Libido feminina

Falta de desejo sexual entre mulheres tem solução; especialistas dão o caminho

Listamos coisas que todas as mulheres devem saber sobre o assunto, mas que nem todo companheiro sabe


Publicado em 04 de dezembro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Quando você vai para a cama, você está mais interessado em dormir ou fazer sexo? Não tem nada de errado em não querer transar hoje, nesta semana ou até mesmo estar desanimado nos últimos tempos. Inclusive, não existe uma frequência sexual considerada “normal”. O problema, de acordo com especialistas, é quando a apatia é permanente e causa angústia. Segundo uma pesquisa do Centro de Referência e Especialização em Sexologia do Hospital Pérola Byington, em São Paulo, no Brasil, 48% das mulheres se queixam de falta ou diminuição do desejo sexual. 

E se engana quem acha que uma viagem romântica, uma lingerie nova ou qualquer outra aventura pode mudar isso. Para a professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da UFMG Márcia Cristina França Ferreira, o prazer não tem um botão de “liga” e “desliga”. A libido, principalmente a feminina, segundo ela, é um combo que vai desde o funcionamento regular do organismo, com a produção de hormônios e outras substâncias químicas, até a combinação de um parceiro disposto a estimular pontos estratégicos.

“O desejo sexual, que chamamos de libido, é resultado de várias interações biológicas, físicas, psíquicas e até sociais. Deficiências hormonais ou até mesmo excesso de hormônio como a prolactina, dos hormônios masculinos e estrogênio podem diminuir o desejo”, afirma Márcia Cristina, que acrescenta. “A diminuição da libido é um transtorno bastante comum na vida da mulher, embora ela seja uma queixa escondida, e muitas tenham algum receio ou vergonha de relatar ao médico”, frisa a ginecologista especialista em sexualidade. 

Ela esclarece ainda que o homem não tem mais desejo do que a mulher e que há um mito em torno disso. “O desejo existe independentemente do gênero. A questão é o tipo de estímulo que leva a uma fase de excitação. O homem tem a questão mais visual e imediata, e a mulher depende de uma interação maior”, explica. 

A explicação para o problema é biológica, mas a raiz do desinteresse tem inúmeros fatores, até psicológicos. Um estudo feito pelo Hospital das Clínicas de São Paulo revelou que a depressão é um dos principais motivos para a falta de libido. “Pode acontecer de problemas no relacionamento, caso essa mulher esteja em um. Ou ela pode se sentir sobrecarregada com outras questões da vida e não sentir uma necessidade sexual, e procura um tratamento visando agradar o parceiro ou a parceira. Ela também pode estar passando por momentos delicados da vida, como perdas e lutos, e isso afeta a libido”, confirma a psicóloga e psicanalista, Gabriella Cirilo, professora do Departamento de Medicina da UFMG. 

Solução 
Calma. Se esse é o seu problema, pode ficar tranquila, porque ninguém está condenado a uma vida sexual morna. “Na perspectiva da psicologia, não existe uma ‘receita de bolo’ nessa questão. Como todos os seres humanos, a sexualidade é algo singular, ou seja, somente cada mulher pode dizer de si. Ao mesmo tempo, sabemos como é um tabu conceber que a mulher sente prazer no seu corpo e no ato sexual, para além de uma perspectiva da reprodução. Sendo assim, é muito importante ela se permitir conhecer e explorar seu próprio corpo, suas fantasias. Além disso, é importante o diálogo com o parceiro ou a parceira, visando expor suas preferências, mas também escutar o outro, e, assim, juntos, chegar a um acordo”, aconselha Gabriella Cirilo. 

A sexóloga Fabiana Barcelar alerta, no entanto, sobre a diferença entre redução do desejo sexual e disfunção sexual. “Podemos falar em apenas de uma redução do desejo sexual devido a vários fatores psicológicos, como provocados por alguma doença ou simplesmente em razão de uma rotina carregada de tarefas e obrigações. Mas pode haver casos mais graves, em que essa redução da libido vai significar uma disfunção sexual, causando angústia, insatisfação, baixa autoestima e repercutindo em problemas no relacionamento. Neste caso, é fundamental que se procure ajuda profissional”, pontua.  

Pílula rosa? 
Em alguns países já é vendido e comercializado uma espécie de estimulante feminino. A agência que regula alimentos e medicamentos no país já autorizou a venda de um medicamento para mulheres na menopausa e que estejam com o desejo sexual em baixa. O remédio é aplicado por meio de uma injeção no abdômen ou na coxa 45 minutos antes da relação sexual. O laboratório alemão Boehringer Ingelhein, inclusive, é um dos que já desenvolveram um medicamento específico para as mulheres. Mas, assim como o remédio masculino não é milagroso, a pílula feminina tem outro porém.

Segundo os estudos, o medicamento leva, em média, de seis a oito semanas para produzir algum efeito – não é tão “imediato” quanto o masculino. A recomendação é que o medicamento feminino não seja usado por longos períodos. No Brasil, não há previsão da chegada de nenhum medicamento desse tipo. 

“Não existe um remédio mágico para mulher. O tratamento do transtorno do desejo sexual é complexo e depende das causas. Existem desde psicoterapias – às vezes, uso do mindfulness, terapia sexual e alguns medicamentos, que é a suplementação de testosterona – e recentemente até essa espécie de ‘Viagra feminino', mas não tem no Brasil”, destaca a professora da UFMG Márcia Cristina França Ferreira.  

O que interfere na libido feminina 
- Ovulação: nos períodos em que a mulher ovula, pode haver um maior interesse sexual. A explicação é a combinação dos altos índices de estrogênio e testosterona que ocorrem durante a ovulação. Mas, da mesma forma que os hormônios ajudam, muitas mulheres não sentem vontade sexual quando estão menstruadas. É normal, tá? 
- Medicamentos: antidepressivos, medicamentos para controlar a pressão, síndrome do ovário policísticos, anticoncepcionais, distúrbios na tireoide e outros medicamentos podem interferir na libido e até mesmo dificultar a chegada ao orgasmo por alterar a produção hormonal. 
- Psicológico: grandes mudanças de vida, falta de dinheiro, trabalho, luto, baixa autoestima e outras circunstâncias emocionais também diminuem o interesse sexual.  
- Alimentação: não existem comidas afrodisíacas, mas alguns alimentos podem ajudar se a falta de libido for um problema. Especialistas recomendam alimentos ricos em vitamina B6, como abacate, e ômega 3 (peixe, atum, sardinha). Até mesmo chocolate é indicado, para aumentar os níveis de dopamina no cérebro. Mas, se tem alimentos que ajudam, há os que atrapalham. Os vilões são bebidas alcoólicas em muita quantidade e comidas gordurosas por dificultarem a circulação sanguínea. Ah, e, claro, um bom jantar sempre pode ajudar o casal a relaxar. 
- Gravidez: alguns médicos e estudos apontam que mulheres grávidas possuem um maior desejo sexual devido ao aumento dos níveis de hormônio na corrente sanguínea.  
- Sedentarismo: Pesquisadores da Universidade do Texas concluíram em um estudo que mulheres que pedalam por 20 minutos são 169% mais animadas sexualmente do que aquelas que não se exercitam. O motivo? Exercícios liberam serotonina e fazem o sangue circular pelas áreas vitais de todo o corpo.

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