Assim como os belo-horizontinos, os japoneses também adoram um bar. Do outro lado do planeta, o boteco segue a mesma essência que a daqui: ambiente descontraído com bebida farta e uma grande variedade de petisquinhos no cardápio.
A diferença é que a cultura nipônica preza pelo uso do balcão, de onde os clientes observam o preparo dos pratos na cozinha e têm oportunidade de bater papo com quem prepara os tira-gostos.
Estes são os izakayas, que, em sua origem – que remonta ao século XVI –, funcionavam como pequenos comércios para a venda de saquê. Na etimologia de izakaya, “i” vem de sentar, e “sakaya”, de loja para saquê.
Aos poucos, as portinhas onde eram comercializadas a bebida foram tomando forma de bar. Isso porque os clientes sentiam necessidade de mastigar algo enquanto tomavam uma e outra dose de saquê para escolher qual marca levariam para casa.
Até que em 1940, com o fim da guerra, o conceito dos izakaya se estabeleceu a ponto de tornar um símbolo do país asiático. Hoje, no Japão, os izakayas são pontos quase obrigatórios entre as pessoas que querem dar uma relaxada depois do trabalho.
No Brasil, esse costume tem ganhado cada vez mais espaço. Os izakayas já são comuns em São Paulo, e esses estabelecimentos têm ganhado mais espaço em Belo Horizonte. O Dona Tomoko, no Carmo, foi um dos primeiros a trazer esse conceito para a capital.
Inaugurado em 2018, o estabelecimento fechou as portas dois anos depois por conta da pandemia. Desde então, outros izakayas surgiram na cidade, mantendo as características originais dos bares japoneses, mas acrescentando outras daqui.
Esse é o caso do Yokai. Localizado na rua Ceará, no Funcionários, o izakaya tem mesas na rua, tal qual manda o gosto do belo-horizontino.
“O público daqui ainda não está habituado a sentar no balcão, tem preferência pelas mesas na calçada. Por outro lado, quando vem para o Yokai, muita gente também tem percebido o quanto é legal sentar ao balcão, especialmente quando estão sozinhos ou em grupos menores. É muito interessante poder ver o preparo na cozinha”, comenta Caio Oliveira, que divide sociedade do Yokai com a amiga Karu Uemura.
Os dois trabalharam juntos no Tan Tan, famoso bar japonês de São Paulo. Depois que voltou para cá, Oliveira sentiu que a capital precisava de mais izakayas e chamou Karu, paulistana descendente de japoneses, para abrirem juntos o Yokai, que completou um ano no mês passado.
No cardápio, há apenas um prato principal, porque o foco mesmo são as entradinhas e os tira-gostos. Para beber, saquê, drinks e cerveja, tal qual a tradição japonesa. “Fazemos mudanças constantes no cardápio, e temos muitas opções vegetarianas que são até mais pedidas que a com carne, como o tempurá de couve-flor”, afirma Oliveira.
Na carta de petiscos, ainda se destacam os dumplings (bolinhos) recheados com sobrecoxa de frango ou porco e o sanduíche de fígado de frango empanado. “Nós apostamos na liberdade de criação da casa, mas exploramos muitos ingredientes que são comuns aos dois países, como quiabo e miúdos”, aponta Oliveira.
O Madō, no bairro São Pedro, também se inspira nos bares japoneses, mas não é um izakaya tradicional, como explica o chef Will Lima. “Madō significa janela: é um modo de espiar a cultura japonesa de izakayas dentro do que conseguimos oferecer em Belo Horizonte, com releitura de pratos típicos”, conta.
As estrelas do cardápio são as gyozas de boi e de cogumelos, recheadas e fechadas diante dos clientes, a língua de boi com tarê da casa e gema curada, a sobrecoxa frita (karageê) e os lámens.
Em relação às bebidas, o Madō têm saquês premiados, tanto em dose quanto em garrafa. “Trabalhamos também com os rótulos da cervejaria Japas, marca feita por três mulheres nipo-brasileiras de São Paulo”, diz Lima. Assim como o Yokai, o Madō é recém-inaugurado na cidade.
A casa, é claro, conta com o balcão, onde os clientes mantém uma relação de proximidade com a comida e com quem a prepara. “Acredito que a cozinha de balcão promove um sentimento recíproco de cuidado, afeto e aproxima os clientes do que eles vão consumir e de quem faz os preparos. A cozinha de balcão também serve para dar visibilidade para quem está trabalhando”, resume Lima.
Outro izakaya de Belo Horizonte é o Fugu, localizado no Funcionários. O destaque do cardápio são os grelhados, feitos na robata, a famosa churrasqueira japonesa. “O nosso lámen é o chefe da casa. Há, inclusive, pessoas que vêm de outras cidades apenas para comê-los. Trabalhamos com insumos frescos: recebemos peixes dia sim, dia não, além das ostras que são armazenadas vivas, e são o ponto forte da casa”, comenta o chef do Fugu, Victor Naddeo.
Além dos saquês, o Fugu oferece também os shochu, que são destilados japoneses. “São bem diferentes das bebidas destiladas ocidentais, porque têm um teor alcoólico mais baixo, são mais sutis e leves e podem ser feitas com outras coisas além do arroz, como da cevada envelhecida em carvalhos, de açúcar mascavo e de trigo sarraceno”, conta.
O balcão, na avaliação de Naddeo, é fundamental para entender o que o cliente procura. “Nós sempre rendemos longas conversas com os clientes, principalmente aqueles que são mais curiosos e que querem entender o que estão comendo. Então, temos a oportunidade de criar esse vínculo”, observa.
Quando foi inaugurado, pouco tempo depois da abertura do Dona Tomoko, o Fugu enfrentou certa resistência. “Muita gente vinha para cá procurando sushi e acabava decepcionado porque não é isso o que oferecemos”, lembra. Mas hoje Naddeo, que assumiu as operações em 2023, observa que o gelo se quebrou, e o belo-horizontino está muito mais afeito ao formato.
O Taika, no Belvedere, é outro izakaya que acrescentou a robata em seu dia a dia depois de passar por reforma. “Na grelha japonesa, servimos os espetos, e o mais tradicional é o de frango.
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Além disso, temos cardápios com pratos quentes tradicionais de izakaya”, conta o proprietário do Taika, Gabriel Rache. O ambiente do bar é descontraído, com muita música e informalidade. “Também temos uma carta de saquê variada”, afirma. Em setembro, o estabelecimento completa 10 anos.
SERVIÇO
Yokai
Rua Ceará, 1.599, Savassi
Funcionamento: quarta a sábado, das 18h às 22h30
Madō
Rua Major Lopes, 103, São Pedro
Funcionamento: terça e quarta, das 19h às 23h; quinta e sexta, de meio-dia às 14h30, e de 19h às 23h; sábado, de 13h às 15h30, e de 19h às 23h
Fugu
Rua Fernandes Tourinho 292, Savassi
Funcionamento: quarta e quinta, de 18h às 22h30; sexta, de meio-dia às 14h30, e de 18h às 22h30; sábado, de meio-dia às 22h30
Taika
Rua Juvenal de Melo Senra, 383, Belvedere
Funcionamento: terça a quinta, de 18h às 23h; sexta, de 18h a meia-noite; e sábado e domingo, de meio-dia a meia-noite