos os nossos desejos, mas ajustá-los adequadamente. Desejos excessivos podem levar à autodestruição e causar danos ao nosso entorno, enquanto desejos bem-equilibrados são a fonte do poder de sobrevivência. O budismo considera que toda a existência, incluindo pessoas e coisas, é determinada pelas relações entre si e, portanto, muda constantemente devido às relações e reconhece que não existe uma existência eternamente imutável e imortal.

O silêncio

Monja Bernadette Biaggi: O silêncio não é a ausência de som, mas a ausência do “eu”. O verdadeiro silêncio se manifesta quando abandonamos a ideia da sua existência em oposição ao ruído. Quando estamos no verdadeiro silêncio, experimentamos a quietude. Ele é inclusivo e, por isso, os ruídos são percebidos não como dualidade. O silêncio vai além de todas as ideias dualistas. Não pense no silêncio como ausência de barulho, de ruídos mentais e emocionais e de todos os ruídos ao nosso redor. O silêncio não é algo objetivo que se encontra fora de você.  Os ruídos como medos, incômodos corporais, ideias e tudo que te visita quando você se propõe a meditar são apenas projeções da sua própria mente. Quanto tempo você consegue se ausentar das próprias criações mentais que te aprisionam em um “eu” limitado e distante do “eu” original? Enquanto você procura o silêncio, existe um “eu” que ainda procura e está na dualidade. O verdadeiro silêncio é a verdadeira natureza original. Temos que nos entregar ao silêncio para ser o silêncio.

Meditação zazen

Monja Bernadette Biaggi: É um momento de auto-observação no qual nos aproximamos da mente original, desfazendo o autoengano. Uma consciência mais autêntica e intuitiva presencia o selo da impermanência, rompendo ideias rígidas e nos abrindo para o escuro do instante em que as possibilidades de expansão estão nos aguardando. Mergulhar nesse estado de consciência que presentifica o instante nos liberta do cativeiro do saber. O que se inaugura quando estamos presentes nos instantes da nossa existência? O universo da sabedoria se manifesta e despertamos a nossa espiritualidade. A mente intuitiva se manifesta em detrimento do excesso da mente sensorial. Sem sujeito e objeto distintos, o silêncio se manifesta. Não se trata da ausência de ruídos, mas da ausência do “eu” guiado excessivamente pelos órgãos dos sentidos e pelas criações mentais. Essa maneira de ser no mundo rompe paradigmas, e a consciência em expansão é a realidade. A sabedoria do instante guia nossos pés e a percepção da nossa existência.