A semaglutida, tratamento aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o diabetes mellitus tipo 2 (DM2), chega às farmácias brasileiras custando até R$ 918 e com a esperança de ser usada também contra a obesidade, assim como ocorreu com o Saxenda – que chegou ao mercado há dois anos e vem sendo considerado o mais potente para reduzir glicemia e peso corporal, além de diminuir o risco cardiovascular dos pacientes com diabetes.
A nova opção terapêutica pertence à classe de medicamentos que são sintéticos do hormônio da saciedade – uma molécula agonista do hormônio GLP-1 –, que é liberado pelo corpo após a alimentação. Esse hormônio ajuda a manter um nível normal de glicemia e aumenta a sensação de saciedade, segundo a médica endocrinologista Andressa Heimbecher.
“Quando a gente se alimenta, é liberado o hormônio de saciedade, que vai sinalizar para o cérebro que a gente acabou de ingerir comida. Isso faz com que o cérebro se sinta saciado e que a quantidade de insulina liberada não seja excessiva. A semaglutida é vendida em formato de caneta, e a indicação é que a aplicação seja semanal”, explica Andressa.
Aprovação no Brasil
A droga foi aprovada pela Anvisa no dia 8 de agosto de 2018, para tratar o diabetes tipo 2. No mesmo ano, durante o Congresso Brasileiro de Endocrinologia, realizado em Belo Horizonte, médicos discutiam a possibilidade da injeção de semaglutida ser a mais nova aposta para auxiliar pacientes obesos no emagrecimento.
Lançada pelo laboratório Novo Nordisk, a empresa, porém, não reconhece essa possibilidade para a molécula, que tem o nome comercial Ozempic, apesar de o fato já ter acontecido com outras medicações, como o Saxenda.
Outro caso parecido é o da substância Victoza, também fabricada pela Novo Nordisk e aprovada para controle do diabetes. Como teve bons resultados na perda de peso, ela passou a ser usada para esse fim de forma “off label” nos consultórios – fora das diretrizes para as quais foi aprovada. Posteriormente, o fabricante acabou desenvolvendo uma versão para tratar a obesidade.
Estudos específicos
A diretora médica da Novo Nordisk, Priscilla Olim de Andrade Mattar, esclarece que “o processo de aprovação de um produto passa por estudos clínicos específicos para garantir que a molécula seja segura e efetiva para a população de pacientes para a qual ela foi desenvolvida”.
No entanto, ela revela que “existem estudos em andamento com doses diferentes de semaglutida em população com obesidade para analisar os resultados da perda de peso”.
Acima do peso
Uma pesquisa do Ministério da Saúde indica que 55,7% da população brasileira está com excesso de peso; desse montante, 18,9% está com obesidade.
Diferenças
Diabetes do tipo 1: Geralmente surge na infância ou na adolescência. A causa ainda é desconhecida. É uma doença crônica não transmissível genética, ou seja, é hereditária. Prevalece entre 5% e 10% do total de diabéticos no Brasil.
Diabetes do tipo 2: É quando o corpo não aproveita adequadamente a insulina produzida. Mais frequente em adultos e está relacionada ao sobrepeso, ao sedentarismo e à má alimentação.
Complicações do diabetes
Estima-se que, no Brasil, existam mais de 12,5 milhões de diabéticos tipo 2, e as mortes em decorrência da doença aumentaram 12% em seis anos, de acordo com o Ministério da Saúde.
Os sintomas do diabetes tipo 2 são fome e sede frequentes, alteração visual, infecção na pele, principalmente quando as feridas demoram para cicatrizar, infecção de rins, vontade constante de urinar, emagrecimento sem controle nem razão e formigamento.
De acordo com a Associação de Diabetes Juvenil (ADJ), a doença pode aparecer em qualquer pessoa, de qualquer faixa etária, mas o risco maior está entre indivíduos com mais de 40 anos, obesos e sedentários. A hereditariedade, o consumo elevado de álcool, a hipertensão, o colesterol e os triglicerídeos alterados, além de histórico de diabetes gestacional, também são fatores de risco.
O diabetes é uma doença progressiva e, se não for tratada adequadamente, pode ocasionar complicações como doenças cardiovasculares, hipertensão, insuficiência renal, perda de visão e até amputação de membros.
Minientrevista
Priscilla Olim
Diretora médica do Novo Nordisk
“O Saxenda é líder de mercado no Brasil”
Qual o balanço de vendas do Saxenda hoje no Brasil?
Por motivos estratégicos, a Novo Nordisk não divulga o número total de vendas de seus medicamentos. O que podemos divulgar é que o Saxenda se consolidou como o produto mais vendido contra obesidade no Brasil. Hoje é líder com 39,3% de mercado ante os concorrentes.
Por quanto a semaglutida será vendida?
A Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed), do Ministério da Saúde, definiu que o preço máximo da semaglutida é de R$ 918,58. Os preços oferecidos hoje pelo programa de cadastro de pacientes da Novo Nordisk, são: R$ 600 (0,25/0,5 mg) e R$ 788 (1 mg).
Existem efeitos colaterais?
Distúrbios gastrointestinais, tal como náusea, foram os mais frequentemente relatados.