O pequeno Thomás de 9 meses começou a apresentar febre, falta de apetite e prostração. Mesmo com medicação, a febre não cessou. Depois de idas e vindas ao pronto atendimento, o bebê não apresentou melhora, pelo contrário, passou a apresentar dificuldade de respiração e fraqueza. Após cinco dias do início do sintomas, finalmente veio o diagnóstico: bronquiolite.

Foram 4 dias de internação até a alta. “Ele ficou muito prostradinho. Ele é um bebê muito alegre, muito feliz, ele ri por tudo. E nesses dias, ele estava muito tristinho, dormindo muito, com muita dificuldade de respiração, não tinha força nem mesmo pra respirar. Nós, como pais de primeira viagem, assustamos muito. Porque a gente não espera que um bebezinho daquele tamanho precise internar”, relata a mãe Sonalli Fátima Ferreira Natividade, de 31 anos, analista de RH. 

Hoje o pequeno Thomás passa bem e a mãe fica atenta a novos sintomas. O caso dele é bastante comum principalmente nesta época do ano. Muito temida pelos pais, a doença foi a principal causa de internação de bebês e crianças entre março e maio, período sazonal das doenças respiratórias em Minas Gerais.

Dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) apontam uma média de 534 internações pediátricas mensais no Hospital Infantil João Paulo II, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, entre março e maio dos últimos dois anos, o que representa um aumento de 39,43% em relação aos demais meses. No pronto atendimento da unidade, foram registrados 4.721 atendimentos mensais no mesmo período — 47% a mais do que a média habitual. 

Às vésperas de um pico da doença, a Secretaria de Estado de Saúde anunciou no início deste mês a abertura de 12 leitos semi-intensivos no Hospital Infantil.

Virose

“A bronquiolite é uma doença viral do trato respiratório. Ela acomete o pulmão e pode evoluir para insuficiência respiratória. É transmitida de pessoa para pessoa através do contato com secreções respiratórias de alguém contaminado, como partículas que saem do seu nariz e garganta, quando você tosse ou espirra”, explica o pediatra Tomaso Zanato Francia. 

Segundo ele, assim como outras doenças respiratórias virais, ela não tem um tratamento específico. “Não há um antiviral que você dá pra criança, mata o vírus e o quadro melhora mais rápido. O tratamento é sintomático e suportivo, ou seja, medicar para febre e para dor com dipirona ou paracetamol, conforme necessário. Higienizar as narinas com soro fisiológico para ajudar na respiração e também fornecer oxigênio quando o pulmão da criança já não está conseguindo fazer seu trabalho normalmente e a oxigenação do sangue fica comprometida”, afirma o especialista.

O pediatra destaca que os pais devem ficar atentos aos sinais de alerta, e o principal é a dificuldade para respirar. Se a criança está muito ofegante, aparentando puxar o ar mais forte que o normal de maneira persistente, é necessária avaliação urgente. “Diminuir a aceitação de líquidos também pode contribuir para desidratação, principalmente se acompanhada da redução do xixi. Prostração excessiva. Muitas vezes, a febre vem e a criança prostra, mas tão logo medica-se, a febre abaixa a criança volta ao normal. A criança ficar prostrada, mesmo sem febre é um sinal de alarme”, enumera.

Prevenção

Os cuidados para proteção são os mesmos de outras doenças virais respiratórias: higiene das mãos, evitar aglomerações, usar máscaras quando sintomático, evitar contato com pessoas sintomáticas e vacinar. “Crianças doentes devem ficar em casa. O tempo de afastamento depende da gravidade dos sintomas e deve ser orientado pelo pediatra ou médico da família”, alerta o pediatra. 

O maior risco para bronquiolite grave é para crianças que já têm saúde mais frágil, principalmente para as que têm problema do coração, as que nasceram prematuras, as desnutridas e as menores de 3 meses. Atualmente não existe vacina para o bebê. 

“O remédio que tem sido muito comentado que protege os bebês é o “nirsevimabe”, que é basicamente um remédio que entrega ao corpo do bebê uma proteção pronta contra a bronquiolite, semelhante a uma vacina, porque também protege/previne, mas com algumas diferenças técnicas. Uma delas é que essa resposta não é duradoura. Então, vale só durante aquela temporada de circulação do vírus sincicial respiratório (principal vírus causador da bronquiolite)”, comenta Francia.

Vacina para gestantes

Hoje, existe vacina com finalidade de proteger o bebê apenas quando aplicada na mãe durante a gravidez, como explica Filipe Vieira, médico ginecologista e obstetra. “A indicação é a vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR), chamada de Abrysvo. Esse vírus é responsável por grande parte dos casos de bronquiolite em bebês. A vacina estimula a produção de anticorpos na gestante, que são passados para o bebê pela placenta. Assim, o recém-nascido já nasce com proteção contra o vírus nas primeiras semanas de vida, quando ele é mais vulnerável, reduzindo assim o número de casos graves da doença”.

Segundo Vieira, a aplicação da vacina é recomendada entre a 32ª e a 36ª semana de gestação, para garantir a transferência ideal de anticorpos para o bebê. A única contraindicação é em caso de alergia grave a algum componente da fórmula. “Fora isso, é considerada segura para a maioria das gestantes”, pontua o obstetra.

Por enquanto, a Abrysvo só está disponível em clínicas e centros de vacinação privados. O preço pode variar de R$ 1.600 a R$ 2.000 dependendo do local escolhido para aplicação.

Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que a incorporação de novas vacinas no calendário de vacinação, assim como a aquisição das doses, é de responsabilidade do Ministério da Saúde.

Já o Ministério da Saúde informou que realizou em março, por meio do Departamento do Programa Nacional de Imunizações (DPNI), uma reunião com a Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI) “para definir a estratégia de implementação e iniciará o processo de aquisição das novas tecnologias”.

Segundo o órgão, as vacinas devem ser disponibilizadas para gestantes no SUS no próximo semestre. “A previsão é que a partir do segundo semestre deste ano, os bebês nascidos no Brasil possam ser protegidos por uma estratégia de profilaxia. Além disso, gestantes poderão receber uma dose da vacina, transmitindo aos bebês imunidade contra o vírus sincicial respiratório (VSR) por até seis meses”.