Alcoolismo

‘É um distúrbio mortal que exige alta vigilância contínua’

Alguns pacientes se beneficiam mais de determinado modelo do que de outros


Publicado em 20 de maio de 2018 | 03:00
 
 
 
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Os principais tipos de tratamentos disponíveis para indivíduos que possuem problemas com o álcool atualmente, segundo o psiquiatra Arthur Guerra, continuam sendo: farmacológico, psicológico, grupos de ajuda mútua (como AA) e comunidades terapêuticas. No entanto, alguns pacientes se beneficiam mais de determinado modelo do que de outros. “É importante ressaltar que o tipo de ajuda mais adequado para cada pessoa depende de suas características pessoais, da quantidade de bebida que costuma ingerir e se já apresenta problemas de ordem emocional, física ou interpessoal decorrentes desse uso”, explica.

Diante dessa complexidade, a recomendação é procurar um médico para que a pessoa passe por avaliação diagnóstica detalhada e o tratamento mais adequado seja prescrito.

De acordo com o professor associado da faculdade de medicina da Universidade Harvard e diretor do Recovery Research Institute, John F. Kelly, existem três medicamentos aprovados pela Agência de Drogas e Alimentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) que se mostraram úteis também – naltrexona (Vivitrol), acamprosato (Campral) e dissulfiram (Antabuse) –, mas a realidade não muda. “Trata-se de distúrbios mortais que necessitam de altos níveis contínuos de vigilância, de gestão e monitoramento em longo prazo para alcançar mudanças duradouras e aumento da qualidade de vida”, afirma.

Conforme pesquisa divulgada pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), tanto o acamprosato como a naltrexona são efetivos no tratamento de dependência de álcool em adultos. O primeiro parece ser especialmente útil em abordagens terapêuticas que buscam promover a abstinência, enquanto o segundo se mostra mais indicado para programas cujo objetivo seja promover o uso controlado do álcool.

Na Rússia, país citado como exemplo de enfrentamento na redução da mortalidade pelo uso nocivo do álcool no último relatório “World Health Statistcs 2017”, da Organização Mundial da Saúde (OMS), apenas a reformulação de políticas de saúde pública conseguiu controlar o problema. Entre as medidas estão o aumento de impostos, o fortalecimento do sistema de controle de produção, distribuição e venda de álcool e a proibição de propagandas. Com isso, entre 2007 e 2016 houve redução do consumo total em 3,5 L de álcool puro por pessoa, queda de novos casos de psicose alcoólica (de 52,3 para 20,5 por 100 mil habitantes) e queda da taxa de mortalidade de homens.

 

Consumo moderado não vinga

Em 2015, o programa Moderação e Controle (Moderation Management – MM, em inglês) chegava ao Brasil com a promessa de ajudar a resgatar “bebedores-problema” por meio do consumo moderado de álcool. Segundo o Instituto Nacional de Alcoolismo e Abuso do Álcool dos Estados Unidos, os bebedores problemáticos (não dependentes, mas que estão começando a ter problemas com o álcool) eram quatro vezes mais que os diagnosticados como alcoólatras. Na época, o programa tinha cerca de 20 mil participantes em todo o mundo e estava presente em mais de 12 países (Austrália, Reino Unido, Tailândia, França, Irlanda, Bélgica, Índia, EUA, Canadá e México, por exemplo).

No entanto, no Brasil ele não vingou, tendo durado somente um ano, conforme conta o engenheiro Igor L., 55, responsável por trazer o programa para o país. “Precisávamos de mais apoio dos Estados Unidos para fazer palestras, mas não tivemos esse apoio. Também não tivemos apoio de médicos. As clínicas trabalham com terapeutas próprios, métodos próprios e usam o AA como apoio para eles e talvez não tenham sentido necessidade de mais um programa”, analisa.

Assim como a dependência química, durante muitos anos, os dependentes foram convencidos de que a única opção de tratamento para o vício era a abstinência, geralmente associada a internações. Mais flexível, outra política, chamada “redução de danos”, no entanto, vem se tornando outra opção.

Para o psiquiatra Arthur Guerra, o modelo de redução de danos é importante para os pacientes que não querem ficar em abstinência, mas aceitam reduzir o consumo da droga ou o dano atrelado a esse uso. O professor John F. Kelly também acredita na efetividade da redução de danos. “Se alguém não está preparado para interromper o consumo de álcool e/ou drogas, mas está disposto a tentar reduzir ou minimizar os danos, esse é um passo positivo na direção certa”, diz.

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