O uso de vibradores faz bem à saúde física e mental feminina. Estudos como o publicado na revista norte-americana “The Journal of Urology” comprovam que o brinquedo sexual melhora a saúde do assoalho pélvico, reduz dores na vulva e evita incontinência urinária.

Além disso, o orgasmo pode contribuir para diminuição do estresse e melhorias do humor, do sono e até da circulação sanguínea. Sem contar que os vibradores podem servir como uma ferramenta poderosa para a descoberta da própria sexualidade. Mas existe uma idade certa para introduzir um sex toy à rotina?

A pergunta pode surgir entre pais e educadores de crianças e adolescentes, especialmente quando o tema é abordado por celebridades, como foi o caso de Cláudia Raia. A atriz revelou, em entrevista ao programa “Goucha”, transmitido por um canal de TV de Portugal, que deu um vibrador para a filha Sofia, hoje já adulta, em seu aniversário de 12 anos.

“Tenho 17 vibradores em casa e, quando a Sofia fez 12 anos, eu dei um vibrador para ela e disse: ‘Vá se investigar, vai saber do que você gosta’”, disse. Após a repercussão do caso, a atriz veio às redes para se defender, dizendo que seu comentário foi tirado de contexto, uma vez que sempre incentivou o diálogo aberto com seus filhos “sobre todos os assuntos, incluindo educação sexual, de forma respeitosa e apropriada para cada idade.”

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Na avaliação de especialistas, não existe idade certa para começar a usar vibradores. Isso porque, em vez de se observar a idade cronológica de um adolescente, é importante avaliar o seu desenvolvimento psicossexual.

“Quando falamos de sexualidade, cada pessoa é uma, cada situação é única, e as vivências são vividas de forma individualizada. Portanto, devemos levar em consideração a história de cada indivíduo”, indica a psiquiatra, sexóloga e terapeuta de casais, Fernanda Araújo, que também é embaixadora da marca de saúde íntima A Sós. 

“Todo ser humano tem o direito de expressar e explorar sua sexualidade, incluindo também seu direito a informações e educação sexual”, complementa a psicóloga, terapeuta cognitivo comportamental e terapeuta sexual, Daniele Moura.

As especialistas, no entanto, colocam em xeque o ato de entregar um vibrador para uma adolescente. Segundo elas, é preciso tomar cuidado para não ultrapassar limites ou pular fases próprias da infância e adolescência.

“O grande problema da temática com a Claudia Raia não necessariamente foi pela educação sexual que talvez estava em pauta na conversa, mas, sim, em ofertar um vibrador a filha. O vibrador era uma demanda da filha ou da atriz em ver a filha desabrochar em sua sexualidade?”, questiona Daniele.

Nesse sentindo, o mais adequado é que os pais se coloquem como auxiliadores no processo do desenvolvimento de seus filhos, avalia Fernanda.

“Dessa forma, os filhos trazem as demandas, e aos pais cabe estar ali como suporte, apoio, instrução e acolhimento. O protagonismo será sempre do jovem: são eles que dizem o quanto de informação gostariam e/ou estão prontos para receber. Inclusive, solicitar vibradores ou quaisquer outros artifícios que julgarem necessários”, salienta Fernanda.

Oferecer um sex toy a um adolescente pode, inclusive, ser maléfico para o seu desenvolvimento sexual.

“A maturidade do cérebro de um adolescente não está completamente formada, estando muito mais exposto a condições de condicionamento sexual. Sendo assim, quanto mais precoce uma adolescente estiver exposta a estímulos genitais mecânicos com um vibrador, que proporcionam sensações de prazer intenso e erotizado, mais o cérebro será modelado a entender que este estímulo intenso irá proporcionar o ápice do prazer. Então, quando ela realmente tiver maturidade física e cognitiva para a exposição natural e saudável a uma relação sexual, o estímulo com a parceria não será o suficiente, podendo ser completamente diferente daquele recebido com o objeto sexual. Com isso, esta mulher poderá estar sujeita a um quadro de disfunção sexual na vida adulta, por exemplo”, pontua Daniele.

Quando a vida sexual deve começar?

Expandindo o questionamento sobre oferecer ou não um vibrador para um adolescente, é natural que pais e educadores se perguntem sobre o início da idade sexual de seus filhos. Aqui, vale também a máxima do uso de brinquedos sexuais: é fundamental respeitar o tempo de cada um.

