Comportamento

Como a obesidade complica a vida amorosa dos americanos

Livro expõe drama que o excesso de peso impõe principalmente às adolescentes


Publicado em 04 de dezembro de 2014 | 04:00
 
 
 
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Nova York, EUA. “XL Love” (Amor extragrande, em tradução livre) tem um título infeliz, que evoca os mais deselegantes tipos de show de TV sobre questões da vida real, e um subtítulo, que faz referência à vida amorosa dos norte-americanos, que também não ajuda muito. Só que, na verdade, o livro é muito mais ponderado e menos lascivo do que os dois sugerem.
 

O objetivo de Sarah Varney é explorar todas as maneiras pelas quais o aumento da circunferência do corpo dos norte-americanos afeta seus hábitos sociais e sexuais, desde os adolescentes no baile de formatura até as pessoas que estão casadas há muito tempo.

As complicações médicas mais comuns da obesidade – diabetes, hipertensão arterial e as consequências dos níveis elevados de colesterol – são bem conhecidas e analisadas até a exaustão em todos os tipos de contextos médicos e leigos. As complicações mais privativas raramente são incluídas nessas listas – a não ser, na verdade, em programas de TV sobre a vida real. Varney, correspondente de políticas de saúde do Kaiser Health News, tem como objetivo fazer uma exposição mais desapaixonada e científica.

Ela consegue mostrar ao leitor todo o alcance e a complexidade do seu objeto. Se Varney não é totalmente bem-sucedida na hora de manter a desejada seriedade, a culpa não é só dela. Apesar da grande quantidade de pesquisa médica e psicológica, mesmo profissionais experientes da área lutam para evitar esses assuntos delicados: o tom certo é difícil de manter na sala de exames e nas páginas do livro.

Varney começa sua história com um breve vislumbre da UTI neonatal do Centro Médico da Universidade do Mississipi, em Jackson, uma dos maiores do país, apesar de servir a uma população relativamente pequena. A epidemia de obesidade e o atendimento de graves complicações médicas na região levaram a uma taxa desproporcional de gestações de alto risco e de bebês nascidos com sérios problemas de saúde.

Supondo que esses bebês sobrevivam aos seus primeiros contatos com o sistema de saúde, eles mesmos terão um alto risco estatístico de se tornarem crianças, adolescentes e adultos extragrandes, passando por uma série gradual de riscos fisiológicos e psicológicos.

Mesmo na infância, a gordura corporal não é um peso morto. Na verdade, é um tecido metabolicamente ativo, que, no mais simples dos termos, tende a aumentar a quantidade de estrogênio que vai para os órgãos do corpo. Nas meninas, o resultado pode ser o início muito precoce da puberdade; já os meninos obesos podem ter um atraso no crescimento masculino típico, desenvolvendo não só mamas pendulares de gordura, mas tecido mamário de verdade.

A menina que entra na adolescência com o corpo de uma mulher grande e a mente de uma criança enfrenta mais problemas socialmente do que a maioria das adolescentes? E um garoto cuja gordura evoca estereótipos femininos?

As respostas não são tão claras como se poderia pensar. Não é de admirar que, para adolescentes obesas, a aceitação do grupo parece depender, em grande parte, de como as outras são. Para os meninos, ser gordo demais pode ser menos socialmente venenoso do que ser muito pequeno ou muito magro. Dados de pesquisa sugerem, no entanto, que os adolescentes mais pesados namoram menos do que seus colegas mais magros – namorar tanto no sentido de uma atividade social baseada no casal ritualizado quanto o de atividade sexual romântica. Quando os adolescentes mais pesados fazem sexo, essas experiências são frequentemente isoladas e acontecimentos que os deixam isolados, com as meninas, em especial, mais propensas do que suas colegas a uma intimidade mais imprudente, desprotegida, movida a drogas ou a álcool.

Entrevistas longas foram base do livro

Nova Yrok, EUA
.Uma vez que o ensino médio e a faculdade terminam, os pesquisadores perdem a população cativa para estudos e fica mais difícil conseguir dados comportamentais importantes. Por isso, Sarah Varney, usa em “XL Love” uma série de entrevistas em profundidade para caracterizar os padrões de namoro e casamento de adultos seriamente obesos. Obviamente, eles relatam que a fase do namoro é cruel e o casamento, um desafio.

Mais cruel e mais desafiador do que o habitual? Quem sabe? Nenhum tamanho confere imunidade para problemas, mas a experiência das pessoas mais pesadas é pontilhada pela dor; o peso é apenas mais um campo minado emocional com o qual elas têm de lidar.

O livro
“XL Love: How the Obesity Crisis Is Complicating America’s Love Life”
(Amor extragrande: como a crise de obesidade está complicando a vida amorosa nos Estados Unidos, em tradução livre)
Autora: Sarah Varney
Páginas: 235
Preço: US$ 25,99 (R$ 66)

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