Apenas duas cidades brasileiras integram programa da OMS

Dos países com população acima de 50 milhões, o  Brasil está entre os três que mais rapidamente vão envelhecer nos próximos 20 anos. Desde 2008, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem certificado municípios que adaptam suas estruturas e serviços para que sejam acessíveis a idosos e promovam a inclusão dessa faixa da população.

O reconhecimento Cidade Amiga do Idoso é dado pela OMS para as cidades que estimulam o envelhecimento ativo ao otimizar oportunidades para saúde, participação e segurança, a fim de aumentar a qualidade de vida no envelhecimento, levando em conta as diferentes necessidades e capacidades do idoso. Ao todo, a rede já conta com 380 cidades em 37 países das Américas, da Europa, da Ásia e da Oceania.

No Brasil, de acordo com o banco de dados da OMS, apenas duas cidades fazem parte do programa: Veranópolis e Porto Alegre, ambas no Estado do Rio Grande do Sul. Veranópolis tornou-se conhecida pela longevidade de sua população na década de 90. O fato de sua população ter a maior expectativa de vida no Brasil estimulou os pesquisadores a investigar os determinantes da longevidade da população. O Conselho das Pessoas Idosas, um mecanismo para envolver o público da terceira idade no acompanhamento contínuo e na avaliação de políticas, foi estabelecido em 2013. Nos últimos anos, esforços substanciais foram feitos para tornar a cidade mais acessível, com a instalação de rampas, calçadas e corrimãos abaixados.

No caso de Porto Alegre, que integrou o programa em 2015, as iniciativas são mais numerosas. O destaque fica por conta do incentivo do município ao envolvimento da pessoa idosa com políticas sociais, por meio de dispositivos regulamentados por lei, como no Conselho Municipal do Idoso, da saúde, da assistência social e da cultura. A participação da terceira idade tem sido intensa e de grande importância para esses programas, segundo a prefeitura, que contemplam ainda geração de renda e educação continuada.

Minientrevista

Aubrey de Grey
Diretor de ciência da Sens Research Foundation (SRF), autor do livro “Ending Aging” – uma descrição detalhada de como a medicina regenerativa pode ser capaz de frustrar completamente o processo de envelhecimento dentro de poucas décadas

FOTO: Andy Miah/Commons

Na sua opinião, muitas das crianças que estão nascendo neste momento em todo o mundo serão os primeiros protagonistas de uma revolução na história humana, podendo viver pelo menos mil anos. Quais são as principais evidências que o levaram a essa estimativa?

Antes de tudo, não esqueça: nunca disse que isso é certo, só que é provável. A evidência refere-se ao impacto das terapias que podem reparar o dano do envelhecimento: mesmo quando essas terapias são muito imperfeitas, elas “compram tempo” para que os pesquisadores melhorem, de modo que o tratamento possa ficar um passo à frente do problema do envelhecimento.

Quais são os projetos antienvelhecimento e as pesquisas de novas estratégias contra esse processo que você gostaria de salientar nos próximos anos?

Há muitas para mencionar em uma entrevista. Veja o nosso site – www.sens.org. (A SRF é uma das principais organizações sem fins lucrativos focada no desenvolvimento de biotecnologias de rejuvenescimento para enfrentar as doenças do envelhecimento e, em setembro de 2017, lançou um novo programa de pesquisa focado no desenvolvimento de anticorpos).

Então podemos dizer que a primeira pessoa que vai viver mil anos já nasceu?

Eu acho que há pelo menos 50% de chance, mas obviamente não podemos ter certeza.

Por que você afirma que o envelhecimento pode ser uma condição evitável?

Porque é fundamentalmente o mesmo em um organismo vivo, como é em uma máquina feita pelo homem, e, em máquinas feitas pelo homem, já podemos evitá-lo, simplesmente por manutenção preventiva inusitadamente abrangente.

Você analisou as sete principais causas do envelhecimento com base nas diferenças no corpo acumuladas durante a vida. Quanto tempo levou esse estudo e quantas pessoas foram pesquisadas?

É o resultado de toda a pesquisa de biólogos estudando envelhecimento em todo o século XX.

Câncer, HIV e Alzheimer hoje são algumas das doenças mais temidas. Você acredita que a “cura” delas está próxima? Qual é a perspectiva?

O HIV é uma infecção, e nós já podemos controlar agora, não está relacionada à idade, então não é o que trabalhamos. Alzheimer, e também a maioria dos cânceres, certamente são relacionados à idade. Nós não os curaremos exatamente, nós os impediremos de nos deixarem doentes. E, sim, acho que em provavelmente duas décadas conseguimos fazer isso muito bem.

Já temos tecnologia suficiente para isso ou novas ferramentas ainda terão que ser desenvolvidas?

Ainda não estamos lá, mas estamos chegando lá! Isso é o que a SRF faz.

É possível ter qualidade de vida depois de tantos anos?

Todas as perguntas sobre o futuro distante são estúpidas, porque muitas coisas não serão apenas diferentes, mas inimagináveis.

Na sua opinião, qual será o maior desafio para a humanidade conseguir viver tanto tempo e bem?

Não haverá um. Lembre-se, a longevidade é um efeito colateral da saúde.

Esse não envelhecimento não teria impactos também sobre a superpopulação da Terra?

Não. O principal motivo para isso é que outras tecnologias, como as energias renováveis, reduzirão nossa poluição e, portanto, teremos mais pessoas na Terra com menos impacto ambiental.

Como você imagina seu próprio envelhecimento? Quanto tempo espera viver? Você tem medo de morrer?

Essas são três perguntas muito diferentes! Mas a resposta principal é a mesma para todas: não penso na longevidade.

Você já sofreu muitos ataques de outras pessoas que acreditam que suas ideias estão erradas. Como lida com isso?

Paciência. Acabei de explicar meu raciocínio com cuidado e repetidamente, e com o tempo meus colegas entenderam que eu estava certo – ou, pelo menos, que eu posso estar certo. Os pesquisadores da Fundação de Pesquisa Sens tiveram uma série de publicações importantes nos últimos anos que validaram muito do que eu falei.

O que você acha de ser chamado de “profeta da imortalidade”?

É muito frustrante, mas eu me acostumei com isso.