Abrem-se as cortinas, rufam os tambores, e o respeitável público está entre cético e atento para flagrar os truques mais comuns. É assim que começam os espetáculos de magia e ilusionismo, ou seja, performances que criam ilusões por meio de artifícios, truques e prestidigitações. Os ilusionistas, ou artistas do impossível, são hábeis em confundir as pessoas e as surpreender com manobras inesperadas.

Com mais de dez anos de formação em hipnose e 13 certificações nacionais e internacionais na área, Thiago Porto é também membro do International Board of Hypnosis Education & Certification e do National Guild of Hypnotists, duas das mais antigas e respeitadas associações de hipnotistas do mundo, com sede nos Estados Unidos. É também especialista em ilusões psicológicas e cartomagia.

De 2009 a 2011, Porto foi presidente da Academia Mineira de Ilusionismo, uma das mais sérias e respeitadas associações de mágicos do Brasil, associada a instituições internacionais, como a Federação Latino-Americana de Sociedades Mágicas (Flasoma). Suas apresentações como ilusionista acontecem em shows organizados por ele em teatros ou hotéis.

“Existem diferentes tipos de ilusionistas, e cada um, de acordo com sua especialidade, atua e interage de forma diferente com o psiquismo da plateia. Por exemplo, o ilusionista de ‘grandes ilusões’ David Cooperfield atua geralmente demonstrando que as leis da física, da biologia e de outras áreas de estudo podem ser quebradas. Eles apresentam fenômenos que desafiam a compreensão psicológica sobre ele, fazendo pessoas flutuarem, serem teletransportadas e manifestarem poderes mentais”, ensina o ilusionista.

Porto conta que aqueles que trabalham com a cartomagia utilizam principalmente baralhos para suas ilusões. “Eles atuam demonstrando que os conceitos psicológicos da atenção podem ser equivocados. Geralmente provam à plateia que ela não está prestando tanta atenção quanto imagina que esteja. Com isso, consegue demonstrar fenômenos de realidade alterada. Como se alguém da plateia (ou toda a plateia) fosse capaz de garantir que determinada carta estivesse em um lugar quando, na verdade, sempre esteve em outro. Muitas vezes ele faz com que a ilusão aconteça bem diante ou até nas mãos da plateia”.

Mas, afinal, os ilusionistas enganam o olho ou o cérebro? “A habilidade de manipular o foco de uma plateia é um dos principais fatores que definem um grande ilusionista. Essa manipulação de foco deve ser feita de maneira imperceptível. Enganar os olhos e o cérebro é uma tarefa extremamente fácil e simples para qualquer pessoa que estude o comportamento humano, padrões de decisão, modelos mentais e outras áreas afins. Um bom ilusionista deve ter conhecimento de técnicas sobre essas áreas. Por exemplo, a decisão que uma pessoa vai tomar diante de uma situação de escolha é extremamente previsível desde que ela aconteça de maneira instintiva”, comenta Porto.


Verdades

Para ser um bom mágico, é necessário ter habilidades de comunicação (verbais e não verbais);

Para aproveitar ao máximo um show de mágicas, é essencial que a plateia não se preocupe em entender como elas acontecem;

A mágica, mesmo quando focada para o público adulto, ativa o lado criança das pessoas que assistem e, assim, gera encanto;

Existe mágica focada para o público adulto, que foge do estudo circense, geralmente explorando mais fatores de impossibilidade lógica do que elementos visuais;

A mágica é uma arte que reúne diversas outras, como o teatro, a música e o storytelling (narrativa);

O bom mágico deve ter conhecimento sobre o comportamento humano;

A reação esperada da plateia deve ser instintiva.

Fonte: Thiago Porto


A trajetória do lendário Houdini

FOTO: YouTube/divulgação
Harry Houdini
Harry Houdini foi um dos mais famosos ilusionistas da história

No dia 21 de setembro de 1912,  Harry Houdini, um dos mais famosos ilusionistas da história, fazia sua primeira apresentação do famoso show “Cela Chinesa de Tortura na Água”. O espetáculo aconteceu no Circo Busch, em Berlim, na Alemanha. Na performance, seus pés eram trancados em um bloco e ele era baixado de cabeça para colocado em um tanque cheio de água. A cela, de mogno e de metal, possuía uma frente de vidro, que permitia ao público observar Houdini claramente. No entanto, no ponto da apresentação, uma cortina ocultava sua fuga.

Sua morte ocorreu quando foi golpeado por um boxeador amador, quando ainda não estava com os músculos preparados. Os golpes romperam seu apêndice. Ele morreu em 31 de outubro de 1926, aos 52 anos.


Nuances entre o que é real e aquilo em que se acredita ver

Conceitualmente, há diferença entre ilusionismo e mágica, mas popularmente são nomenclaturas utilizadas para fazer referência aos mesmos espetáculos, efeitos ou demonstrações.

“Ilusionismo é a arte de criar ilusões mentais sobre uma falsa realidade. É demonstrar um fenômeno que não está acontecendo por meios sobrenaturais, como, por exemplo, fazer uma pessoa flutuar. Mágica é a arte de demonstrar a realidade real, sem alterações, mas sem que seja percebida, uma vez que o foco e a atenção estão desviados. Algumas formas de mágica podem contemplar ilusões em sua estrutura”, ensina o ilusionista Thiago Porto.

Mas o que ocorre exatamente na mente humana para se deixar ser enganada por truques? “Diversos fenômenos naturais, como, por exemplo, a capacidade de focar a atenção em uma única informação por vez. Os olhos também são incapazes de focar mais de um ponto simultaneamente e, em devidas condições, o cérebro pode deixar de perceber, ignorar informações que estão apenas na visão periférica de uma pessoa”, diz Porto.

Já a cartomagia é uma das categorias da mágica e é geralmente voltada para o público adulto. “O mágico que se especializa nessa arte é chamado de ‘cartomagista’ e se torna um artista com habilidades manuais para manipulação de baralhos e cartas”, diz.

“Ele possui destreza para conduzir a atenção das pessoas e constrói rotinas mágicas utilizando essencialmente o elemento baralho. Esse tipo de mágica surpreende as pessoas porque, popularmente, o baralho é um objeto conhecido, sem suspeitas de características mágicas, e possibilita uma infinidade de feitos visual e psicologicamente muito bonitos e intrigantes por ser um catálogo de diferentes imagens e símbolos”, observa Porto.

FOTO: reprodução
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Pontos e grafismos alteram o campo visual, parecendo se mover