Enorme

De loja de livros a um império

Amazon, nascida em 1994, diversifica negócios e aposta em novas tecnologias


Publicado em 17 de janeiro de 2017 | 03:00
 
 
 
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São Paulo. Um drone de entregas. Um armazém voador. Uma assistente pessoal com avançados recursos de inteligência artificial. A enxurrada de notícias sobre a Amazon nos últimos meses mostra como a empresa, nascida em 1994 como uma loja de livros online, se transformou num império diversificado de negócios e apostas promissoras potencializados pela tecnologia.

A empresa, que hoje tem mais de 230 mil funcionários e valor de mercado superior a US$ 380 bilhões, precisa manter uma estrutura complexa ao mesmo tempo em que investe pesado em ideias que ainda não são lucrativas, mas que podem se tornar fonte de receita.

“Queremos ser uma empresa grande que também é uma máquina de invenções”, escreveu o fundador e presidente executivo da Amazon, Jeff Bezos, em carta aos acionistas, em abril do ano passado. Mais que uma bravata, a frase marca o estilo de gestão de Bezos. “Eles fazem apostas em muitos setores. No futuro, serão mais lucrativos se seguirem investindo”, diz Mike Olson, analista do banco de investimentos Piper Jaffray.

A variedade de apostas esconde uma organização relativamente simples. A empresa está baseada em três pilares: a loja online, o programa de benefícios Amazon Prime e a Amazon Web Services (AWS), divisão responsável pelos serviços a empresas.

Nas nuvens. No passado, os dois primeiros pilares eram os mais importantes e ajudaram a Amazon a se tornar a varejista a alcançar mais rápido a receita anual de US$ 100 bilhões. Hoje, é o terceiro pilar que dá segurança à empresa para inovar. “A AWS é uma área com margem de lucro maior que a do varejo”, diz David Mitchell Smith, vice-presidente de pesquisas da consultoria Gartner.

Sozinha, a AWS respondeu por 41% do lucro operacional da Amazon durante o ano fiscal de 2015 – embora os serviços na nuvem representem só 7% da receita. A expectativa é que a área fature US$ 13 bilhões no ano fiscal de 2016 – o balanço será divulgado no fim deste mês. Se confirmada, a receita terá crescido 64% em relação a 2015. “A maioria das empresas usará computação em nuvem”, diz Marcos Grilanda, diretor regional da AWS. “Estamos no começo”.

Erros e acertos. A história da Amazon, porém, não é feita só de acertos: em 2014, em meio ao boom dos smartphones, a empresa lançou seu próprio aparelho, o Fire Phone. Apesar das investidas, o projeto minguou. O fracasso gerou aprendizado. “Sabemos aproveitar as falhas”, diz Alex Szapiro, diretor geral da Amazon no Brasil. “Muitos que trabalharam no Fire Phone hoje estão na equipe da Alexa”.

Não se trata de uma mulher, mas de um assistente pessoal. Na Consumer Eletronics Show (CES), feira de tecnologia realizada no início do mês em Las Vegas, Alexa foi sensação. Ela foi integrada a mais de 30 novos produtos. “Com Alexa, a Amazon quer tornar a compra de produtos mais fácil”, diz Smith, da consultoria Gartner.

Outra aposta é o serviço de streaming Prime Video, considerado hoje o maior rival da Netflix. Assim como a concorrente, a Amazon produz filmes e séries originais. “Muitas pessoas estão trocando a TV e o DVD pelo streaming”, diz Olson, da Piper Jaffray. “Amazon e Netflix vão liderar o mercado”.

A Amazon parece seguir numa direção: transformar tecnologias em itens essenciais. “Ela espera que o usuário dependa dela todos os dias, para comprar comida ou se divertir”, diz Olson.

FOTO: Amazon/divulgação
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Após testes. Amazon usou drones pela primeira vez em 2016: foram 13 minutos do clique à entrega


Pouco conhecida

Avanço no Brasil ainda é lento

São Paulo. “Não temos pressa”, diz Alex Szapiro, gerente geral da Amazon no Brasil desde a chegada da empresa, em dezembro de 2012. A resposta é a mesma para uma das perguntas mais frequentes feitas ao executivo: afinal, quando a Amazon será no Brasil a potência que é nos Estados Unidos? “A cultura da empresa é que a gente só vai para uma próxima fase quando sentimos que fizemos bem uma coisa”, explica.

A Amazon começou no país apenas vendendo o Kindle, seu leitor eletrônico, e uma biblioteca de 13 mil livros digitais em português – hoje, são 97 mil volumes digitais. Em agosto de 2014, passou a vender livros físicos. A relação com as editoras era difícil, por conta do retrospecto da empresa em negociações nos EUA. “Foi frustrante”, conta Szapiro.

Hoje, a situação é outra. “Eles são exemplares na negociação e abrem muitos dados para nós sobre as vendas”, diz um editor que preferiu não se identificar. “Nosso único receio é que eles mudem de postura quando se tornarem líderes do mercado”.

O aumento da confiança na empresa também se refletiu em crescimento. Sem revelar números absolutos, Szapiro afirma que os negócios aumentam a uma taxa de dois dígitos ao ano. O principal desafio da Amazon no Brasil é se tornar mais conhecida. “Para grande parte da população, a Amazon não significa nada”, diz Pedro Guasti, presidente da consultoria E-Bit.


Excêntrico

Fã de “Star Trek”, Jeff Bezos possui desde jornal a foguetes

São Paulo. Excêntrico. Implacável nos negócios. Fã de ficção científica. Quinto homem mais rico do mundo. Muitos são os jeitos de descrever Jeff Bezos, empresário cuja história se confunde com a da Amazon. Filho de pais adolescentes, Bezos nasceu em 1964, como Jeffrey Jorgensen – seu sobrenome vem do padrasto, Miguel Bezos, imigrante cubano que se casou com sua mãe.

Formado na Universidade de Princeton, Bezos trabalhou em Wall Street antes de fundar a Amazon em 1994. A fama de negociador implacável o acompanha desde então – em 2010, por exemplo, a empresa baixou o preço das fraldas para reduzir o valor de mercado da Diapers.com, para depois comprar a empresa. O faro para negócios também levou Bezos a investir em startups, como Airbnb e Uber. Em 1999 foi eleito pela revista “Time” a Pessoa do Ano.

Em duas áreas, porém, Bezos foi além: em 2013, ele comprou o tradicional jornal “The Washington Post” por US$ 250 milhões. A outra é o espaço. Fã de ficção científica (ele fez uma ponta no filme “Star Trek – Além da Escuridão”), Bezos criou a empresa de aviação espacial Blue Origin em 2000. Sua meta é colonizar o sistema solar.

Em 2015, a empresa fez seu primeiro voo não tripulado ao espaço. O negócio tem pouca relação com a Amazon. “Pelo menos até a empresa fazer entregas no espaço”, brinca David Mitchell Smith, da consultoria Gartner.

FOTO: Amazon/Divulgação
Bezos
Bezos é negociador feroz

 

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