“Ela veste superbem. É feita com tecidos nobres, como tricoline italiana, que tem toque macio”, explica o alfaiate Marcelo Durães, conhecido como Blade, da Blade Alfaiataria, sobre uma peça que está confeccionando. A descrição poderia se encaixar perfeitamente a uma roupa feita sob medida. Mas, não. Trata-se de uma máscara de proteção, acessório indispensável para sair de casa em meio à pandemia do novo coronavírus e que deixou de ter o seu uso reservado a profissionais de saúde.
Novo protocolo incorporado ao nosso dia a dia, o uso das máscaras passou a ter papel fundamental para a nossa proteção. Mas, mais que úteis, elas também podem, por que não, ser bonitas, engraçadas e até chiques. E se transformar até mesmo numa forma de injetar um pouco de graça na nossa nova rotina de dias tão sombrios e ser uma forma de expressar nossa identidade.
As máscaras de Blade são confeccionadas com tecidos respiráveis de camisas sociais. E, caso seja necessário, é possível personalizá-la. “Adaptamos ao mercado, sem esquecer do know-how da alfaiataria”, explica o alfaiate. Alguns modelos são estampados à mão, com tinta de tecido, e arrematadas com a etiqueta do atelier. E, em casos especiais, há a possibilidade de a máscara ser confeccionada de forma personalizada com as medidas do rosto de cliente. O valor da unidade é R$ 10.
Embora o Ministério da Saúde tenha também incentivado a produção de máscaras caseiras de tecido, há a possibilidade de comprá-la pronta. A alta demanda foi um aval para que muitas marcas incluíssem em sua produção o item de proteção para a venda. Acostumada a produzir bolsas, a marca mineira O Jambu passou a produzir o acessório em neoprene forrado e acabamento com elástico regulável ao tamanho do rosto de cada usuário. “A máscara veio como uma necessidade e me senti qualificada para desenvolver uma peça que tivesse todos os requisitos necessários de proteção, com cuidado e eficiência”, disse a designer Carol Maqui, da O Jambu. O acessório é dado como brinde após compras a partir de R$ 300 pelo site e, a unidade, sai a R$ 30.
Longe do minimalismo, o acessório tem sido visto com estampas diferenciadas, tecidos nobres e acabamentos primorosos que, muitas, vezes, são responsáveis por categorizá-lo como status, o que não tem pegado muito bem. Vide o caso da máscara que estava à venda na loja virtual da marca carioca Osklen, por R$ 147, e que gerou muitas críticas. Na semana passada, a etiqueta recuou na comercialização do item após polêmica nas redes sociais. Internautas acusaram a marca de oportunismo e, em resposta, a Osklen disse que irá repensar no projeto.
Artigo de moda. De acordo com o stylist e consultor de moda Rodrigo Cezário, uma vez que a máscara se tornou um acessório de moda, ela também é uma forma de expressar a identidade. As opções são até pensadas para combinar com o look no dia a dia. “É um produto vendável, as pessoas precisam comprá-lo; e é natural que tenha uma informação de estilo. As pessoas continuam querendo se expressar através da sua imagem. É normal que escolham uma máscara condizente com a sua personalidade”, opina.
Apesar de a venda de algumas peças com o preço nas alturas, como a máscara confeccionada pela Osklen, e o uso de modelos grifados por celebridades, Cezário não enxerga o comportamento como um risco de a peça se tornar sinônimo de desigualdade. “O foco é que a pessoa fique protegida. Tudo bem se ela tem a condição de comprar uma máscara mais cara, mas é importante que fique atento às pessoas que estão no entorno, se têm condições de ter uma máscara e, se não, ajudar”, reflete.
A inclusão do item durável na grade de produção da O Jambu tem o objetivo de ajudar também a manter a empresa e os funcionários, não apenas instigar o consumo. “Não acho que a máscara que produzimos é somente um acessório de ostentação. Ela carrega um discurso condizente com a nossa marca. Se é para ser fashion, que seja por esse lado: de ter ajudado um projeto a continuar vivo em tempos tão difíceis”, opina.
DNA fashion sem intenção de lucrar
Por causa da alta demanda em função da Covid-19, a venda da máscara geralmente é atrelada ao fortalecimento da marca e à manutenção do salários dos funcionários neste momento de crise, além de algum tipo de trabalho social. Muitas confecções estão se mobilizando para produzir o acessório de proteção para doação a quem não tem condições de adquiri-lo, como os projetos mineiros Um Milhão de Máscaras e Trama pela Vida. A marca de roupas Modem, por exemplo, criou a peça em algodão premium e anunciou que metade da produção será doada para projetos sociais. A outra será para a manutenção do trabalho das costureiras. “
“Algo que essa pandemia trouxe para a moda, de forma geral, foi que cada marca, da forma que puder, precisa dar uma contribuição social, sem oportunismo. Precisa vir, antes de qualquer coisa, a vontade de ajudar”, esclarece o estilista André Boffano. “Apesar de ser um ítem de primeira necessidade, ainda assim nossas máscaras possuem o DNA da marca e são disponibilizadas para a sociedade, sem lucros”, explica ele. O acessório custa R$ 15, preço de custo.
Uma ou mais
As máscaras de tecido podem ser usadas por apenas duas horas. Depois desse tempo, é preciso trocá-la. Por isso, é recomendado ter mais de uma. Além disso, é recomendável carregar uma sacolinha para colocar a usada e guardá-la na bolsa sem risco de contaminação.