Arte

Carlos Araujo expõe no Panteão 

Painéis reproduzem o Gênesis em um dos maiores ícones da Antiguidade


Publicado em 06 de outubro de 2015 | 03:00
 
 
 
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O brasileiro Carlos Araujo, 65, foi o artista escolhido para reabrir o Panteão, em Roma, um dos maiores ícones da Antiguidade e que ficou três séculos sem receber exposição. Araujo é o primeiro artista contemporâneo a expor no monumento que já exibiu obras de Rafael Sanzio, que inclusive está enterrado lá.

O artista já expôs seu trabalho na Bienal de Florença (2007), no Carrousel du Musée du Louvre, em Paris (2008), entre outros locais na Europa, além de participar de três mostras no Masp, em São Paulo, em 1974, 1979 e 1987.

A exposição “Gênesis” compreende 32 obras que retratam passagens bíblicas do livro homônimo, o primeiro da Bíblia. O artista produziu todos os quadros da exposição, dentro do padrão de tamanho exigido, ao longo de oito meses, já que alguns de seus painéis têm até 12 metros.

“No Panteão tive a responsabilidade de relembrar meio milhão de pessoas, que irão passar por aquele local, que fomos todos criados no sexto dia, segundo o livro do Gênesis, comum a três grandes religiões. O Gênesis foi a primeira carta de amor de Deus para o homem, e isso nos faz lembrar de exercermos a solidariedade nestes tempos de crise que sempre existiram e se repetem”, comenta Araujo.

Paralelamente, o pintor está fazendo uma exposição individual na Galleria D’Arte Benucci, perto da
Piazza di Spagna, em Roma. O artista tem um acervo de mais de 1.200 obras executadas ao longo dos últimos 25 anos, inspiradas em toda a Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse. Em “Bíblia Citações”, editado em 2007, constam mais de mil dessas obras.

“Venho de uma família católica, e as memórias de minha infância fazem parte de minhas melhores lembranças. Sem Deus e a misericórdia que nos é oferecida por meio de Jesus, nada podemos fazer. A religião nos permite, com boas intenções, um contato maior com o Criador”, diz o artista, que se formou em engenharia civil e é autodidata.

Ele nunca exerceu a profissão, mas essa formação foi preciosa no sentido de racionalizar o trabalho que viria a seguir. “Comecei meus trabalhos de pintura com 13 anos, e, aos 32, a Editora Anthèse, de Paris, publicou a monografia intitulada ‘Araujo’, que mostrava o desenvolvimento das minhas obras até então. Tinha o objetivo de retratar a vida do trabalhador: ‘O Descanso no Latifúndio’, ‘Uma Escola na Amazônia’, ‘O Sinaleiro de Itaipu’, ‘Os Trabalhadores Urbanos’, ‘A Neta Amamentando a Avó’ (por falta de comida). Algumas das cenas até não presenciei fisicamente, mas pude imaginar nesse período em que tentava representar uma humanidade oprimida e a dicotomia de encontrar sorrisos inimaginavelmente belos em meio a tamanha escassez material”, relembra.

A partir dos 32 anos, o artista ilustrou para a Ariane Lancell Editions, o livro-objeto de litografias intitulado “Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse”. O texto era baseado em “São João de Patmos” e “Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse”, de Blasco Ibáñez.

“Foi uma grande oportunidade de mergulhar na Palavra. O contato com o texto bíblico mesmo pelo seu término, o Apocalipse, me fez despertar. Por meio do que podemos nominar de ‘chamado’, ou graça divina, comecei a me introduzir no mundo das causas que resultavam na Terra tantos efeitos incompreensíveis e abri, finalmente, a Bíblia, que esteve a meu lado desde minha infância, porém praticamente intocada”, relembra o artista.

Bíblia. Os 30 anos seguintes foram dedicados a representar, como ele gosta de dizer, a Palavra por meio da pintura. São cerca de 2.000 obras que culminaram no livro “Bíblia Citações”, entregue ao papa Bento XVI em sua visita a São Paulo.

“Desaparecer no servir é poder sentir um pouco mais próxima a presença do Criador, fazer parte do todo, sensações indescritíveis que o mundo das ilusões jamais nos poderá oferecer”, observa Araujo.

SERVIÇO: Vale a pena uma visita virtual ao Panteão para ver a exposição do artista: www.carlosaraujo.com/brmv.html No site www.carlosaraujo.com o visitante poderá passear por um gigantesco ambiente virtual composto por 28 galerias, sendo 14 do Antigo Testamento e 14 do Novo Testamento, onde estão expostas mais de 1.000 obras do artista publicadas em todo o mundo.

História
Panteão
. O monumento projetado por Marcus Agrippa é originalmente politeísta e ao longo de mais de 2.000 anos teve outras serventias religiosas. Desde o século VII é um templo católico.

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