Reprodução assistida

Fertilização in vitro: Método ajuda mulheres a realizarem o sonho da maternidade

Tratamento cresceu mais de 32% no país em 2021 e pode ser acessado na rede particular e também no SUS


Publicado em 26 de outubro de 2022 | 03:00
 
 
 
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Há pouco mais de um ano, a empresária Marianna Peretti, 38, e o marido resolveram que queriam se tornar pais. Entretanto, eles estavam cientes de que essa caminhada não seria tão simples. “Meu marido é vasectomizado, e eu fui diagnosticada com endometriose profunda e trombofilia”, conta Marianna, que revela que exames também detectaram alta atividade de células NK no organismo dela – do inglês, “natural killer” são células de defesa do sistema imune que têm a função de reconhecer e destruir células estranhas ou infectadas por vírus e, segundo estudos, em grande quantidade no organismo feminino, podem ocasionar a dificuldade de engravidar e, também, o aborto. Para realizar o sonho, o casal recorreu a uma técnica de reprodução assistida: a fertilização in vitro (FIV). “Estou indo para a minha segunda tentativa”, afirma a empresária, confiante.  

Mas como funciona esse processo e como ter acesso a esse tipo de tratamento? Primeiramente, é preciso entender que a fertilização in vitro é apenas uma das técnicas de reprodução assistida disponíveis. Outros métodos muito conhecidos são a relação sexual programada (apenas com o uso de hormônios para estimular a ovulação) e a inseminação artificial (o sêmen é introduzido no útero da mulher por meio de um cateter no dia de ovulação). No caso da FIV, a união do espermatozoide com o óvulo é feita em um ambiente laboratorial.  

“Para as pacientes tentantes (como são chamadas as mulheres que tentam engravidar), a gente tem que pensar se essa paciente tem indicação de fertilização in vitro, porque essa não é a única forma de tratamento”, afirma a ginecologista e especialista em reprodução assistida Laura Maia, que frisa que todo o processo deve começar com a orientação de um profissional, com a realização de exames e a indicação da técnica mais indicada para cada caso.  

Segundo a médica, a FIV é considerada um tratamento de “alta complexidade” e que exige paciência e persistência, em um processo que dura em torno de um mês “Nesse período é feita a estimulação ovariana (com hormônios). Depois, é feita a coleta dos óvulos”, detalha Laura, que destaca que essa etapa precisa ser feita em bloco cirúrgico, com o uso de anestesia. “Em seguida, os óvulos ficam em cultivo que ficam em cultivo no laboratório juntamente com o espermatozoide, que pode ser do parceiro da paciente ou de um doador do banco de sêmen”, ressalta a especialista. “Os óvulos e os espermatozoides ficam juntos de três a sete dias para desenvolvimento embrionário, quando então eles podem ser transferidos para o útero da mulher. Em seguida, é aguardar de dez a 12 dias para fazer o exame de gravidez”, comenta Laura Maia.  

Preparação envolve o lado emocional e também o bolso 

Segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foram realizados no Brasil 45.952 ciclos de fertilização em vitro no país em 2021, um aumento de cerca 32% em relação a 2020, que registrou 34.624 ciclos de FIV. “Na fertilização in vitro nas mulheres com menos de 35 anos, a taxa de gravidez é em torno de 50% a 60% em um ciclo”, aponta a ginecologista e especialista em reprodução assistida Laura Maia, que compara com a taxa de gravidez espontânea. “Pelo método natural, (essa taxa) é baixa, independentemente se a paciente tem fertilidade ou não. Nas pacientes de até 35 anos, temos hoje em torno de 25% de chance de gravidez em uma tentativa no período de ovulação”, cita. 

A médica ressalta que o processo de FIV requer alguns cuidados, que envolve pontos com uma alimentação saudável e também acompanhamento psicológico. “É preciso ter muita paciência, persistência e insistência. Muitas vezes não vai ser na primeira abordagem ou na primeira tentativa que vai conseguir o resultado positivo, mas esse resultado positivo pode vir conforme continue tentando”, pontua a especialista. Laura Maia também elenca os custos do procedimento, que não são cobertos pelos planos de saúde no Brasil. Segundo ela, as tentantes que optam pela FIV precisam desembolsar entre R$ 10 mil e R$ 15 mil. “Por ser tratamento de alta complexidade, tem um custo mais elevado”, justifica. 

Tratamento no SUS 

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece, desde 2012, programa de reprodução assistida por meio de inseminação artificial ou por fertilização in vitro. O Hospital das Clínicas, em Belo Horizonte, é a única unidade pública de saúde em Minas Gerais que realiza esse tipo de tratamento. O encaminhamento para o Hospital das Clínicas é feito pelos postos de saúde, após avaliação médica.  

Histórias e experiências compartilhadas 

A empresária Marianna Peretti conta que quando decidiu iniciar o processo de fertilização in vitro (FIV), foi tomada um turbilhão de dúvidas e incertezas. “Eu comecei a pesquisar online, tinha muitas dúvidas de como era o processo, etapas, custos, clínicas, o que fazer e o que não fazer. Eu fui me alimentando de várias informações na internet, mas seguia me sentindo bem perdida”, relata ela. 

“Nesse processo, me deparei com um grupo de WhatsApp com 250 mulheres tentantes de FIV. Foi aí que a minha relação com o momento que eu estava vivendo mudou, percebi que eu não estava sozinha, que muitas outras mulheres passavam pelo mesmo processo que eu e tinham vontade de compartilhar suas dúvidas, histórias e experiências”, diz Marianna, que a partir dessa troca outras tentantes decidiu criar a Fiva, uma rede de apoio que reúne histórias de mulheres que fizeram ou estão em processo de FIV

“Cada história ajuda os futuros pais e mães a passar com mais tranquilidade por essa técnica, no mundo da reprodução assistida, repleto de dúvidas, altos e baixos e muitas vezes solitário”, explica Marianna.

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