Mais lembradas pelo atributo fofura, as joaninhas têm um outro lado, um tanto mais selvagem e que ainda é pouco conhecido: carnívoras, as vermelhinhas são vorazes no extermínio de pragas, o que faz delas guardiãs da saúde de árvores e de outros vegetais. O inseto pode até substituir o uso de agrotóxicos e garantir mais vitalidade às plantas.

E é justamente por elas serem eficientes predadoras de outros insetos que a Prefeitura de BH desenvolveu, em 2017, uma biofábrica da espécie, distribuindo as quase insaciáveis joaninhas recém-nascidas para parques, jardins e hortas da cidade. A medida pode, inclusive, fortalecer árvores, evitando que, doentes, caiam quando há chuvas.

Agora, a população também pode, por meio de um formulário, solicitar lotes do bicho gratuitamente – e se a solicitação for motivada só pela fofura, é bom deixar claro: a prefeitura entrega larvas nada bonitinhas do inseto, que são mais eficientes no combate às pragas. E é melhor não se apegar: adulta, a joaninha vive apenas dois meses.

Alternativa

Mais de 30 mil insetos já foram distribuídos em BH, uma média de 2.500 por mês. Com esse volume, “o principal foco da iniciativa, que é o atendimento às hortas, aos jardins e à municipalidade, tem sido atendido”, garante Wagner Resende, que atua como biólogo na Gerência de Ações pela Sustentabilidade da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA). 

Entre os beneficiados estão os agricultores do Centro de Vivência Agroecológica (Cevae), do bairro Capitão Eduardo. Eles se viram livres de uma infestação de pulgões há oito meses, quando receberam um lote dos insetos. “Foi muito positivo, principalmente para as folhas”, avalia André Mourão Guimarães, 66, que cuida do espaço.

Funcionário da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica, ele explica que, no Cevae, a prefeitura cede espaço, ferramentas e água. Em contrapartida, pesticidas não são usados.

A solução também agradou a Cláudio Guimarães de Oliveira, 47, técnico de projetos elétricos industriais. Em uma área externa de 15 m², no apartamento em que vive, no bairro Buritis, ele cria aproximadamente 150 plantas de várias espécies – e que sofriam com uma praga. Quando soube da iniciativa, pediu ajuda.

“Um mês depois, recebi as larvas em três potinhos, que bastaram para resolver o problema”, comenta Oliveira, que tinha tentado outros repelentes naturais. Ele lembra já ter matado alguns “bebês do inseto”, pensando que seriam predadores dos vegetais, não das pragas. Agora, a espécie é tida como grande aliada.

Joaninhas são eficazes por “devorarem pragas que acometem a maioria das plantas que convivemos”, explica Resende, da SMMA. Caso dos pulgões, que destroem hortaliças, e das moscas-brancas, que levam à morte até árvores frondosas. Foi o que ocorreu em 2013, quando corredores de fícus, localizados nas avenidas Barbacena e Bernardo Monteiro, minguaram diante de uma infestação da mosca.

Distribuição

A inspiração para a criação da biofábrica, localizada no Parque das Mangabeiras, vem de um exemplo francês. “Em Paris, elas são usadas há mais de dez anos para controle biológico, preservando jardins públicos, por exemplo”, explica Wagner Resende, da Gerência de Ações pela Sustentabilidade da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

Na biofábrica, três biólogos, três engenheiros agrônomos e um engenheiro florestal trabalham para a manutenção de um ambiente controlado em que seja possível uma produção de joaninhas superior à capacidade natural em condições normais. 

Resende explica que a entrega dos insetos é feita de três formas. “A população pode pedir pela internet (pelo email biofabrica@pbh.gov.br) e depois vir à Secretaria Municipal de Meio Ambiente fazer a retirada”, diz.

“Elas também são oferecidas em eventos (como o de cultivadores de orquídeas, que aconteceu em outubro na Serraria Souza Pinto, no centro de BH)”, lembra. Por fim, “hortas agroecológicas podem requerer as joaninhas”, observa.