O Tempo Livre

O lado bom do pessimismo e como vencê-lo

Crise evidencia baixo astral generalizado do brasileiro


Publicado em 30 de agosto de 2015 | 03:00
 
 
 
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Como a Família Adams, nós, brasileiros, estamos com uma nuvem preta sobre nossas cabeças. É o pessimismo que tomou conta do país nos últimos meses. Descrentes com a política e a economia, a insatisfação parece ser geral – e muitos acham que isso não vai melhorar.

O professor Walter José de Aguiar Mendes, que dá aulas no curso de relações internacionais no Centro Universitário Uni-BH, acredita que a política pode explicar essa falta de confiança. “Tivemos uma eleição muito disputada no ano passado. Quase metade das pessoas não votaram na presidenta eleita. Em regra, essas pessoas serão pessimistas, pois não foi o candidato delas que venceu”, esclarece.

Mas ele também aponta outros fatores. “O Brasil é o país do futuro. Mas é um futuro que não chega. Apesar das melhoras, o brasileiro continua com essa expectativa do porvir. Porém, agora, há sinais de que as pessoas estão cansadas de esperar, de ver partido entrando e saindo, e nada muda”, analisa.

“O equilíbrio social está todo baseado na sensação de que todos estão progredindo. Se as pessoas sentem que estão estagnadas, isso gera um desequilíbrio”. Certeira, a frase não é de nenhum economista, mas de um lama budista. Em visita a Belo Horizonte para uma palestra sobre como evitar pensamentos negativos em tempos de crise, o lama Padma Samten, fundador do Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB) no Brasil, conversou com exclusividade com a reportagem de O TEMPO na última quarta-feira.

“Os pensamentos negativos constroem realidades, bolhas de realidade. Em qualquer área da nossa ação, as bolhas de realidade dominam as nossas possibilidades”, alertou o líder. Assim, segundo o lama, o segredo está na mudança da perspectiva, e explica: “Se conseguimos mudar o cenário do pessimismo para um cenário mais amplo, vemos outras coisas e surge energia para se mover e obtemos outros resultados”. Essa mudança pode ser mais fácil do que aparenta. Com uma orientação bem prática, as dicas do lama para conseguir ser mais positivo são relativamente simples. “Nós podemos abandonar essa noção de pessimismo e de otimismo. Simplesmente repetimos e fazemos melhor o que já vínhamos fazendo. O segredo está em fazer melhor o que é feito. De repente, você olha, e vê que tudo está dando certo, aí a visão muda”, garante.

Pode até parecer estranho, mas a verdade é que o pessimismo, por si só, não é necessariamente ruim. O jornalista e escritor Oliver Burkeman, autor do livro “Manual Antiautoajuda – Felicidade Para Quem Não Consegue Pensar Positivo”, sugere o que chama de “caminho negativo”, que consiste exatamente em não ignorar os pensamentos e as emoções negativas, mas tentar aceitá-los e aprender com eles. “É um comportamento que envolve pensar sobre o pior cenário em um dado contexto e todas as coisas que poderiam dar errado. Ajuda as pessoas a lidar com a ansiedade, as deixa mais tranquilas e as prepara mentalmente caso o pior realmente venha a acontecer”, explica ele à reportagem.

Fomos às ruas de BH falar sobre otimismo e pessimismo. Veja!

É um quadro exagerado

O cientista político Dimas Antônio de Souza, professor de política na PUC-Minas, é um otimista. Segundo ele, as crises política e econômica são realidade, mas não é para se desesperar. “As coisas não são como pintam. Do meu ponto de vista, é um quadro muito exagerado por parte de segmentos que não admitiram terem perdido as eleições e estão jogando o Brasil em uma crise institucional perigosa”, critica.

Ele ressalta que, até o ano passado, os níveis de desemprego eram baixos, o número de pessoas que concluíram o ensino médio foi o maior da história do país, embora o PIB já mostrasse sinais de estagnação. “A crise mal começou a chegar”. E ressalta: “Já vivemos crises muito piores. Não há nada de insuperável agora. Vamos sair da situação em que estamos entrando”

Como uma série de outros teóricos, ele acredita que a crise financeira dos Estados Unidos em 2008 tenha sido causada por um excesso de otimismo. “Que depois gerou um excesso de negatividade, quando as consequências foram sentidas”, analisa.

Naquela época, o Brasil não sofreu com o fim da “exuberância irracional” nos EUA. Agora, no entanto, a crise chegou com tudo. O que define, segundo ele, qual será o resultado de uma postura pessimista é o que a pessoa faz dela. “O desafio, eu acredito, é continuar se mexendo, mesmo na presença dessas emoções negativas”, ensina.

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