Mesmo quem ainda não tinha nascido em 1966, quando Roberto Carlos lançou “Namoradinha de um Amigo Meu”, certamente já saboreou a letra, que narra o dilema de um rapaz que, como diz o título, está a fim da namorada de seu amigo. Ele diz entender que está errado e pondera: “Se os dois souberem/ Nem mesmo sei o que eles vão pensar de mim/ Eu sei que vou sofrer mas tenho que esquecer/ O que é dos outros não se deve ter”.
Mas... e se, num exercício de imaginação, fôssemos dar continuidade a essa “trama” e, passado algum tempo, o rapaz flechado por Cupido soubesse que o casal decidiu romper a relação? Haveria ali um sinal verde para ele, enfim, se declarar para a garota se a chama da paixão ainda estivesse acesa? E, no caso, ele deveria previamente confessar seu plano ao amigo, mesmo estando o affair já rompido?
Agora, pensemos em outra situação, um pouco mais intricada. E se, ao contrário do que parece ser a intenção da voz masculina na canção de Roberto Carlos, a pessoa estiver a fim de sair com o ex de um(a) amigo(a) apenas para uma transa? Como diria a letra de outra música, “Coisa de Momento”, de Renato Terra, uma relação do tipo “depois que sai da cama/Já não tem mais nada a ver”. Nesse caso também é aconselhável conversar com o amigo antes de marcar o date? Em caso contrário, vai soar como traição?
Casos recentes ilustram essas hipóteses. No início do ano, o perfil Gossip do Dia divulgou que a atriz Duda Reis vivia um romance com o ator André Luiz Frambach, que, por sua vez, tinha sido namorado de Rafaella Cunha, amiga da Duda. Na época, Rafaella publicou nos Stories: “Não vou dizer que já esperava isso vindo dela, porque você nunca espera uma coisa dessas vindo de alguém que chama de amiga (...). A minha história com André se encerrou três anos atrás, quando ele me traiu. Cada um seguiu a vida. (...) Quero que os dois sejam felizes. Isso não condiz com os valores que acredito para mim, manter pessoas assim ao meu lado”. E não, Duda e André não estão mais juntos. Desde julho, ele namora Larissa Manoela. Outro caso que bombou envolveu MC Poze do Rodo, que, em julho, teria sido visto com Ray Brito, amiga de sua ex-mulher, Vivianne Noronha. Ray desmentiu.
A sexóloga Allys Armanelli Terayama lembra: vivemos em um momento de escolhas. “Nunca foi tão fácil decidir o que queremos ou não para a nossa vida. As pessoas estão cada vez mais certas de seus desejos e da vontade de ser feliz”, entende ela, ponderando que reprimir uma atração é ir contra os sinais que o próprio corpo emite, como o olhar, o gestual. Posto isso, ela indaga: “Mas... e quando o assunto é sobre amizade? Uma das associações mais duradouras é a relação entre amigos. Será que essa amizade resiste a uma atração (de um pelo ex do outro)?”.
Talaricagem
No Brasil, flertar com o ex do outro tem até nome: “talaricagem”, ainda que esse termo também abarque a pessoa (talarico) que dá em cima do seu parceiro atual (ou seja, não só do ex). Ao menos nos relatos colhidos em sua prática clínica, Allys diz que todos os pacientes que viveram situações assim demonstraram ressentimento. “Não necessariamente com o amigo, às vezes com os ex”. Algumas vezes surge a tal pulga atrás da orelha: será que a atração já existia antes (de se envolverem)?
Para a sexóloga, nessa hora, é importante ter transparência. “O ditado ‘o que ninguém sabe ninguém atrapalha’ nem sempre se aplica à situação. O não saber de uma das partes quebra a confiança, e lealdade não está à venda!”. Nesse caso, ela aconselha: “Por que não perguntar ao amigo ou à amiga se ele(a) ainda está interessado em seu ex-parceiro(a)?”.
Ao mesmo tempo, o amigo pode dizer que está tudo bem, mas, no fundo, ficar magoado. “E mesmo passar a evitar lugares nos quais pode vir a encontrá-los”. Se tiver dúvidas, diz Allys, melhor optar pela discrição e deixar a poeira baixar. “É o mínimo a fazer, uma vez que já contou a seu amigo sobre o seu envolvimento com sua antiga relação”.
Paciente da sexóloga, Manuela* (nome fictício) volta e meia encontra o ex-marido, já que sua irmã é casada com o irmão dele. Vê-lo com outras parceiras segue sendo uma experiência dolorosa. “Ainda me sinto mal por ter que ir a eventos de família nos quais sei que vou vê-lo”, admite.