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Foto: (Discriminação e agressões contra profissionais de apps viram rotina / Reprodução)

Motofretista José Monteiro Júnior foi agredido por cliente durante entrega no bairro Gutierrez, na região Oeste de BH

Discriminação e agressões contra profissionais de apps viram rotina

Casos de entregadores e motoristas agredidos por clientes e passageiros escancaram mais uma face das vulnerabilidades da categoria

Por Maria Irenilda Publicado em 1 de junho de 2023 | 08h00

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“Eles vieram pra cima de mim, e acabei caindo no chão. Me deram socos e chutes. Chamaram minha mulher de ‘passa-fome’”. O relato é do motoboy José Antônio Monteiro Júnior, agredido por clientes que se recusaram a fornecer o código solicitado para validar a entrega. A ocorrência foi no bairro Gutierrez, na região Oeste de Belo Horizonte, em abril.

Casos de entregadores e motoristas agredidos por clientes e passageiros no país escancaram mais uma face das vulnerabilidades da categoria que presta serviço para plataformas de mobilidade e delivery. 

Há 26 anos trabalhando como motofretista, Monteiro Júnior diz que ser maltratado por clientes na hora da entrega é rotina na profissão de entregador por aplicativo, porém foi a primeira vez que sofreu um ataque físico. “Foi revoltante. Entreguei o lanche, que o iFood depois me informou ter custado R$ 141, e eu não tinha feito nem R$ 40 na noite. Foi muita humilhação”, desabafa o profissional.

No mesmo mês em que José Monteiro Júnior foi agredido na capital mineira, outros dois profissionais foram atacados no bairro São Conrado, na zona Sul do Rio de Janeiro. Max Angelo dos Santos e a entregadora Viviane Maria sofreram insultos e agressões pela ex-atleta de vôlei Sandra Mathias.

A mulher se incomodou com a presença dos entregadores, quando passeava com o seu cachorro, e tentou chicoteá-los com a guia da coleira do animal. O caso foi filmado e chegou à mídia, gerando indignação em grande parte da população brasileira.

Não há dados oficiais sobre o número de profissionais de aplicativos agredidos durante o trabalho no Brasil. Na percepção de Edgar Francisco da Silva, presidente da Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil (Amabr), casos assim escancaram outra face das vulnerabilidades vividas por profissionais que trabalham por meio de plataformas digitais de entrega no país.

“Agressão física é algo mais recente, mas o entregador sendo maltratado, discriminado, isso sempre existiu”, comenta Silva, conhecido no meio como “Gringo”.

“Não sei se devido à pandemia, mas o pessoal ficou mais estressado. Acham que é uma profissão, aos olhos deles, marginalizada e que têm o direito de tratar como querem. Estamos vendo isso acontecer muito na parte do delivery”, observa o presidente da Amabr. 

Quem paga a conta?

As agressões ao motofretista José Monteiro Júnior e à mulher dele, que ajudava nas entregas, em Belo Horizonte, foram filmadas por vizinhos do condomínio, e o caso ganhou repercussão na mídia. Porém, um mês após o ataque, o que o profissional recebeu foram as contas dos prejuízos com o veículo avariado, dois dias sem trabalhar devido aos ferimentos na perna e traumas psicológicos. 

A moto de Monteiro Júnior, jogada ao chão durante a confusão, teve a manete e a antena quebradas e o tanque amassado: um custo aproximado de R$ 2.500. Pela entrega, o motoboy recebeu R$ 8.  A investigação do caso corre na 2ª Delegacia de Polícia Civil de Belo Horizonte.

Sem direitos

No Brasil, entregadores e motoristas que prestam serviço para empresas de economia compartilhada, como Uber, iFood, entre outros, não têm qualquer vínculo empregatício, consequentemente, nenhum direito, apoio ou ajuda em casos como esses. As plataformas ficam isentas de arcar com prejuízos e danos sofridos pelos profissionais durante o trabalho. 

Regras de segurança 

  • Atualmente, os motoristas de apps têm regras de segurança, e quem não as segue pode se envolver em situações desagradáveis. Entre elas estão: 
  • Não transportar somente homens;
  • Não fazer embarques se não é
  • possível identificar de onde o passageiro saiu em casos de corrida no meio da rua; 
  • Em comunidades periféricas, não embarcar o passageiro em ruas sem saída, geralmente esperar na esquina; 
  • Se é uma corrida para terceiros em nome de mulher e o passageiro é homem, ela é cancelada, exceto se houver aviso prévio pelo usuário titular.
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