Apesar de ainda ser tabu em pleno 2025, diferentes estudos internacionais apontam que a masturbação traz uma série de benefícios para a saúde, como melhoria do humor, redução do risco de câncer, prevenção da ejaculação precoce e até aumento da imunidade. Mas, além disso, a prática tem sido usada como uma ferramenta de autocuidado emocional para fugir de ciladas durante encontros.
A chamada “masturbação preventiva” tem chamado atenção nas redes sociais e tem como mote o ato de se masturbar antes de um date, o que poderia ajudar a pessoa em questão a tomar decisões com mais clareza e evitar encontros motivados apenas por carência ou expectativa de sexo. Ou seja, o orgasmo seria utilizado como uma espécie de “bússola emocional”.
“A masturbação preventiva é utilizada para evitar que a pessoa esteja num encontro por causa de algum impulso sexual, mas que ela esteja naquele encontro porque ela realmente quer estar com aquela pessoa, ela quer ter uma troca com aquela pessoa”, explica Marcela Shameless, empresária, sexcoach e sexóloga em formação.
Mas, será que funciona mesmo? Não existem estudos científicos sobre o tema e, apesar de relatos de que a ferramenta tem feito diferença, especialistas divergem sobre a eficácia do ato de se tocar com essa finalidade.
Segundo a especialista, a “masturbação preventiva” pode ser uma importante carta na manga principalmente para mulheres. “O ato de se masturbar vai prevenir que você encontre um boy lixo, que não merece estar com você, não merece a sua atenção, só porque você está com vontade de transar. Nós, mulheres, somos cíclicas. Vai ter uma fase do mês que você vai estar mais desejosa, mais aberta para o sexo, com mais vontade de estar com alguém. Se você não está num relacionamento fixo, você começa a pensar nas possibilidades das pessoas que você pode sair. Aí aparece aquele boy que não merece a sua presença nem a sua atenção, mas você fala: ‘Opa, é a chance de eu transar, é a chance de eu ter uma relação sexual’. E você volta para casa arrependida, porque mais uma vez, você se rendeu a alguém que não merecia estar com você”, destaca.
Marcela também ressalta que a mulher que se masturba “sabe ser melhor amante de si mesmo” e forma uma espécie de “memória de gratificação sexual”. “Ela ensina para o corpo dela que aquilo é sobre prazer, que aquilo é um prêmio. Ela chega com mais postura na cama, ela melhora sua autoestima sexual, ela consegue melhorar sua comunicação com o parceiro. A mulher que sabe o que é ela precisa para vivenciar o prazer, ela acaba sabendo falar para o parceiro o que de fato ela precisa. Então melhora em vários setores”.
O psicólogo e sexólogo Rodrigo Torres concorda que o autotoque pode ajudar na construção de relações mais saudáveis através do autoconhecimento. “Se eu sei o que eu gosto eu consigo me responsabilizar por aquilo que é meu, pelo meu prazer, e consigo manifestar isso para quem eu estou me relacionando. A partir da masturbação eu consigo me conhecer e saber ensinar o outro a me agradar”, afirma.
Tomada de decisão x autonomia sexual
Mas quando o assunto é masturbação preventiva, o especialista discorda. Ele não vê relação entre tomada de decisão e autonomia sexual. “O desejo é influenciado por diversos fatores biológicos, psicológicos, sociais, culturais. O fato de eu me masturbar não vai aumentar nem diminuir meu desejo momentâneo. Não acho que ejacular ou ter orgasmos vai melhorar a minha tomada de decisão. Não tem nenhum estudo que indique isso. Não dá pra pensar na sexualidade, que é uma coisa muito complexa, dessa maneira matemática”, destaca Torres.
O sexólogo também pondera que existe diferença entre desejo genuíno e impulso momentâneo. “Eu acho muito perigosa essa ideia que o sexo ou a excitação causam descontrole nas pessoas. Impulso momentâneo eu consigo racionalizar. É a mesma coisa do uso da camisinha. Se a gente for justificar que as pessoas tomam decisões impensadas, então nós vamos dizer que tudo bem não usar camisinha porque foi um ato impulsivo?”, questiona.
Torres completa que a ideia de que a excitação impede as escolhas seria um grande mito. “Desejo é desejo, é vontade. Se estou com vontade, eu preciso escolher e preciso assumir as consequências da realização dos meus desejos como um adulto que faz sexo”.
O psicólogo também duvida da viabilidade da proposta da masturbação preventiva, que seria evitar o “boy lixo” e esperar sempre grandes momentos. “Eu acho que não existe como deixar de romantizar encontros ruins. Encontro ruim é encontro ruim. É o risco que se corre ao encontrar uma primeira vez. E isso é natural dos encontros. Praticar o autocuidado antes do date já é uma história muito mais de uma relação minha comigo mesmo, não na minha com o outro”, pontua.