“A gente se sente inspirado por uma imagem para decidir se vamos comer um prato?”. Essa foi a pergunta feita pela jornalista e curadora do Seminário O TEMPO Gastrô, Lorena Martins, aos participantes do painel “De comer com os olhos: a força da imagem e das redes sociais na gastronomia”, que encerrou o evento na noite desta quarta-feira (30), no Mercado de Origem de BH. Participaram da conversa a fotógrafa e documentarista Nani Rodrigues e o jornalista gastronômico Nenel Neto.

A fotógrafa respondeu à pergunta, destacando o seu próprio trabalho. Ela contou que, antes de se tornar fotógrafa de gastronomia, era documentarista, e isso influenciou diretamente na forma como ela lida com as imagens. “Nós só trabalhamos com comidas reais. Talvez a foto de apresentação será ligeiramente diferente, mas sempre pensamos que o prato deve mostrar tudo o que a receita oferece. Por isso, quando faço um vídeo ou uma imagem estática, tento transmitir a atmosfera do lugar, que inclui sons de pratos, por exemplo”, apontou. 

Nenel concordou com Nani. “Nós estamos aqui falando do que é real ou não, e, pode até parecer papo de coaching, mas um restaurante precisa passar verdade. Quando estou no Instagram, fico observando perfis de gastronomia que divulgam restaurantes. Muitas vezes, as imagens vêm de uma maneira que as pessoas não acreditam, porque se você abre os comentários, têm várias pessoas falando que a comida não é daquele jeito. Então, se posso dar uma dica aos restaurantes é: sirva o real”, aconselhou o jornalista.

No debate, eles falaram também sobre o "instagramável", ou seja, lugares pensados como chamariz para viralizar conteúdos nas redes sociais. “As pessoas estão divulgando tudo o que elas estão comendo o tempo inteiro em suas redes. Mas eu acredito que a comida é que instagramável, porque ela precisa estar posta de maneira que o cliente a entenda bem. Tenho preocupação com esse termo porque o que é instagramável não é necessariamente bom. Você pode, sim, ajudar seus clientes a fazer fotos boas, mas isso não precisa ser o norte do seu restaurante”, indicou Nani. “Porque, se for assim, a comida mesmo fica em 12º lugar”, completou Nenel.

Os participantes do painel também falaram sobre o cardápio digital, alvo de polêmicas, e na influência dele na hora da escolha de um prato. “Não que eu seja contra QR Codes, mas acredito que eles são menos acessíveis. No entanto, vejo um lado positivo: a possibilidade de usá-los como uma página do Instagram, com imagens e informações completas dos pratos. A melhor opção é sempre ter os dois tipos de cardápio, impresso e digital. Mas entendo que a impressão com fotos pode ser cara, especialmente para estabelecimentos com cardápios que mudam com frequência. Por isso, acredito que ter um cardápio no Instagram é uma ótima alternativa, porque permite que o cliente tenha acesso a tudo que está disponível”, indicou Nani. 

Nenel, por sua vez, torceu o nariz. “Pensa: passei o dia inteiro grudado no celular. Quando chego no restaurante, ainda preciso pegar no aparelho, daí, chega uma mensagem no WhatsApp e abro o aplicativo. De lá, vou para o Instagram e para O TEMPO para ler as notícias. Nisso, já se passaram 40 minutos. É preciso aprender a conviver com a tecnologia sem deixar que ela tome conta da vida”, salientou.

Imagens do Instagram estão saturadas?

Um dos pontos levantados no painel “De comer com os olhos: a força da imagem e das redes sociais na gastronomia” é a possibilidade de haver saturação de tantas imagens iguais no Instagram. Dessa maneira, não significa que todos os estabelecimentos que estejam nas redes sociais vão necessariamente performar bem. “Existe um fator saturação muito grande. Quando você rola no Instagram, já pensa: ‘preciso comer aquele novo frango frito, tenho que comer o hambúrguer de tal lugar’. Mas, no fim das contas, eu vou para o hambúrguer que fica a um quarteirão da minha casa e que não trabalha em nada com o digital”, apontou Nani Rodrigues.

“As pessoas estão cansadas de ver tudo no digital. Além disso, há espaços que estão ficando famosos por um prato só. O Kaol, do Café Palhares, por exemplo, se tornou tão icônico que o café é conhecido é somente por esse prato. Hoje, inclusive, você vê mais turistas lá do que locais – mas não há problema nisso”, ponderou Nenel. 

O jornalista contou ainda que o que mais o inspira a visitar um lugar é a história por trás dele. “Quando vejo um perfil em que há uma pessoa explicando uma história, isso me atrai muito. Também gosto muito do food porn, como quando alguém corta um ovo, e a gema escorre”, brincou o jornalista. “Se eu não conheço um restaurante, gosto muito de pesquisar as fotos no Google, porque lá não há uma preocupação grande com a parte imagética, finalizou Nani.

Culinária

Durante os painéis, a chef Nathalia Fernandes, do restaurante É Vero, preparou Garganelli alla Boscaiola, penne ao molho de linguiça artesanal, cogumelos italianos e creme de leite. Novamente, um aroma de comida boa sendo preparada ao vivo invadiu todo o rooftop do Mercado de Origem, e os participantes puderam experimentar o prato em um dos intervalos. Além disso, os participantes também puderam degustar produtos diversos, como queijo, limonada, doces, licores, sorvete, pão de queijo e requeijão.

O seminário chegou ao fim com o show de Bárbara Góes, que se apresentou com um repertório que contemplou divas pops internacionais e algumas brasilidades. As referências musicais e inspirações da cantora passam por Joss Stone, P!nk, Adele, Amy Winehouse, Aretha Franklin, Janis Joplin, entre outras.