Um júri nos Estados Unidos decidiu na última terça-feira que o herbicida Roundup, à base de glifosato, da multinacional Monsanto, o mais usado no Brasil e no mundo, contribuiu para o câncer de Edwin Hardeman, 70. A sentença representou outro golpe contra o gigante agroquímico, que já foi duramente condenado em um caso similar no ano passado.
O glifosato é comercializado no Brasil. No mês passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) propôs manter liberada a venda de glifosato no país, alegando que não haveria evidências científicas de que a substância causa câncer.
Ao contrário da Anvisa e da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA), a Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica, desde 2015, o glifosato como provável cancerígeno.
Nos EUA, o júri avaliou que Hardeman provou que o glifosato foi “um fator importante” no desenvolvimento de seu câncer, concluindo assim a primeira fase do julgamento, iniciado em 25 de fevereiro.
A pedido do grupo alemão Bayer, que comprou a Monsanto no ano passado, os debates foram organizados em duas fases: uma “científica”, dedicada à responsabilidade do glifosato na doença; e outra para abordar uma possível responsabilidade do grupo.
Em nota, os advogados de acusação disseram que as discussões podem agora se concentrar em demonstrar “que a Monsanto não têm uma abordagem responsável e objetiva sobre o (perigo do) Roundup”.
“A Monsanto não se importa se o seu produto não causa câncer ou não, preferindo manipular a opinião pública e desacreditar qualquer um que levanta preocupações legítimas” sobre a questão, disseram.
Em comunicado, a Bayer reafirmou, como sempre tem feito apesar da controvérsia em torno do glifosato, que “a ciência confirma que os herbicidas glifosato não causam câncer”.
A segunda fase do processo começou ontem e, desta vez, responderá às seguintes questões: a Monsanto conhecia os riscos? Escondeu-os? Se sim, quais são os danos pelos quais tem que pagar?
A Monsanto enfrentará afirmações de seus detratores, que asseguram que a empresa modificou estudos a seu favor.
Em decisão histórica, o grupo já tinha sido condenado em agosto a pagar US$ 289 milhões a um jardineiro com câncer. Essa quantia foi posteriormente reduzida para US$ 78,5 milhões, enquanto a Bayer, paralelamente, recorreu da decisão.
O processo de Hardeman, que pode durar mais duas semanas, é considerado um “julgamento de prova” para centenas de ações em andamento nos EUA.
O aposentado, que mora ao norte de São Francisco, explicou que pulverizou o Roundup por mais de 25 anos em sua propriedade, e “muitas vezes” o herbicida entrou em contato com a pele.