Debate

Defendida por Bolsonaro, cloroquina deve passar por mais testes, diz cientista

Infectologistas, Conselho de Medicina e Ministério da Saúde fazem ponderações sobre uso da substância no cuidado de pacientes com a Covid-19


Publicado em 08 de abril de 2020 | 22:31
 
 
 
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Durante pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, realizado nesta quarta-feira (7), o presidente Jair Messias Bolsonaro voltou a defender o uso de cloroquina no tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus. Especialistas, no entanto, entendem que ainda são necessários mais pesquisas sobre o tema.

Sem falar diretamente sobre o discurso, o infectologista Carlos Starling fez ponderações sobre o que chamou de "apologia de uma substância que ainda está em estudo". 

Instrutor da Sociedade Mineira de Terapia Intensiva (Somiti), membro da Sociedade Mineira e Brasileira de Infectologia e integrante do Comitê de Enfrentamento à Epidemia da Covid-19 de BH, Starling explicou que não iria se posicionar por que estava ministrando aula e, por isso, não ouviu o pronunciamento. "Não faz parte do nosso universo da ciência defender uso de algo que ainda está sendo pesquisado", reforçou. 

"Podemos usar, por que temos tão poucas opções e, para quem não tem nada em mãos... Podemos tentar, sim, mas com muito cuidado e muita responsabilidade científica", expôs o infectologista.

O Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG), por meio de assessoria, disse que, por ora, não comentaria o discurso, reforçando o teor de uma nota divulgada no dia 20 de março.

O documento diz que, até o momento, nenhum tratamento específico para a doença é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) ou pelo governo brasileiro. Lembra que "até o momento não há estudos conclusivos que comprovem a eficácia e segurança do uso de medicamentos que contém cloroquina e hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19".

Por fim, o comunicado diz que "a compra e uso indiscriminado desses medicamentos não é recomendada: a automedicação pode representar grave risco à saúde e o consumo desnecessário pode acarretar desabastecimento dessas substâncias, prejudicando pacientes que delas fazem uso contínuo para tratamento da malária e de doenças reumatologias e dermatológicas".

Em seu site, o CFM informa: "Diante da excepcionalidade da situação de combate à Covid-19, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pode – por ato administrativo específico – autorizar a prorrogação de receitas já emitidas por até 90. Eventuais prescrições futuras também seriam contempladas pela decisão". Um pedido nesse sentido foi encaminhado às autoridades sanitárias no dia 20 de março.

Segundo o Ministério da Saúde, o risco da cloroquina seria gerar arritmias cardíacas fatais. Com estudos científicos ainda em andamento, o ministro da Saúde disse, em coletiva nesta terça-feira (7), que médicos podem indicar o uso da substância. "Será que seria inteligente dar um remédio para 85% das pessoas que não precisam desse remédio - e um remédio que tem efeitos colaterais?", questionou ele nesta quarta (8).

O que disse Bolsonaro

Após ouvir médicos, pesquisadores, e chefes de Estado de outros países, passei a divulgar, nos últimos 40 dias, a possibilidade de tratamento da doença desde sua fase inicial. Há pouco, conversei com o doutor Roberto Kalil. Cumprimentei-o pela honestidade e compromisso com o Juramento de Hipócrates, ao assumir que não só usou a hidroxicloroquina, bem como a ministrou para dezenas de pacientes. Todos estão salvos. Disse-me mais: que, mesmo não tendo finalizado o protocolo de testes, ministrou o medicamento agora, para não se arrepender no futuro. Essa decisão poderá entrar para a história como tendo salvo milhares de vidas no Brasil. Nosso parabéns ao doutor Kalil. 

Temos mais boas notícias. Fruto de minha conversa direta com o primeiro-ministro da Índia, receberemos, até sábado, matéria-prima para continuarmos produzindo a hidroxicloroquina, de modo a podermos tratar pacientes da Covid-19, bem como malária, lúpus e artrite. Agradeço ao primeiro-ministro Narendra Modi, e ao povo indiano, por esta ajuda tão oportuna ao povo brasileiro.

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