Nas memórias da sua infância e nas referências das cozinhas e receitas da sua família, quem são as principais personagens à frente do fogão? Provavelmente sua avó, sua mãe ou suas tias, certo? Essa é a realidade da maioria dos lares brasileiros. Mas, embora as mulheres sejam as grandes responsáveis pelas refeições no ambiente doméstico, a representatividade delas no comando de cozinhas profissionais é mínima.

Segundo dados do IBGE, de 2022, quase 96% das mulheres cozinham, servem a comida e lavam a louça em casa, cenário que se inverte da porta de casa para fora: apenas 7% das cozinhas dos restaurantes mais prestigiados do Brasil são chefiadas por mulheres, de acordo com o portal especializado Chef’s Pencil.

Essa disparidade será tema central do painel “O fogo alto do empoderamento: o protagonismo feminino na gastronomia”, que ocorrerá no próximo dia 29, no Seminário O TEMPO Gastrô, no Mercado de Origem, no bairro Olhos D’Água. Com mediação da jornalista e curadora gastronômica Lorena Martins, o debate contará com as chefs Cafira Foz, do restaurante Fitó, em São Paulo, e Bruna Martins, dos restaurantes Birosca e Florestal, em BH, abordando os desafios e as conquistas das mulheres no universo gastronômico.

O painel promete ser um espaço de discussão essencial, reunindo experiências marcantes e reflexões necessárias sobre os caminhos que ainda precisam ser trilhados para garantir a equidade no setor.

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De alma piauiense com raízes no Ceará, Cafira Foz é diretora criativa e sócia do Grupo Fitó, que conquistou duas menções no Guia Michelin. Sua relação com a cozinha começou ainda pequena, quando se mudou para Teresina, onde teve o primeiro contato com práticas e rituais culinários que hoje norteiam o seu trabalho.

Fundindo ancestralidade e elementos naturais de forma contemporânea, a chef transformou a cozinha em uma extensão de seu lar: um espaço onde preserva as tradições sertanejas sem perder sua essência cosmopolita, enriquecida por experiências de viagens pelo mundo afora.

Ela acredita que os desafios enfrentados pelas mulheres vão além da escolha profissional e refletem as desigualdades de gênero presentes na estrutura social como um todo. “Falo de acessos, investimentos e apoios para abrir e manter seus negócios abertos”, afirma.

Segundo ela, um dos maiores desafios ao longo de sua trajetória foi manter a sanidade mental diante das adversidades impostas pelo ambiente de trabalho, embora reconheça a existência de uma comunidade que a apoia. “Pode até parecer brega ou piegas, mas é a mais pura verdade. Ter força para enfrentar o dia a dia de uma realidade posta a mim, que sou mulher”.

Ela destaca que a inclusão feminina na gastronomia ainda precisa evoluir muito para que mudanças reais comecem a impactar a realidade nas cozinhas. “Ainda vemos uma disparidade de gênero. Acho que a mudança principal deve ser nas culturas empresariais, de perceber e reconhecer que nós, mulheres, temos necessidades diferentes e que precisam ser contempladas para nossa permanência no trabalho”, defende.

Quando questionada sobre a importância de discutir o protagonismo feminino na gastronomia neste momento, Cafira reforçou que os números mostram a urgência da pauta. “A maioria das cozinheiras do Brasil são mulheres que produzem esse trabalho dentro de casa e de forma não remunerada. Quando elas partem para o mercado profissional, se tornam chefs ou ocupam cargos em diferentes áreas. Discutir como esses espaços são administrados e quais culturas empresariais estão sendo criadas é essencial”, afirma.

Para a chef, um ponto essencial, que deve ser levantado no debate durante o Seminário O TEMPO Gastrô, é ir além de garantir a presença das mulheres nas cozinhas, entendendo a necessidade de oferecer qualidade de trabalho. “Tivemos um período pós-pandemia, em que muitas questões emergiram. A profissão nas cozinhas que era desvalorizada, envolvendo maus-tratos, horas e horas de trabalhos incessantes que não se configuram, as pessoas não querem mais viver assim, não merecem viver assim”, argumenta.

“Acredito que precisamos ir além nas discussões: não é só sobre manter as mulheres trabalhando, mas sim sobre oferecer condições que permitam que elas prosperem”, pondera.

Memória e inovação

A chef mineira Bruna Martins também participa do painel. Com mais de 15 anos de trajetória no setor gastronômico, ela é uma das principais chefs mineiras da atualidade, reconhecida por uma cozinha que concilia memória com inovação, colocando a tradição da culinária mineira em diálogo com tendências mundiais.

Em 2013, Bruna abriu as portas do Birosca S2, em Belo Horizonte, e, oito anos após o seu primeiro restaurante, investiu em uma nova empreitada: o Florestal. A mineira também participou do programa “Mestre do Sabor”, da Rede Globo, e do programa de Anthony Bourdain, o “Parts Unknown”, sobre Minas Gerais. Além de já ter estampado matérias em grandes jornais e revistas, incluindo o “The New York Times”. 


SERVIÇO
O quê. Seminário O TEMPO Gastrô
Quando. 29 e 30 de outubro, das 13h às 20h
Onde. Mercado de Origem (rua Adriano Chaves e Matos, 447, Olhos d’Água)
Quanto. Gratuito, mediante retirada de ingressos pelo site Gofree