Elas são conhecidas como “benzedeiras”, “curandeiras”, “rezadeiras” e, em Portugal, como “endireitas”, ou seja, pessoas que têm o poder de endireitar o outro. A denominação dessa arte ancestral vem do latim “benedico”, que significa “louvar ou abençoar algo ou alguém, bendizer, glorificar”.
As benzedeiras modernas guardam e honram o legado de suas ancestrais, mas precisaram repaginar alguns rituais. Conhecida como “benzedeira da nova era”, Jacqueline Naylah, bióloga, biopatologista e terapeuta holística, aliou seus conhecimentos acadêmicos ao holismo e, hoje, tem um curso de benzimento online, com 2.000 alunos de seis países.
“Quando menina, minha avó Eni me benzia, assim como os netos e os filhos, mas nunca acreditei que fosse seguir esse legado, só quando ela desencarnou. Ela havia me presenteado com um anel e me benzeu com ele. A partir dali, comecei uma peregrinação em busca de benzedeiras, livros e conhecimento sobre essa arte que estava sendo extinta. Comecei a atuar como benzedeira”, relembra Jacqueline.
O fruto mais recente dessa peregrinação é o livro “Eu Te Benzo: O Legado de Minhas Ancestrais”, em que ela desvenda mitos e verdades sobre benzimento, explica as ferramentas utilizadas para cura e valoriza o dom especial repassado de geração em geração. “Segui o legado da minha avó e acho que o universo me escolheu como forma de perpetuar essa arte, em novo formato, com viés científico, porque sou bióloga. Mostro que as pessoas não devem ter tantas crenças aprisionadas ao estereótipo daquela geração formada por pessoas tão diferentes de nós, mas com profundo conhecimento ancestral”, diz a benzedeira.
E qual a mística por trás do rezo dos benzimentos? “Cada benzedor tinha seu próprio rezo, sua própria forma de rezar. Conheci benzedeiras que entoavam mantras invocando pontos de umbanda, contavam itans (mitos africanos), cantigas, diálogos, orações cristãs e lamentos. Conheci uma benzedeira que em todos os atendimentos contava a história do nascimento de Jesus, tão lindo, tão único, tão dela”, comenta Jacqueline.
O rezo tem que sair da alma para tocar a alma de quem será benzido. “O rezo nunca é algo a ser decorado, rezo é para ser sentido. Não importa o que se diga, pois às vezes nada é dito. Rezo é algo tão íntimo e próprio que algumas benzedeiras sussurravam e ainda criaram o mito de que, se alguém ouvisse, elas perderiam o dom de benzer”, observa a benzedeira.
Ela revela que o rezo é algo muito íntimo. “Certa vez, uma aluna disse ter encontrado o caderno de rezos da avó e que iria decorar um por um. No dia seguinte, o caderno desapareceu. Mas, se dentro da cultura da família elas seguiam com a tradição de passar rezos de geração para geração, está certo. Afinal, o importante é fazer o bem com aquilo que se tem”, ressalta Jacqueline.
Ritual tem o poder de livrar todo o mal
Pedra nos rins, quebranto, mau-olhado, proteção, cura de chagas, nervo torcido, abertura de caminhos e toda sorte de mazelas e desejos podem ser contemplados pelo benzimento. E o arsenal das benzedeiras é tão vasto quanto sua capacidade de se doar.
Criou-se um arquétipo da benzedeira com um raminho de arruda nas mãos, porém elas utilizavam qualquer erva que tivesse no quintal. “As benzedeiras acreditavam que todo e qualquer galho de ervas carregava o poder do benzer, o poder de retirar das pessoas todo mal que estava afligindo e que qualquer galho transportava de volta para a natureza tomar conta e transmutar todas as cargas e doenças removidas das pessoas”, ensina a benzedeira Jacqueline Naylah.
Ela conta que a arruda tem, sim, o poder de afastar maus espíritos. “Mas o que as benzedeiras queriam nos ensinar é que, na ausência da arruda, qualquer galhinho é um presente de Deus para nos curar. Para qualquer mal, até um raminho de salsa há de salvar”, ressalta a benzedeira. (AED)
Lançamento
“Eu te Benzo: O legado de minhas ancestrais”
Jacqueline Naylah
Editora Besouro Box
136 páginas
R$ 38
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