Saúde

Mais da metade da população feminina de BH sofre com sobrepeso, aponta pesquisa

Estudo publicado pelo Ministério da Saúde mostra que a cidade é a 5ª capital do Brasil com maior número de mulheres acima dos 18 anos com excesso de peso


Publicado em 30 de março de 2023 | 05:30
 
 
 
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A notícia sobre uma doença crônica na família levou a manicure Sandra (nome fictício), 34, a engordar repentinamente. "Há 5 anos eu descobri que meu pai foi diagnosticado com um distúrbio cardiovascular muito sério, e acabei sofrendo um choque psicológico extremo. De repente, passei a comer obsessivamente e logo fui ganhando muito peso. Passei dos 57 para os 78 quilos em poucos meses. Desde então, minha luta com a balança nunca mais acabou", desabafa a profissional.

Sandra é uma das muitas belo-horizontinas acima dos 18 anos sofrendo com o problema de sobrepeso. Segundo um estudo publicado em 2021 pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, a capital mineira é a quinta no país com maior índice de sobrepeso feminino.

A pesquisa aponta que o percentual de mulheres em BH com o Índice de Massa Corpórea (IMC) entre 25 e 29,9kg/m² – pontuação que indica excesso de peso – é de 58,73%.

A presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Minas Gerais (SBEMMG), Flávia Coimbra Pontes Maia, explica quais fatores têm sido determinantes para o excesso de peso entre o público feminino.

"A obesidade e o sobrepeso não têm uma única causa, eles são multifatoriais. São situações complexas que têm muito a ver com tendência genética, mudança de padrão alimentar e sedentarismo. Mas, se podemos apontar para um dos principais responsáveis que virou a chave desse processo, eu diria o aumento de oferta de alimentos altamente densos e ultra-calóricos. Isso combinado com a redução de atividades físicas, tem sido determinante para o avanço desse problema", crava a especialista.

Ela acrescenta ainda que no caso das mulheres, alterações hormonais também têm um papel significativo nesse quadro.

"Fatores como a gestação e a menopausa estão intimamente relacionados com o ganho de peso feminino. É comum que as mulheres acrescentem alguns quilos na gravidez, o que é normal. No entanto, se esse ganho de peso ocorre de maneira exagerada, por exemplo, como resultado do consumo de alimentos ultraprocessados e altamente calóricos, é possível que essas grávidas tenham mais dificuldade para retornar a um peso normal depois do parto", ressalta a médica.

Já no período da menopausa, quando ocorre uma queda dos níveis hormonais, é comum que muitas mulheres sofram com a diminuição da massa magra.

"Isso está relacionado com alterações do metabolismo que acabam fazendo com que o organismo comece a gastar menos energia para as mesmas atividades corriqueiras do dia a dia. Eu escuto com frequência no meu consultório reclamações como: 'Há 10 anos atrás eu comia a mesma quantidade ou até mais do que como agora e não engordava'. Tudo isso é resultado das alterações hormonais que fazem com que o aumento de peso seja muito comum nessa faixa etária de climatério, depois da menopausa", completa Flávia.

A médica endocrinologista Bruna Coelho Galvão Marinho observa que o equilíbrio emocional também tem influência sobre o acúmulo de peso entre as mulheres.

"Mulheres são mais acometidas por quadros de ansiedade e depressão e muitas vezes 'descontam' na alimentação, preferindo alimentos com alto índice glicêmico que são muito mais calóricos, mas dão uma sensação imediata de prazer. É comum que uma pessoa que esteja estressada e entristecida acabe buscando um prazer imediato – e a comida é exatamente isso, uma fonte de prazer imediato, principalmente as coisas mais palatáveis, mais adocicadas. Não é atoa que sentimos conforto quando comemos", destaca.

A dificuldade das mulheres com a balança também está ligada a razões fisiológicas e genéticas, afirma Nina Ramalho Alkmim, médica endocrinologista pela UFMG.

"O sobrepeso e obesidade são explicados por uma complexa relação entre fatores ambientais, genéticos, sociais e culturais. Dietas muito calóricas, sedentarismo e menor tempo de sono noturno estão fortemente associados a esse problema, não só nas mulheres, mas também nos homens. Porém, as mulheres têm maior teor de gordura corporal e apresentam maior tendência ao ganho de peso ao longo da vida", salienta.

Sobrepeso e obesidade

Embora sobrepeso e obesidade sejam condições que representam riscos consideráveis à saúde, a doutora Bruna Coelho Galvão Marinho sublinha que é importante saber a distinção entre eles.

"Ambos se referem ao acúmulo em excesso de gordura corporal, porém o que difere os dois é a quantidade desse excesso. Para uma pessoa ser considerada com sobrepeso, um dos critérios seria o IMC (índice de massa corporal) precisa estar acima de 24,9kg/m² e abaixo de 29,9 kg/m². Já para serem consideradas obesas, o índice seria maior que 30kg/m². Além disso, é necessário verificar percentuais de gordura, sendo que, pessoas obesas possuem maior % em relação a pessoas com sobrepeso e, consequentemente, possuem um risco maior de desenvolver algumas doenças crônicas",  demonstra ela.

Mudança no estilo de vida é fundamental

Diante do avanço nos índices de mulheres além do peso saudável na capital mineira, especialistas indicam que uma mudança de hábitos pode surtir efeito na batalha contra a balança.

"Para todo mundo que sofre com excesso de peso e obesidade, as sugestões são: seguir um planejamento alimentar com uma redução do valor calórico total da refeição, buscar alimentos in natura ou minimamente processados, e eliminar totalmente os ultraprocessados. Tudo isso deve ter um acompanhamento de um nutricionista, que deve preparar um plano adequado para cada pessoa", aconselha Flávia Coimbra Pontes Maia.

Bruna Galvão lembra que se trata de uma transformação gradual que deve ser mantida por toda a vida.

"As pessoas com obesidade muitas vezes sentem-se desanimadas na hora de buscar ajuda. Muitas passaram por experiências ruins com tratamentos que não surtiram o efeito desejado, e algumas até já foram vítimas de preconceito, e por isso, sentem-se derrotadas e culpadas. Por isso é importante que essas pessoas sejam acolhidas pelos profissionais e que suas expectativas sejam estabelecidas dentro da realidade. Uma pequena perda de peso pode parecer insuficiente em relação ao que alguém inicialmente deseje. A verdade, porém, é que ela garante pode garantir um grande melhora na saúde e na disposição para a vida", resume.

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