“Não há uma idade certa e pré-determinada para o início da sexualidade, mas é preciso que este início da vida sexual aconteça sem exposição, com leveza e sensatez, respeitando a fase e o limite de compreensão de cada adolescente de maneira individual. Cada adolescente tem o seu próprio tempo e seu processo individualizado de amadurecimento cognitivo para lidar com a temática sobre de maneira mais saudável”, pondera a psicóloga, terapeuta cognitivo comportamental e terapeuta sexual, Daniele Moura.

Além disso, é preciso desmistificar alguns esteriótipos de gênero típicos do início da vida sexual de uma pessoa. O senso comum diz, por exemplo, que os meninos, próximo de completar 18 anos, sejam levados a um prostíbulo para ter a primeira experiência sexual. Em contrapartida, as meninas são geralmente reprimidas em sexualidade.

“Em geral, a educação (ou deseducação sexual) dada a meninos é transmitida de uma forma mais permissiva e até mesmo violenta, afinal de contas é extremamente violento forçar ou coagir um jovem a iniciar sua vida sexual em um prostíbulo. Atitudes como essas são as responsáveis por alguns homens acabarem mecanizando o ato sexual e desconsiderando o principal objetivo de uma relação que é gerar conexão e trocas afetivas. Já no caso das meninas, a sexualidade é tratada de uma forma repressora, preconceituosa e inibidora da autonomia”, sinaliza a psiquiatra, sexóloga e terapeuta de casais, Fernanda Araújo.

Pais e educadores também precisam estar atentos para conseguir diferenciar nos filhos o desejo da iniciação sexual da simples interesse pueril em torno do sexo.

“É preciso compreender o histórico de vida e experiências de cada adolescente para intervenção segura e diferenciação entre exploração saudável e possíveis riscos. Há uma diferença entre curiosidade de autoconhecimento e de questionamentos peculiares de cada fase. É motivo de preocupação e sinal de alerta quando a erotização do corpo, verbalização de termos e comportamentos que vão além de interesses compatíveis com seu nível de compreensão cognitiva do adolescente”, alerta Daniele.

Apesar de destacar que cada criança e adolescente pode desenvolver a sexualidade de maneira individualizada, a psiquiatra Fernanda Araújo aponta que, nas meninas, a puberdade começa entre os 8 e 13 anos, e, nos meninos, entre os 9 e 14.

“Nesse período, temos o despertar do desejo sexual que engloba o interesse por situações autoeróticas e a busca por interações românticas. Vale lembrar que esse intervalo de idade é uma média, havendo, entretanto, crianças que iniciam a puberdade em idades precoces ou de forma tardia”, ressalta Fernanda.

“Curiosidades, preferências, práticas e assuntos que consideram importantes podem variar entre meninos e meninas durante esse processo de autoconhecimento sexual, mas não há uma regra”, completa a psicóloga Daniele Moura.

Importância da educação sexual

Uma educação sexual efetiva, que começa em casa e segue no ambiente escolar, é primordial para que os adolescentes tenham acesso a informações corretas e se sintam seguros com suas escolhas. Além disso, a informação também pode proteger crianças e adolescentes de abusos.

 “Pais que não tratam o tema de forma repressora colaboram para a saúde sexual sem fantasmas, tabus, mitos e punições. Algumas informações são fundamentais para o início de uma vida sexual saudável, como gestações não planejadas, IST’s, modo seguro de prevenção, dentre outras. O intuito da informação é aumentar a proteção dos adolescentes trazendo conhecimento que vai auxiliar no desenvolvimento saudável da sexualidade”, indica a psicóloga, terapeuta cognitivo comportamental e terapeuta sexual, Daniele Moura.

Mitos e verdades sobre sexualidade na adolescência 

É natural que, entre adolescentes, especialmente aqueles que não têm acesso à educação sexual, circulem mitos sobre a sexualidade e tudo o que ela envolve. Psiquiatra, sexóloga e terapeuta de casais, Fernanda Araújo selecionou alguns dos mitos e verdades mais comuns desta fase da vida e como desmistificá-los. Confira: 

1. Uso de absorventes internos ou coletores tiram a virgindade das meninas. 

MITO! A virgindade não se resume a integridade ou não do hímen e sim à vivência da primeira relação sexual. 

2. A polução noturna que nada mais é do que a ejaculação involuntária durante o sono de  meninos na puberdade.

VERDADE! Muitos não entendem e se assustam com a situação que é completamente normal e demonstra que o corpo está evoluindo conforme o esperado.

3. Tamanho é documento

MITO! É importante ter em mente que a satisfação sexual vai muito além do que o simples tamanho do órgão genital.