Sabe aquele momento em que a comida parece mais intensa e a cerveja ainda mais saborosa? Isso não é sorte - é harmonização. A técnica que une o universo cervejeiro ao gastronômico é um convite ao prazer e à descoberta. E, sim, tem tudo a ver com o nosso dia a dia. No centro dessa experiência está a busca pelo chamado terceiro sabor: uma nova percepção sensorial que só acontece quando bebida e prato se completam.

Harmonização é mais do que combinar sabores - é sobre equilibrar sensações

Talvez você nunca tenha parado para pensar, mas aquela cerveja que acompanha seu prato no almoço, o petisco do boteco ou até o queijo no fim da tarde pode oferecer muito mais do que refrescância.

Harmonizar é combinar cervejas e alimentos de forma complementar, transformando uma refeição simples em uma experiência enriquecida por aromas, texturas e novos sabores.

A sommelier Ana Paula Nicolino, mestre de estilos e especialista em análise sensorial do Grupo Petrópolis, explica que a base da harmonização é o equilíbrio. “Se a comida for muito intensa e a cerveja for mais leve, o sabor do prato ficará mais destacado. O contrário também é verdadeiro. Por isso, é importante equilibrar as intensidades dos dois lados”, destaca.

Um casamento à mineira

Minas Gerais é referência quando o assunto é queijo artesanal. Das versões mais frescas às maturadas da Serra da Canastra, o estado é um celeiro de sabores. E, embora o vinho ainda seja o par clássico, a cerveja vem ganhando espaço como uma companheira surpreendente para os queijos mineiros.

O sommelier Charleston Agrícola, gerente de categoria de cervejas da Ambev e primeiro homem preto da América Latina laureado com a certificação Cicerone, defende a harmonização como forma de valorizar tanto o queijo quanto a bebida.

“Ao combinar um queijo mais leve, como Minas Padrão, com uma cerveja suave, como a Original, obtemos uma combinação equilibrada e prazerosa. Já um queijo mais intenso, como os curados da Canastra, vai super bem com cervejas de maior complexidade, como a Ribeirão Lager, que traz notas cítricas”, explica.

Se a ideia for ousar, ele sugere os queijos azuis ou duros, como o parmesão, com IPAs mais potentes, como a Colorado Índica. “É uma harmonização cheia de personalidade”, resume.

Ana Paula reforça que a regra de ouro é respeitar a intensidade dos sabores. “Queijos mais leves pedem cervejas igualmente suaves. Já os queijos intensos combinam melhor com cervejas robustas”.

Da entrada à sobremesa: cerveja combina com tudo

Se o cardápio vai além dos queijos, a boa notícia é que o universo da harmonização também. A cerveja, por ser extremamente diversa - em corpo, cor, aroma, amargor e teor alcoólico -, se encaixa nas mais diferentes etapas de uma refeição.

Charleston Agrícola sugere começar pela memória afetiva. “Todo mundo já faz harmonizações sem perceber no dia a dia. Pipoca com Guaraná, café com leite, queijo com doce de leite ou goiabada… O segredo é buscar o ‘terceiro sabor’, aquele que nasce da junção da bebida com a comida”.

Na prática, ele dá o caminho:

  • Entrada: amendoim, bolinho de peixe e queijo coalho combinam bem com a Corona Zero; mandioca e batata frita também podem ser harmonizadas com o Brahma Chopp.
  • Prato principal: carnes vermelhas ou hambúrgueres suculentos pedem uma IPA mais amarga, como a Patagônia IPA. “Ela limpa o paladar da gordura e ainda conversa com sabores doces, como cebola caramelizada e molho barbecue do hambúrguer”, diz.
  • Sobremesa: torta de limão harmoniza com a leveza da Hoegaarden. E quanto ao chocolate com cerveja? Sim, por favor, obrigado! “Uma Caracu com chocolate ao leite é uma explosão sensorial. A cremosidade do malte torrado suaviza o doce, e vice-versa”, completa.

Harmonização com comida mineira? Tem também!

A tradição gastronômica de Minas oferece um terreno fértil para harmonizações criativas e saborosas.

A sommelier Bruna Nunes, mestre de estilos e especialista em análise sensorial do Grupo Petrópolis, sugere combinações já testadas e aprovadas:

  • Entrada: os clássicos da comida di buteco vão muito bem com a Petra Origem e o torresmo fica perfeito com a Petra Origem Premium.
  • Prato principal: feijão tropeiro com Petra Aurum; frango com quiabo com Petra Weiss; feijoada com Petra Schwarzbier; e canjiquinha com costelinha com Petra Premium Dark.
  • Sobremesa: o doce de leite mineiro ganha ainda mais intensidade com a Petra Stark Bier. “A cremosidade da cerveja se combina com a untuosidade do doce, criando uma explosão de sabores no paladar”, recomenda.

Bruna Nunes também destaca um ponto essencial: o tempero. “Na hora de harmonizar, é importante considerar os temperos e o sabor final do prato. Degustar os dois, comida e cerveja, com atenção é o que permite encontrar o terceiro sabor”.

Cerveja é afeto, cultura e descoberta

Num país tropical como o Brasil, a cerveja se firma como mais que uma simples bebida. Ela é versátil, democrática e, acima de tudo, humana. “A cerveja é cultura brasileira, é ponto de encontro, é história em copo”, resume Charleston Agrícola.

Então, na próxima vez que estiver com a geladeira cheia de rótulos e uma tábua de queijos à mesa, experimente fazer harmonizações. Não apenas para beber, mas também para sentir, descobrir e viver um universo de sabores ao seu alcance.

* Estagiário sob supervisão de Renata Evangelista