De Bom Despacho para o mundo

Jornalista mineira conta como deu a volta ao mundo pegando carona

Kívia não usou somente esse meio de transporte, mas rodou milhares de km a bordo de veículos de estranhos


Publicado em 12 de outubro de 2014 | 03:00
 
 
 
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Para quem tem uma inquietude de colocar o pé na estrada, não há muitas coisas que tenham peso suficiente para manter um viajante na chamada “zona de conforto”. Empregos são abandonados, famílias e amigos se tornam virtuais e, mala na mão, ele parte para mais uma aventura. Foi assim que fez a jornalista Kívia Costa, 28. Nascida em Bom Despacho, no Centro-Oeste mineiro, Kivia deixou, há sete anos, o Brasil e foi morar na Alemanha, onde passou um ano. O idioma, do qual hoje ela é fluente, ainda estava engatinhando quando ela entrou no avião. “Eu me esforcei muito para aprender alemão. Chorava muito. Estudei um ano, uma vez por semana, e fui para lá sabendo muito pouco. Mas me esforcei e estudei bastante gramática. Todo lugar que eu via, tinha post-it com palavras em alemão”, conta.

As aventuras da mineira não pararam por aí. Seis anos depois, ela largou um emprego estável e bem remunerado em um grande banco e saiu de sua cidade em busca de um objetivo: dar a volta ao mundo pedindo carona. Foram milhares de quilômetros (para se ter uma ideia, ela andou 5.000 km de carona só na Argentina), 13 meses e quase 40 países visitados.

“Eu estava em um momento estável e muito legal. Estava fazendo uma outra faculdade. Formei em jornalismo na USP em 2009 e estava estudando economia. Ia trabalhar de bicicleta, não tinha estresse... Mas eu sabia que era uma fase e fui amadurecendo a ideia da volta ao mundo”, explica.

Kívia tinha uma lista muito maior de lugares que gostaria de conhecer, mas foi adaptando as vontades à realidade. “Até eu duvidava que eu fosse conseguir ir à Ásia”, conta, orgulhosa por ter conseguido chegar tão longe. Na mala ela tinha apenas os vistos da China e dos Estados Unidos (alguns países fornecem o visto quando você chega até lá).

A jornalista voltou para a Grécia no primeiro dia de outubro para reencontrar o namorado, que conheceu na sua passagem por lá, em abril, e estão juntos desde então. No começo do ano, ela volta ao Brasil para amadurecer as várias ideias e projetos que surgiram durante a viagem.

O que causa mais estranhamento nas pessoas que ouvem a história de Kivia é o fato de uma mulher, bonita, geralmente sozinha, pedir carona a desconhecidos. Os julgamentos carregam um certo machismo, mas principalmente uma preocupação quanto à segurança da atitude. Ela defende que os riscos são menores do que as pessoas imaginam. “Eu geralmente vou para posto de gasolina. O motivo maior de eu pegar carona e me hospedar na casa das pessoas é que eu acho esse um estilo de viagem muito enriquecedor”, afirma a jornalista, que fez a primeira parte da viagem (Bom Despacho até o Equador, passando pela Argentina), principalmente de carona.

O tipo de hospedagem usado em cada país dependia de fatores como: valor de hostels, se ela tinha ou não conhecidos naquele lugar que pudessem abrigá-la e, principalmente, o momento em que ela estava. “Na América Central e no Sudeste asiático, eu ficava em hostel. Já no Oriente Médio e no Quênia, fiquei mais na casa das pessoas. Às vezes, pegava um quarto só para mim e pagava US$ 5 e queria ficar sozinha. Tinha época que queria conhecer as pessoas”. Outra opção de Kivia eram os lugares “públicos”. Quando a grana estava curta ou as opções eram inviáveis, ela dormia em “qualquer” lugar. “Passei noite no posto de gasolina, na mesa do McDonalds, em um trem. Um dia fui para um parque e dormi umas cinco horas. Na Austrália cheguei a dormir em gramados na praia”, conta.

Nesses lugares, ela conta que nunca foi furtada, mas que durante os 13 meses, ficou sem dois celulares, algum dinheiro e um cartão de crédito. “Tudo furtado sem eu ver”.

Quando retornar para o Brasil, a jornalista não pretende voltar ao sistema “tradicional” de trabalhar em uma empresa ou veículo de comunicação. “A minha profissão é contar histórias. Eu preciso viajar. A gente caiu na rotina de redação. Eu descobri que é possível trabalhar de qualquer lugar do mundo. As pessoas olham e pensam que você está se divertindo. Eu considero isso um trabalho”, defende ela, que é fluente em alemão, inglês, espanhol, fala italiano e está estudando a língua grega (por motivos óbvios), mas quer aprender outros idiomas. “A forma mais eficiente é viajando”. E parar, segundo ela, não é uma possibilidade. “Eu acho que esta foi só a primeira parte de algo que eu ainda preciso construir”.

Na bagagem, depois de três meses acumulando momentos incríveis, saudade de casa, dores nas costas por carregar mochila pesada, situações inusitadas e cansaço, ela diz que traz muito mais do que as lembranças dos lugares por onde passou. “Tiveram muitas coisas que eu intensifiquei. Tirei uma lição de seguir em frente sempre, não importa o que aconteça. Sempre tem momentos difíceis, os furtos ou pessoas criticando. São situações que acontecem quando você está atrás da liberdade”, conta.

A motivação para seguir em frente, segundo a jornalista, vinha de uma música que foi sua trilha sonora nos momentos difíceis. “I am looking for freedom, looking for freedom, and to find it, may take everything I have” ("Eu estou procurando a liberdade, buscando a liberdade e encontrá-la, pode tirar tudo que eu tenho", em tradução livre), diz um trecho de “Freedon”, de Anthony Hamilton, trilha sonora do longa "Django Livre".

"Não importa o que aconteça, enquanto eu estiver viva, vou estar buscando isso [a liberdade]", finalizou a aventureira, que seguiu, horas depois da entrevista, para mais uma viagem. 

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