Educação

Escrita à mão é fundamental para a aprendizagem infantil 

Letra e digitação estão associadas a padrões cerebrais distintos, diz estudo


Publicado em 11 de junho de 2014 | 03:00
 
 
 
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Nova York, EUA. A caligrafia importa? Não muito, segundo diversos educadores. Porém, psicólogos e neurocientistas dizem que ainda é cedo para declarar a caligrafia uma relíquia do passado. Novas provas sugerem que os vínculos entre a caligrafia e um desenvolvimento educacional mais amplo são profundos.

As crianças aprendem a ler mais rapidamente quando aprendem a escrever à mão e continuam sendo mais capazes de gerar ideias e reter informação. Trocando em miúdos, o importante não é apenas o que escrevemos, mas como. “Quando escrevemos, um circuito neurológico singular é ativado automaticamente”, afirmou Stanislas Dehaene, psicólogo do Collège de France, em Paris. “Existe algo fundamental no ato da escrita, uma espécie de reconhecimento pela simulação mental no cérebro”.

Conduzido por Karin James, psicóloga da Universidade de Indiana, um estudo de 2012 ratificou essa visão. Crianças que ainda não aprenderam a ler e escrever foram expostas a uma letra ou forma numa ficha e solicitadas a reproduzi-la em uma das três seguintes maneiras: traçar a imagem numa página com o esboço pontilhado, desenhar numa folha em branco ou digitar num computador. A seguir, elas foram colocadas num escâner cerebral e viram a imagem novamente.

Os pesquisadores concluíram que o processo inicial de duplicação era muito importante. Quando as crianças desenhavam a letra à mão livre, elas apresentavam atividade aumentada em três áreas do cérebro que são ativadas em adultos quando leem e escrevem: giro fusiforme esquerdo, giro frontal inferior e córtex parietal posterior.

Karin atribui as diferenças à confusão inerente à caligrafia: não apenas devemos planejar e executar a ação de um jeito que não é exigido quando temos o contorno tracejado, mas também temos maior propensão a produzir um resultado altamente variável. Essa variabilidade pode ser em si uma ferramenta de aprendizado.

Nosso cérebro deve compreender que cada possível iteração de, por exemplo, um “a” é igual, independentemente de como a vemos escrita. Ser capaz de decifrar a confusão de cada “a” pode ser mais útil no estabelecimento dessa representação final do que ver o mesmo resultado repetidamente.

Em estudo que acompanhou crianças entre a segunda e a quinta séries, Virginia Berninger, psicóloga da Universidade de Washington, demonstrou que a letra impressa, a escrita cursiva e a digitação num teclado estão associados a padrões cerebrais distintos e separados.

Parece que até pode existir uma diferença entre a escrita impressa e a cursiva.

Na disgrafia, distúrbio em que a capacidade de escrever é afetada, geralmente após lesão cerebral, o déficit pode assumir um formato curioso. Em algumas pessoas, a escrita cursiva permanece relativamente intata, enquanto com outras a impressa é preservada.

Na alexia, perda da capacidade de leitura, alguns indivíduos incapazes de processar a impressa ainda conseguem ler a cursiva e vice-versa – sugerindo que os dois modos de escrita ativam redes cerebrais separadas e envolvem mais recursos cognitivos do que numa abordagem única.

Virginia chega a sugerir que a escrita cursiva pode treinar a capacidade de autocontrole; pode até ser um caminho para tratar a dislexia. Análise de 2012 sugere que a cursiva pode ser especialmente eficaz nos indivíduos com dificuldades de controle motor na formação de letras e que ela pode ajudar a impedir letras espelhadas ou invertidas.

Especialista

EUA. Maria Konnikova é redatora colaboradora da versão online da “New Yorker” e autora de “Mastermind: How to Think Like Sherlock Holmes” (Gênio: como pensar como Sherlock Holmes).

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