Comida boa e farta, música boa, receitas ao vivo, feira com produtos artesanais e aulas de gastronomia. Esse foi o saldo do Festival Fartura Dona Lucinha, que aconteceu em Serro, entre os dias 2 e 3 de agosto (sábado e domingo), na Praça João Pinheiro. O evento, com entrada gratuita, teve como pano de fundo a charmosa Igreja Santa Rita, com sua famosa escadaria, e montanhas da Serra do Espinhaço.
A próxima edição do Fatura, desta vez em Tiradentes, acontecerá entre os dias 22 e 31 de agosto, na cidade do Campo das Vertentes, e ocupará o Largo das Forras, a Praça Santíssimo e a Praça da Rodoviária. O acesso aos espaços também é gratuito e inclui extensa programação a ser divulgada em breve.
Como de praxe, o Fartura do Serro, que está em sua quarta edição, homenageou Dona Lucinha, nascida na cidade e figura reconhecida por sua contribuição à preservação da cozinha tradicional do estado. Estiveram presentes duas filhas delas, Heloísa e Elzinha Nunes, que comandaram uma cozinha de quitutes bem mineiros. O Queijo do Serro é um patrimônio cultural imaterial do Brasil, reconhecido pelo Iepha-MG em 2002 e pelo Iphan em 2008.
Heloísa contou que fica muito feliz com a homenagem à mãe e que toda a família se envolve nesse processo. “Todos os filhos participam da homenagem, e assim ela permanece viva. Além disso, aqui são mais de 300 anos de história”, afirma.
Diretor de produção do Fartura, Guilherme Sânzio avalia que o evento já entrou no calendário do Serro, famosa pela sua produção de queijo. “Cada vez mais, há uma abertura por parte da população para experimentar novos sabores, mas feitos com produtos locais. A nossa ideia é promover uma experiência gastronômica", salienta. Em sua avaliação, o festival traz também algo além da gastronomia. "A comida é algo muito forte que vai além de se alimentar: ela dá emprego, gera oportunidades de emprego, e o Fartura é prova viva disso”, salienta.
Na avaliação dele, festivais como o Fatura valorizam e estimulam a autoestima de quem produz a gastronomia feita no Estado. “A cozinha mineira é comida de primeiro escalão, que não perde para ninguém. A gente precisa deixar de ficar escondido no meio das montanhas. Entendemos que nossa comida é arte e é mundial. É feita com insumos básicos, mas muito bem feita”, aponta.
Programação prezou pela tradição
Ao longo do festival, o público pôde escolher entre os pratos servidos por chefs e produtores de diferentes regiões de Minas Gerais; acompanhar de perto as Cozinhas ao Vivo, em que os chefs produzem pratos autorais em tempo real; assistir a aulas e debates sobre ingredientes, modos de fazer e tradições alimentares. Além disso, o festival contou com feira de alimentos e itens artesanais da região, no Espaço Produtos e Produtores.
Curadora gastronômica do Fartura, Carolina Daher aponta buscou manter as tradições do Serro. “Penso sempre numa curadoria que respeite a tradição da cidade. É óbvio que, como um evento de gastronomia, preciso trazer novidades. Mas também valorizando a produção local. O que eu procuro fazer aqui é isso: apresentar o que eles já conhecem, do que gostam, mas de um jeito diferente, mostrando que esses ingredientes são tão ricos que cabem em qualquer grande cozinha”, diz.
Isso é importante, na avaliação de Carolina, porque gastronomia tem a ver com pertencimento. “Nem gosto tanto dessa palavra ‘gastronomia’, porque acho que ela faz um recorte, como se poucas pessoas tivessem acesso a isso. Mas, no fim das contas, gastronomia é comida, e comida é para todo mundo: não existe recorte nem tem direcionamento social. E eu acho que, quando conseguimos mostrar que o que você tem dentro de casa é gastronomia, que quando você faz aquilo com cuidado, com técnica, você entende que o que você faz tem valor. Cortar couve na mão é técnica brasileira, mineira, maravilhosa. Pique-frita é técnica nossa. O frango super dourado da minha mãe é técnica. Então, acho que a nossa função é essa: mostrar que o que a gente faz aqui é técnica, é gastronomia”, aponta.
O chef Caio Soter também ressaltou a importância de valorizar o que “há em casa”, tanto na aula ao vivo quanto em sua aula. “A gente continua cozinhando as mesmas coisas de 200 anos atrás, só que hoje colocamos num prato mais bonito, com mais cuidado nos processos. E, graças a Deus, tem dado super certo. No Pacato, por exemplo, chegamos a ser ranqueados como o 11º melhor restaurante do Brasil. Nesses quatro anos, conseguimos convencer muita gente a trocar o desejo por comida internacional, como massa ou risoto, pela vontade de comer uma boa galinhada, um frango com quiabo, um porco com mamão verde... e tudo isso num restaurante chique. Antes, as pessoas achavam que momentos especiais exigiam comida de fora. Isso é um reflexo da nossa famosa síndrome de vira-lata: essa ideia de que tudo o que vem de fora é melhor”, falou.
Também estiverem presentes Dona Mariinha e Seu Pedro, representantes de uma das cozinhas mais tradicionais do Serro; Igor Anaxágoras, que desenvolve um trabalho autoral e criativo em Belo Horizonte; Ugo Borges, da Charcuteria Sagrada Família, em Montes Claros; Adriana Fernandes, à frente do Santa Matula, em Ouro Preto; Mauro Bretas, da Casa de Babete, em Milho Verde; Rodolfo Mayer, do Angatu, em Tiradentes; e Higor Freitas e Cida Machado, representantes da Aprocan – Associação dos Produtores de Queijo Canastra, que divide com o público o conhecimento sobre um dos ingredientes mais emblemáticos de Minas.
O público também contou com programação artística variada para a família toda. Houve apresentação da Banda Folk, Elaine Abras canta Almir Sater; Felipe Pinheiro e Fernanda Signorini com o show "Candiêro", Iukerê, Chorinho de Gafieira, Forró du Rapadura e Menucci DJ.