Soprar velinhas

Gostando ou não, fazer aniversário simboliza novo marco

Passar em revista as experiências vividas no último ano é também propício para se lançar um olhar para o futuro


Publicado em 08 de junho de 2021 | 03:00
 
 
 
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Sem nunca ter sido uma grande entusiasta das festas de aniversário, a estudante de nutrição Juliana viu a pandemia da Covid-19 impor um motivo a mais para que, desde 2020, essas celebrações fossem evitadas. Neste ano, na semana em que completava seus 26 anos, ela buscou guarida no apartamento do irmão para fugir de eventuais visitas. “Eu sabia que, se ficasse em casa, parentes e amigos poderiam aparecer, expondo meus pais a aglomeração. Então, passei uma semana fora”, assinala. 

Não é que Juliana tenha algo contra essas comemorações. Longe disso. De bom grado, ela até participa das festividades quando convidada. A verdade é que a relação da estudante com os compromissos associados à data de nascimento é um tanto paradoxal. Sim, os “parabéns” sinceros de pessoas queridas, seja presencialmente ou por mensagens, lhe despertam amplos sorrisos. Por outro lado, ela, que se identifica como uma pessoa mais introspectiva, evita fazer grandes eventos para si própria, preferindo não se colocar como o centro das atenções. A antipatia por esses eventos parece até coisa de família. Juliana lembra que, há uma década, uma prima chegou a se trancar no banheiro para não comparecer à festa-surpresa que os pais dela haviam organizado. 

Também há dez anos, na contramão dessa inusitada reação, a assistente acadêmica Ana Paula de Oliveira, 29, realizava um churrasco para comemorar o aniversário dela, um acontecimento que inaugurou uma tradição. Ano a ano, ela vem realizando o encontro, e mesmo em 2020, ainda que reunindo menos pessoas, a data foi festejada. “O que me mobiliza (a realizar essas reuniões) é estar com meus amigos, que sempre foram minha família. E, principalmente, eu acho importante agradecer pelo ano que passou e gosto de comemorar a abertura de mais um ciclo”, relata.  

A psicóloga comportamental Cássia Mattos, especialista em neuropsicologia, faz uma leitura semelhante e também acredita que o aniversário pode ser uma oportunidade de passar em revista as experiências vividas no último ano, além de ser um momento propício para se lançar um olhar para o futuro. “Este é um dia que representa a concretização de um ciclo de 365 dias. Os ciclos são linguagem universal para tudo que acontece na natureza e na vida, dependemos desses marcos temporais que se abrem e se fecham, nos permitindo fazer uma análise de vida”, pontua, acrescentando que, a cada soprar de velas, é quase inevitável pensar sobre como foi o aniversário anterior, assim como é difícil não pensar em como será o próximo. 

Já o também psicólogo Ivan Paulo da Silva, que atua em saúde pública e saúde mental, defende que a data de nascimento se tornou importante à medida que passou a ser uma marca da existência. “Assim como aprendemos a medir horas, segundos e minutos, fazer aniversário marca como ocorreu um ano da minha vida, sendo bom ou ruim, eu que vou processar essa informação e dar sentido a ela. Então, é algo que funciona como um símbolo do devir, que concretiza um fragmento desse constante movimento humano”, examina.  

Esmiuçando os conceitos apresentados, Silva cita que, da perspectiva da psicologia existencial, as pessoas estão nesse constante processo de um vir a ser. “Nesse sentido, ao se relacionar com o tempo, posso perceber meu processo de devir, ou vir a ser, ou então cair na angústia”, observa, citando postulados do filósofo alemão Martin Heidegger. “Isso se aplica aos aniversários, os quais são essencialmente uma marca do tempo. Posso vivê-los como uma exaltação das minhas possibilidades de existência ou como angústia de existir”, garante, emendando que fatores sociais, materiais e biológicos se fazem presentes nessa análise do tempo como angústia ou possibilidade. 

Diversos fatores influem na relação estabelecida com o próprio aniversário 

Além de características de cada um, como a personalidade, Cássia Mattos examina que o contexto pode ser relevante para que se decida compartilhar a data com os outros. “Para algumas, se o ano não foi bom como desejava, não há motivos para celebrar. Mas, para outras, mesmo que nem tudo tenha saído conforme o planejado ou mesmo que tenha sido muito ruim, o simples fato de estar vivo é motivo de alegria e celebração, significando uma nova oportunidade para recomeçar e realizar o que ainda não foi possível”, observa. 

A psicóloga reforça ser muito individualizada a forma como nos relacionamos com o evento do aniversário, embora a cultura exerça influência comum na forma como lidamos com a data. No Brasil, por exemplo, costuma causar estranhamento a decisão de esconder o próprio aniversário dos outros.  

“Eu me lembro de uma moça que eu atendia no consultório que dizia não gostar de comemorar o próprio aniversário. Ela dizia que se lembrava de sua mãe se queixando do trabalho que dava para fazer a sua festinha enquanto preparava os docinhos. Mas, curiosamente, essa paciente fazia questão de dizer a todos os seus colegas de trabalho que era seu aniversário para receber deles atenção e carinho”, expõe Cássia. 

Aniversário do Interess@  

Nesta terça-feira, dia 8 de junho, o programa Interess@, transmitido pela rádio Super 91,7 FM e exibido nas mídias sociais de O TEMPO, completa o seu primeiro aniversário no ar.  

Nesse período, foram transmitidos cerca de 250 episódios do vespertino, que se propõe a lançar um olhar feminino sobre temas da atualidade. Com relação às entrevistas, foram aproximadamente 400 feitas ao vivo, sobre os mais diversos assuntos. Afinal, se faz parte da sua vida, Interess@.

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