Para qualquer criança, julho só tem um significado: férias. É tempo de brincar, acordar tarde, viajar e ficar longe dos deveres da escola. Justamente pelo fato de a petizada estar em casa que os ortodontistas resolveram colocar uma corzinha no calendário: julho laranja. A cor é justificada como símbolo de alegria e vivacidade, mas também é sinal de que está na hora de ir ao consultório.

“Essa campanha foi criada em 2019 com o objetivo de orientar a comunidade sobre a prevenção para as crianças. A ortodontia vai muito além do nivelamento dentário. Quando pegamos a criança em sua fase de crescimento, conseguimos transformar o que seria cirúrgico em um tratamento ortopédico”, explica a Luciana Grossi, especialista em ortodontia e diretora científica da Associação Brasileira de Ortodontia.

Com 22 anos dedicados à ortodontia, Luciana observa que, de uma década para cá, os pais estão conscientes da saúde bucal dos filhos. “Geralmente eles os trazem para uma avaliação após observar que estão respirando pela boca ou tendo um bruxismo, que é um apertamento dentário. Já chegam aqui querendo um diagnóstico que estão enxergando”, observa.

Ela considera que esse número ainda é pequeno, o que torna mais relevante a campanha, no sentido de orientar os pais de que a criança precisa de uma avaliação odontológica. A urgência, segundo Luciana, se deve ao período de desenvolvimento ósseo. O ideal é que os pacientes mirins façam uma avaliação a partir dos seis anos. 

“Os homens crescem até os 18 anos, e as mulheres, quando têm aquele surto, até os 13 anos. “A partir do momento que vem a primeira regrinha (menstruação), a menina perde os hormônios do crescimento. Desta forma, o quanto antes a gente tratar a parte esqueletal, onde há a deformação na arcada dentária, melhor para colocar o osso no padrão correto”, assinala.

Crianças que chupam bico ou tomam mamadeira devem ter uma atenção maior. “A mordida se abre e a criança passa a ter respirador bucal, dormindo de boquinha aberta. A maior parte das mães não sabe que isso decorre deste hábito ou por ter uma deformidade, como ser atrésico (estreitamento do osso da maxila), respirando e dormindo mal”, salienta.

Uma dúvida recorrente dos pais é se esse tipo de tratamento deve se dar após a queda dos dentes de leite. O correto é acontecer, de acordo com Luciana, durante a fase da dentição mista, que acontece a partir dos seis anos. Neste momento, a criança já tem dente permanente, que está começando a erupcionar, e também muito dente decíduo, como os profissionais chamam os dentes de leite.

Quando o tratamento não é feito na idade certa, ocorre, em alguns casos, uma deformação dentária como a exibida pelo ex-jogador Ronaldinho Gaúcho. “Ele tem uma deformidade óssea de Classe II. Quando se olha para ele, está bicudinho. A maxila superior dele está toda para frente. Isso se corrige quando é adulto? Sim, mas com cirurgia ortognática (procedimento para reposicionar os ossos)”, exemplifica.

Outro empecilho para a ida ao dentista é o medo das crianças (e dos pais) de sofrer dor tão cedo. “Tem que ser um tratamento mais lúdico, realizando um trabalho diferente daquele feito com o adulto. Mas quando (as crianças) vêm para um tratamento ortodôntico, a vontade deles é tão grande de colocar um aparelho que facilita um pouco para nós”, registra.

O adiamento também pode ser explicado por uma questão cultural, já que, na visão de Luciana Grossi, problemas relacionados à cavidade bucal são desprezados em relação ao outros tipos de doença. “Geralmente acha que não é saúde. Procura quando dói (o dente). Quando dói, não tem jeito. Mas isso vem mudando porque as pessoas têm masi orientações a parti redes sociais”.

"Estava dormindo com a boca aberta"

Cássia Poliana logo ficou preocupada quando percebeu que a filha, Bianca, estava com um sorriso diferente, aos 6 anos. “Fui buscar informação com uma ortodontista, pois vi que a mordida dela estava aberta. A Bianca também estava dormindo co m a boca aberta. Assim fui atrás de uma orientação personalizada”, lembra.

Após seis meses, ela afirma que o resultado da primeira etapa do tratamento ortodôntico foi muito positivo. “Como havia uma maloclusão, a especialista resolveu colocar uma contenção por um ou dois anos, para depois ver a possibilidade de um aparelho fixo. O principal objetivo, que foi a correção da mordida aberta e cruzada, foi resolvido”, comemora.