“A América Latina tem uma grande riqueza gastronômica, e hoje vejo que há um setor da gastronomia que está buscando essas raízes, com os nossos produtos que se perderam em outros continentes e que hoje são a nossa maior potência”, afirma o chef Germán Sitz.
Ao lado de Pedro Peña, ele comanda o badalado Grupo Thames, que engloba sete restaurantes (por enquanto), sendo seis deles localizados na hoje famosa Calle Thames, um pulsante corredor gastronômico em Buenos Aires, na Argentina: José El Carnicero, La Carniceria, Paquito, Taquería, Chori e Niño Gordo – este ocupa a 43ª posição entre os 50 melhores da América Latina. Além do circuito, há o Los Jardines de las Barquín, que também pertence ao grupo e está localizado nos jardins do museu Fernández Blanco.
O que Germán diz sobre o continente faz todo sentido. Entre os 50 melhores restaurantes do mundo de 2023, dez estão na América Latina, espalhados por Peru (onde está o Maido, eleito o melhor do continente), Colômbia, México, Brasil e Argentina. A recente chegada do “Guia Michelin” ao país argentino também contribuiu para que os endereços despontassem no cenário mundial.
Mas, para que os holofotes latinos se façam justos, além de vontade para empreender, é necessária, por um lado, uma boa dose de camaradagem. “A união e o companheirismo entre os chefs potencializam muito a gastronomia de um país e os restaurantes em si”, acredita Germán Sitz. “A verdade é que eu tenho muitos amigos no Brasil, um país que eu amo”, diz, referindo-se a chefs como Tássia Magalhães, Thiago Bañares, Stefan Weitbrecht, Janaina Torres e Fabrício Lemos, amigos com quem já teve oportunidade de cozinhar lado a lado.
Por outro, para situar a capital argentina como um destino cada vez mais imperdível para amantes da boa comida, é preciso ter boas doses de criatividade e ousadia. Antes de ser eleita, em 2021, pela renomada revista internacional “Time Out” como uma das ruas “mais legais” do planeta, a Thames já estava na mira de Germán Sitz e Pedro Peña. Em 2014, eles abriram o La Carniceria (“açougue”, em tradução livre), oferecendo novas versões para a tradicional parrilla argentina.
Circuito
Em um tour guiado pelo próprio Germán Sitz, em que a reportagem de O TEMPO percorreu cinco dos seis endereços localizados na Calle Thames – daí o nome que batiza o grupo de estabelecimentos –, a primeira parada foi no Chori, endereço especializado no choripán (linguiça grelhada no pãozinho tostado), clássico da comida de rua nacional. Depois de passar pelo bar de tapas espanholas Paquito – com música flamenca ao vivo improvisada pelos jovens e uma croqueta de presunto com creme bechamel que derrete na boca –, foi a vez do La Carniceria, parrilla onde são servidos ojo de bife e bife de chorizo extremamente suculentos, além de outros belíssimos cortes de carnes, todos derivados da fazenda da família de Sitz, que fica em Rivera, na Argentina.
Atravessando a rua, bem em frente, está o José El Carnicero, proposta que trabalha carnes e outros ingredientes preparados na fogueira a lenha. O passeio termina no Niño Gordo, para provar o katsu sando, repaginado no tradicional sanduíche japonês, feito com bife ao ponto e brioche caseiro, temperado com maionese japonesa e molho tonkatsu.
Novos vizinhos aquecem o cenário
Depois da chegada do La Carniceria, em 2014, outros endereços diversos foram abrindo e transformando a Calle Thames, em Buenos Aires, em um corredor gastronômico. “A chegada de vários restaurantes na mesma rua acabou impulsionando a vinda de muitos mais comércios”, disse Germán Sitz.
Um deles é o Mengano, que chegou à Calle Thames em 2018 como proposta de ser uma casa inspirada nas clássicas bodegas portenhas, mas interpretadas pelas mãos do chef Facundo Kelemen. Os pratos são ideais para aproveitar a experiência gastronômica da melhor forma. “Geralmente, em uma bodega os pratos são grandes, para serem compartilhados. A minha ideia foi criar um ponto intermediário entre o que é um menu-degustação e um menu à la carte, para que os clientes possam experimentar uma variedade maior de coisas”, contou Facundo. Destacam-se no menu as empanadas fritas recheadas com cebola, pimentão e um caldo cremoso de carne que explode na boca, além do tartar de carne de cordeiro da Patagônia.
O local foi reconhecido, neste ano, pelo “Guia Michelin” com a categoria Bib Gourmand, que compila endereços ao redor do mundo que oferecem uma cozinha de boa qualidade e bom preço. “É um reconhecimento muito importante, ainda mais com a crise que atravessa a Argentina. Ter uma boa relação custo-benefício é algo que nos deixa muito felizes”, disse o chef.
*A repórter viajou a convite de Flybondi, Grupo Thames e Mengano