Comportamento

Modern Love: solteiros procuram mais afinidade amorosa em meio à pandemia

Especialistas explicam como o período de isolamento social influenciou as pessoas a buscarem ligações mais profundas e significativas no amor


Publicado em 18 de janeiro de 2022 | 06:00
 
 
 
normal

A analista comercial Renata Maia, 41, nunca teve dúvidas sobre as características principais que buscava em um par romântico.

“Sempre procurei pessoas com perspectiva de vida e que estejam interessadas em apostar em um crescimento pessoal, emocional e afetivo”, confessa. 

Adepta do uso da tecnologia para conhecer pessoas, ela conta que foi mais difícil encontrar parceiros compatíveis com seus objetivos durante os longos meses forçados de isolamento social. 

“Acho que o fato de não poder ter contato físico acabou afetando negativamente a possibilidade de se criar algo mais significativo com alguém”, avalia ela antes de acrescentar que se sente mais esperançosa agora que as restrições pandêmicas diminuíram. 

“Meu objetivo é conhecer alguém que possa somar na minha vida e que se revele um amor real, sincero e recíproco em tudo para mim”, almeja. 

Renata não é a única pessoa buscando por parceiros que se encaixem melhor em suas expectativas amorosas. 

Um estudo publicado no fim do ano passado pelo aplicativo de relacionamentos Bumble mostra que cinco entre dez usuários brasileiros registrados na plataforma afirmam estar mais dispostos a falar abertamente sobre o que esperam de um relacionamento depois da pandemia. 

Segundo especialistas, o período de lockdown trouxe à tona crises emocionais e psicológicas que geraram em muita gente um desejo intenso por ligações humanas mais profundas e significativas. 

“O distanciamento social forçou as pessoas a pousarem um olhar sobre elas mesmas e em todas as suas fraquezas íntimas. Consequentemente, isso afetou suas expectativas em relação aos outros também”, afirma a psicóloga, psicoterapeuta e especialista em relacionamentos, Rachel de Oliveira Mundim. 

“Buscar conexão e afinidade em um romance faz parte do que somos. Os chamados ‘choques de realidade’ – que podem acontecer em situações extremas como a da pandemia – muitas vezes nos fazem questionar tudo ao nosso redor. Mas é também através deles que é possível chegar a um novo julgamento sobre o que realmente importa na vida”, observa a psicóloga. 

“Nessas horas, muita gente anseia por ter alguém para dividir a intimidade e compartilhar desejos, sonhos e ideais”, complementa Raquel. 

Para a psicóloga clínica Leni Oliveira, coordenadora de relacionamento, casal e sexualidade do Núcleo de Psicologia Seu Lugar, é mais comum as pessoas buscarem um romance fixo que o contrário. 

“Ninguém está disposto a se empenhar tanto para forçar uma relação a qualquer preço. Houve o afrouxamento das restrições, mas a ameaça ainda é constante, e o desejo de se ter relações duráveis potencializa ainda mais essa busca. Porém, o grande desafio não é a busca, e sim conseguir sustentar essas relações de forma duradoura”, enfatiza. 

Leni argumenta ainda que a pandemia também abalou negativamente a realidade de muitos casais que já estavam juntos e contribuiu para um grande número de separações. 

“A atmosfera de medo e incerteza fez muita gente que sentia que seu relacionamento não tinha recuperação ir atrás de um novo par. Muitas pessoas tiveram dificuldades para se adaptar às novas formas de relacionamentos e aos novos valores de convivência. As relações extraconjugais continuam ocupando o lugar de sempre, muitas vezes fazendo a manutenção das relações conjugais”, ilustra. 

Novas tendências, velhos sonhos 

Mesmo com a aposta alta em relacionamentos firmes, estudiosos creem no surgimento de novas tendências de relacionamento no mundo quase pós-pandêmico. 

“Acredito que vamos ver mais exemplos de dates ‘sincerões’, aqueles que não perdem tempo tentando adivinhar o que a outra pessoa quer, mas buscam relações mais diretas, abertas e francas”, aposta Leni Oliveira. 

“Acho também que a boa e velha indicação pode voltar à moda – afinal de contas, todo mundo conhece alguém para te apresentar que é a sua ‘cara’, não é mesmo?”, brinca a psicóloga. 

“Penso que o que vai aumentar é a velocidade e a liquidez das relações, mas com um objetivo diferente: ir para o próximo o mais rápido possível se perceber que o que surgiu não é o que se procura. O momento é para ficar bem consigo mesmo e com o outro como consequência”, diz ela.  

“Essa é uma grande mudança para nossa sociedade, que sempre pregou o investimento no velho sonho da relação de duas pessoas vivendo como uma só como algo sagrado. Não há melhor momento para fazermos isso virar realidade do agora”, conclui.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!