O apetite sexual nem sempre é uma constante e, assim como outros desejos, também pode sofrer variações ao longo da vida. Conforme a psicóloga e sexóloga Bruna Coelho, essas alterações nunca acontecem sem que haja um motivo. “Sempre existem eventos externos geradores de estresse, preocupações relacionadas a outras áreas da vida, luto, dificuldades financeiras, mudanças hormonais, problemas de comunicação com o parceiro, perda da admiração, entre outros”, lista. Um relacionamento mais longevo também pode sofrer impactos, já que, com o tempo, é comum que os estímulos fiquem mais escassos ou costumeiros, a ponto de não haver mais o despertar do desejo. Mas quando apenas uma das partes nota que a libido já não anda mais a mesma, como o casal deve agir?

No caso do designer gráfico Alexandre Martins e do fisioterapeuta Jefferson Santos, a solução para a diferença no desejo sexual de ambos foi a comunicação. Embora o apetite sexual menos intenso seja uma característica da própria personalidade de Jefferson, ele conta que os dois tiveram que buscar soluções para que as necessidades do casal fossem atendidas na relação. “O Alexandre sempre teve mais apetite do que eu, e isso nunca foi um problema. Mas havia uma situação que me incomodava, que era o fato de ele gostar muito de transar pela manhã e eu preferir dormir”, conta. 

Ele lembra que, em determinado momento, decidiu falar que isso o incomodava e, às vezes, também dizia que não curtia muito a situação. “A partir disso, ele meio que parou de me procurar e a gente só transava se eu o procurasse. Virou uma coisa meio 8 ou 80, e então foi preciso muito diálogo para poder acertar as coisas”, lembra.

A abertura do relacionamento foi uma das mudanças que contribuíram para que a situação ficasse mais equilibrada. “A regra que temos hoje é que só podemos ficar com um terceiro se forem os dois juntos. Não temos essa abertura de procurar, cada um de nós, outro parceiro”, explica Jefferson. 

A compreensão de que um bom relacionamento pode ir além da questão sexual também foi importante para que os dois se adequassem às diferenças. “Por mim, eu transaria todos os dias, até mais de uma vez se desse, mas para ele não é assim que funciona. Mas a gente aprende a respeitar o espaço do outro e entender que o sexo é fundamental, mas não é a base de uma relação. Acima do tesão, a gente se ama, estamos construindo uma vida juntos”, afirma Alexandre. “Para além disso, todos somos pessoas diversas. Não vai existir outro eu e, em algum relacionamento, eu poderia ser a pessoa que gosta menos. E aí, como ficaria se eu estivesse no lugar dele? No final das contas, é isto: respeito ao limite do parceiro, empatia e amor”, complementa o designer.

O contexto em que as diferenças na libido tornam-se mais acentuadas também é importante. É isso o que observa a sexóloga Allys Terayama. “Podem existir situações em que a pausa da atividade sexual acaba sendo necessária, pode ser a maternidade, alguma cirurgia ou algum problema que envolva uma questão psicológica. Nesses casos, há um apoio clínico, mas também é preciso ser companheiro dessa pessoa, ter cuidado, respeito”, orienta. A conversa também é válida quando há uma perda de interesse por alguma das partes do casal. “Quando você não tem tesão pela outra pessoa, quando não há mais nenhuma troca de carinho, mas apenas um costume com a presença, fica muito difícil. Então é preciso que o casal chegue a um consenso, que eles conversem, analisem onde foi que se perderam”, afirma. 

Quando o sexo se torna mais difícil, buscar formas de apimentar a relação e tornar o sexo mais satisfatório também é válido. Allys pondera, porém, que é importante que o casal esteja preparado para as situações que possam surgir. “Se o casal resolve comprar uma fantasia e a pessoa aparece vestida de uma forma diferente, pode ser um impasse muito grande, você não vai reconhecer a pessoa que está vendo no espelho e vai criar um personagem para poder fazer, mas vai estar disposto a isso? A criar personagens para ter performance no sexo?”, exemplifica, reiterando a importância de que haja diálogo e que os parceiros se sintam confortáveis com as práticas experimentadas. 

Quando vale procurar ajuda de um profissional?

Segundo a sexóloga Allys Terayama, a busca por ajuda é válida ao primeiro sinal de que algo mudou na relação. “O primeiro passo seria um atendimento clínico. É preciso passar por um médico, checar a questão hormonal, descobrir se há algum problema de saúde acontecendo ou algo psicológico”, afirma. 

A ginecologista Maria Sode, da Unimed Araxá, reforça o coro, pontuando que quando a libido baixa passa a ser uma queixa, quando vira motivo de brigas, discussões ou afeta a autoestima da pessoa é importante que ela seja investigada por médicos e terapeutas. “Existem tratamentos hormonais, fitoterápicos, terapias e outras opções que podem melhorar a qualidade de vida do casal”, afirma.

A médica Laura Elias Soares de Arruda, residente de ginecologia e Obstetrícia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto da USP reitera a importância da busca por ajuda, pontuando que a procura por um especialista é sempre recomendada, independente da intensidade das queixas ou dos problemas enfrentados em relação à sexualidade. 

Tanto para homens quanto para mulheres, é essencial buscar ajuda médica diante de qualquer problema sexual. “A avaliação será feita como um todo, levando em conta as experiências atuais e prévias, além de comorbidades, medicações em uso e questões emocionais, psíquicas e da relação conjugal”, explica. Ela acrescenta ainda que, frequentemente, o acompanhamento é realizado em conjunto com profissionais de saúde mental.

Laura ressalta, porém, que o desejo sexual é uma interação complexa, que inclui fatores biológicos, psíquicos, cognitivos, emocionais e interpessoais, por isso não existe uma resposta sexual “correta” ou “mais adequada”. “É totalmente individual”, reitera. “E, desde que não seja um problema para a pessoa e que não haja nenhum fator causal, essa questão pode ser apenas uma característica pessoal ou até mesmo da família e da cultura em que foi criada”.