57 milhões de votos
Bolsonaro supera polêmicas e atentado para virar presidente
Eleito, capitão da reserva encontrará uma série de desafios à frente do Brasil
28/10/18 - 23h26
Cinquenta e dois dias depois de ficar entre a vida e a morte após sofrer um atentado a faca em plena campanha, Jair Bolsonaro (PSL) tornou-se nesse domingo (28), com 55,13% dos votos válidos, o 38º presidente eleito democraticamente do Brasil. Uma vitória que representou o triunfo do sentimento antissistema sobre o desgate das históricas polêmicas nas quais o capitão da reserva de 63 anos se meteu ao longo de sua vasta carreira parlamentar.
Para tornar-se presidente da República, cargo que ocupará a partir do dia 1º de janeiro, Bolsonaro superou os graves ferimentos causados pelo golpe de Adélio Bispo de Oliveira, uma intensa campanha de desconstrução promovida por candidatos do centro e da esquerda, ao longo do primeiro turno, e uma reação forte da militância petista na reta final da campanha.
Para conquistar o mais alto posto da política do país, o deputado federal pelo Rio de Janeiro adotou uma estratégia inusual, principalmente após o atentado. Deu menos entrevistas, praticamente suspendeu as atividades de rua, abdicou dos debates e permaneceu visível apenas na internet, em lives feitas para rebater adversários e promover seu discurso ideológico e totalmente focado no antipetismo que dominou o país.
No governo, Bolsonaro, que um dia disse que as minorias teriam que se curvar às maiorias, terá a missão de conquistar a maior parte do eleitorado do país, que optou por seu adversário, votou em branco ou nulo ou nem sequer compareceu às seções de votação para exercer seu direito de escolher.
Bolsonaro teve 57,7 milhões de votos no universo de 147 milhões de eleitores do país. Seu adversário registrou 47 milhões.
Os desafios serão muitos para o futuro presidente. Passam, inclusive, pela inexperiência em cargos do Executivo. Após sua carreira no Exército, o capitão foi vereador por um mandato e deputado federal por sete legislaturas. Acostumou-se a fazer parte do chamado “baixo clero” da Câmara e nunca viu o verdadeiro poder de perto.
Como vidraça, Bolsonaro também terá que decidir se modera o discurso e sai da ofensiva, principalmente contra as instituições democráticas no país. Haja vista a primeira manifestação espontânea após a vitória, o capitão da artilharia terá que lutar contra os próprios instintos. Minutos após a consagração nas urnas, em vez de comemorar, disparou contra a imprensa e os adversários. Trocou também as entrevistas por um pronunciamento na internet, evitando responder perguntas, tal como fez na maior parte da campanha.
Mais tarde, em discurso lido, foi mais conciliador, prometendo liberdade política e união no país e fazendo, inclusive, acenos a um novo pacto federativo, pauta tão cara a Estados e municípios quebrados pela concentração de renda nas mãos do governo federal.
“Nosso governo será formado por pessoas que tenham o mesmo propósito de cada um que me ouve, de transformar o Brasil numa livre e próspera nação. Liberdade é um princípio fundamental. Liberdade de ir e vir, de andar nas ruas, liberdade de empreender, liberdades política e religiosa, de fazer escolhas e ser respeitados por elas”, disse Bolsonaro no Rio de Janeiro.
Mas não apenas ao próprio Bolsonaro se apresentam os desafios a serem enfrentados pelo presidente eleito. Os maiores deles fazem parte da situação difícil pelo qual passa o Brasil, com 13 milhões de desempregados, contas em frangalhos e uma enorme crise moral.
Experiente parlamentar, o político também precisará lidar com a maior fragmentação da história da Câmara dos Deputados. Jurando evitar indicações políticas, terá que arrumar outra maneira de lidar com o apetite daqueles que conduzem os rumos do Legislativo. Até hoje, quem não conseguiu fazê-lo acabou ficando pelo caminho.
Para enfrentar todos os obstáculos, Bolsonaro tem ao menos um trunfo: sua militância é aguerrida e tende a ser a força a pressionar pela aprovação de pautas de seu interesse no Congresso Nacional. Para que isso perdure, porém, terá que fazer valer até o fim o sentimento de mudança que o elegeu.
O resultado
57 milhões de votos teve Jair Bolsonaro nas eleições desse domingo (28)
47 milhões de votos registrou Fernando Haddad, o segundo colocado
2,5 milhões de eleitores votaram em branco no segundo turno
8,6 milhões de eleitores anularam seu voto na disputa desse domingo (28)
116 milhões de eleitores depositaram seus votos nas urnas nesse domingo (28)
31 milhões de brasileiros deixaram de comparecer ao segundo turno