Comportamento digital

Carnaval: como saber o que vale a pena postar e o que é melhor não compartilhar?

Usar filtros de privacidade é uma alternativa para restringir o alcance de suas postagens


Publicado em 20 de fevereiro de 2023 | 06:30
 
 
 
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“Carnaval é sinônimo de intensa alegria, cores, fantasias e bloquinhos, mas pode ser também de exageros em atitudes, poses e algumas coisinhas mais, levando muita gente a passar da conta durante a folia. Assim, além da preocupação natural e real sobre o bem-estar, em uma era de exposição instantânea nas redes, será que minha alegria da marchinha pode ser minha tristeza no escritório quando tudo acabar?”. O questionamento é da especialista em desenvolvimento humano e mindfulness Vivian Wolff, que, a convite de O TEMPO, teceu uma série de reflexões sobre o que seria apropriado ou inapropriado para se divulgar nas redes durante a folia. 

Para começar, ela lembra os conceitos de confiança e segurança psicológica no trabalho, ambos muito em voga atualmente, pois ambientes com essas características tendem a favorecer a inovação e contribuir para a obtenção de melhores resultados e para a retenção de talentos. “Esses elementos estão presentes em uma organização quando eu sinto que posso confiar nas pessoas e que também me mostro confiável para elas. É também quando eu percebo que a cultura validada onde trabalho promove um clima em que as pessoas se sentem confortáveis em se expressar e ser elas mesmas”, resume.  

Lembrando que espaços psicologicamente inseguros – em que não há diversidade, escuta ativa e tolerância ao erro – são um campo fértil para omissões, negligências e mentiras, Vivian sustenta que esses valores precisam ser praticados também durante as festividades momescas. “Em um momento em que as questões sobre diversidade e inclusão estão mais fortes que nunca, o entendimento de que a pessoa é livre para se expressar em suas redes sociais traz a importância de que, independentemente do que faço em minha vida pessoal, se estou engajado, compromissado e entregando resultados em meu trabalho, é por isso que devo ser avaliado e jamais julgado pela minha foto do Carnaval”, crava.  

Mas ela reconhece que nem todos vão estar inseridos em um ambiente que prioriza a confiança e a segurança psicológica. “Caso sua empresa não seja assim, vale se questionar se, entre as pessoas que te seguem, será que tem alguém que não deveria ver essas fotos? Será que, se alguém do seu trabalho passar pelo seu feed, você vai se sentir desconfortável e inseguro? Afinal, para quais pessoas você não quer que esse registro chegue? Se essas reflexões são necessárias para você, aproveite os recursos de privacidade oferecidos pelos aplicativos e faça bloqueios! Não existe recomendação certa ou errada, mas é importante entendermos que estamos todos conectados e, dependendo do meu entorno, vale adotar uma postura ou outra”, aconselha, lembrando que as redes sociais possibilitam criar filtros de privacidade.  

Você pode, por exemplo, trancar seu perfil para que ele só possa ser visto por seus seguidores. E pode também limitar o alcance de algumas publicações, caso dos Stories do Instagram. É possível impedir que alguns dos seus seguidores tenham acesso a essas imagens, que ficam apenas 24 horas no ar. Outra opção a ser considerada é recorrer ao “Melhores Amigos”. Nesse caso, só as pessoas que você incluir nesse grupo poderão ver suas postagens se elas forem publicadas nessa opção. 

Lembre-se de quem você é 

Já do ponto de vista da etiqueta, Luciane Berto, especialista em saúde mental, desenvolvimento humano e etiqueta comportamental, recomenda que, antes de postar, a pessoa avalie se aquela publicação dialoga com a postura pública que ela deseja cultivar. “Não é por estar na folia que você precisa passar por cima dos seus valores e jogar no lixo a reputação que você vem construindo ano a ano em apenas um Story”, assevera, dizendo ser importante entender como queremos que as pessoas nos vejam e avaliar que imagem desejamos construir. 

Luciane acredita que vale a pena cair na folia, sem se privar da diversão, mas recomenda cautela. “Cuidado com as fantasias, tenha bom senso e não faça publicações que vão de encontro ao seu eu”, alerta. Ela defende que, para não errar a mão, o melhor caminho é o autoconhecimento. “Você precisa se conhecer e trabalhar suas emoções, desenvolvendo inteligência emocional, pois, assim, terá maior domínio de si mesmo e, naturalmente, terá um comportamento adequado. É claro que as regras de etiqueta podem te ajudar nesse processo, mas não adianta nada saber usar talheres à mesa se você não desenvolveu habilidades de autocontrole”, situa. 

Além disso, Luciane arrisca-se a dar um conselho geral: “Vá para brincar, curtir, viver aquele momento. Mas entenda que não é legal parecer ‘louco’ nas redes sociais, principalmente se você tem nelas seus clientes e/ou colegas de trabalho, pois essa atitude pode, potencialmente, prejudicar a sua credibilidade junto a eles”. 

“Algumas pessoas podem argumentar: ‘Ah, mas é Carnaval’, como se esse período fosse um grande vale-tudo. Mas precisamos lembrar que, mesmo na folia, seguimos sendo nós mesmos e continuamos responsáveis por nossas escolhas e posturas”, sinaliza. “Se você esqueceu quem é, se bebeu demais e passou do ponto nas redes, de forma que se sente constrangido ou sente que constrangeu pessoas próximas, então é hora de se desculpar, explicar que se exaltou e se esforçar para não repetir essa cena”, avalia. 

Implicações 

O advogado trabalhista Estácio Airton Alves Moraes explica que, a depender do regulamento interno da empresa e das previsões da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que elenca motivos de justa causa, postagens contra a empresa ou que atentem contra a moral ou configurem atos discriminatórios podem implicar punições. 

“Inclusive, postagens consideradas ofensivas podem fundamentar uma demissão por justa causa. Já publicações não tão graves podem gerar advertências e suspensões, a depender do histórico daquele funcionário”, situa Moraes, acrescentando que o indivíduo punido tem o direito de discordar daquela sanção. “Se ele sofrer advertência, pode dizer que discorda da penalidade e justificar, por exemplo, que aquele post foi feito fora do trabalho e não ofendia a ninguém. Se a punição for a demissão, pode-se ingressar na Justiça pedindo a nulidade dessa ação e até a readmissão na empresa”, detalha.

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