De um lado, os heterossexuais, com suas preferências e dilemas já naturalmente aceitos pela sociedade. De outro, gays e lésbicas que, apesar de alguns avanços em relação aos seus direitos, ainda enfrentam muitos desafios buscando a aceitação dos homossexuais. E, ainda ocupando uma zona de sombra, estão os bissexuais, encarados como tabu até mesmo dentro do meio que carrega a letra B em seu movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis).
 

Recentemente, o assunto ganhou repercussão nacional com o personagem Cláudio, bissexual vivido pelo ator José Mayer, na novela global “Império”, e na nova minissérie “Felizes para Sempre?”, na qual a atriz Paolla Oliveira vive uma prostituta que se relaciona com casais.

Daniela Furtado, 27, teme que a abordagem do assunto na TV não passe de “um recurso para ganhar audiência” e até duvida que venha ajudar a diminuir o preconceito. “Até hoje, nada do que a grande mídia fez nos ajudou muito”, critica. Bissexual, ela conta que conheceu a palavra na infância e, na adolescência, entendeu que era uma identidade possível. “Nunca me descobri bissexual. Minha bissexualidade não estava enterrada em nenhum lugar para eu ir lá e descobrir”, afirma.

Já o estudante de serviço social e vendedor, Adriano Silva Rodrigues, 27, prefere acreditar que as personagens possam ajudar os bissexuais a ter mais visibilidade na sociedade. Ele conta que se entendeu como bissexual quando tinha 12 anos e, ao perceber que sentia atração tanto por homens quanto por mulheres, ficou confuso. “Sempre me achei um adolescente diferente, pois, da mesma maneira que me atraia pelas meninas, eu olhava para os meninos. Meu primeiro beijo foi em um menino, em uma brincadeira de escola”, diz.

Rodrigues lembra que sua primeira dificuldade foi se aceitar como bissexual e perceber que isso não lhe fazia pior que ninguém. “Depois, foi como falar para minha mãe. Sempre pensei como ia fazer isso, planejei várias formas, até que ela me perguntou se eu era gay. Começando a chorar, admiti e depois tudo ficou diferente, mas para melhor”, diz aliviado.

Todos somos bi?. Apesar de ser encarada por alguns como “coisa de gente moderna”, evidências da bissexualidade já estavam presentes na antiguidade, desde a Grécia Antiga, assim como a rainha da França, Maria Antonieta, até os estudos de Freud, dizendo que somos todos bissexuais.

O psicoterapeuta sexual e de casais do Instituto Paulista de Sexualidade Oswaldo Rodrigues discorda de alguns recentes estudos que apontam que bissexualidade é uma tendência, e prefere acreditar que “a diversidade e variabilidade das alternativas será o mais provável, e não uma convergência de tendência única”.

Rodrigues explica que o interesse por ambos os sexos pode se manifestar ao longo da vida, alternando épocas que se apresentam como fase hétero e fase homo. “Muitas pessoas desenvolvem essas capacidades na adolescência, outros podem desenvolver o desejo sexual para ambos os sexos apenas depois dos 40 ou 50 anos. As condições sociais e históricas se encontram associadas à bissexualidade”, diz.

Sou bi, e daí?

Alguns famosos bissexuais assumidos:

A cantora Lady Gaga já disse em revistas que ama os “homens e as mulheres”.

O cantor David Bowie se declarou bissexual em entrevista à “Melody Maker”, em 1972.

A cantora Ana Carolina até fala em uma de suas músicas que gosta de homens e mulheres.

Amigos da cantora Amy Winehouse afirmaram que ela não se importava que a chamassem de bissexual.

A atriz Drew Barrymore já disse: “sempre me considerei bissexual”.

Governo cria comissão LGBT

O governo federal criou nesta semana a Comissão Interministerial de Enfrentamento à Violência contra Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (Ciev-LGBT).

O objetivo é ampliar os direitos e instrumentalizar políticas públicas voltadas à população LGBT. A comissão será composta por membros da Secretaria de Direitos Humanos, Ministério da Justiça, Ministério da Saúde, entre outros.

De 2011 a 2014, foram denunciados 7.649 casos de violação contra a população LGBT, pelo Disque 100.