Louis Vuitton na mão, tênis enormes com as logos estampadas, moletons com os nomes das marcas do momento, diamantes na orelha e cabelos com cortes – e cores – irreverentes. Identificou? Essas referências nada mais são do que um resumo da moda ostentação dos jogadores de futebol que, com a Copa do Mundo, ficaram mais em evidência. 

Em campo, eles exibem camisas cada vez mais singulares e ousadas – que o diga a Nigéria, país que tem um dos uniformes mais bonitos e aclamados da temporada. Mas é fora dele que os atletas se tornam, de fato, referências de estilo para boa parte dos homens, usando grifes caríssimas que representam o sonho de consumo de muitos dos jovens brasileiros.

E não só: muitos frequentam eventos e desfiles de moda internacionais (na fila A, é claro) e estampam campanhas de moda – vide Neymar e a parceria com a marca Replay (desde 2014) e o lateral-esquerdo Marcelo Vieira, que acabou de lançar uma linha de sandálias juntamente à marca carioca Kenner.

Para a jornalista Valéria Said Tótaro, que também é professora de ética e pesquisadora de moda, é longe das partidas que “cada jogador se esmera em expressar sua identidade singular, por meio de seu estilo e gosto pessoal, sendo referência de inspiração para muitos e de rejeição para outros”. Além disso, quando estão juntos, usando o uniforme da seleção, “realçam a identidade coletiva, isto é, o pertencimento a um grupo social de profissionais”, aponta.

Neymar é um exemplo: mesmo usando o mesmo costume azul da seleção brasileira, assinado por Ricardo Almeida, durante o desembarque em Londres, antes de a competição começar, acrescentou ao look os óculos de sol amarelos e alguns outros acessórios, como um lenço amarrado no punho. Na mão, a mala que virou objeto de desejo, fruto da parceria da Supreme e Rimowa e que custa cerca de US$ 1.800, ou seja, R$ 6.600.

Ostentação? Além de Neymar, outros jogadores do Mundial também estão na mira da moda, como Cristiano Ronaldo, Héctor Bellerín e Gerard Piqué. Além de suas performances no gramado, eles não se cansam de exibir looks adornados com grifes esportivas como Nike e Adidas, complementadas com Vuittons e D&Gs. Para o stylist e apresentador do programa de TV “Esquadrão da Moda”, Arlindo Grund, “como os jogadores são pessoas públicas e têm visibilidade muito grande, muitas marcas os procuram para vesti-los. Mas eles também têm um poder aquisitivo que não tinham em outros momentos, para poder comprar essas peças”, completa.

Valéria Said também concorda com a necessidade das marcas de encontrarem respaldo em quem as ostenta. “Os jogadores com status de celebridade são disputadíssimos pelas grandes grifes de luxo, como Gucci e Balmain, por exemplo, e as batalhas para conquistar mentes, corpos e corações desses esportistas são acirradíssimas”, disse. 

De todo modo, esse flerte com as marcas de luxo é uma forma de os jogadores mostrarem sua conexão com o que é considerado chique. No entanto, vale lembrar que vestir algo que não gosta apenas para tentar adquirir certo status pode acabar transmitindo uma imagem equivocada. “Às vezes, os jogadores compram algo por impulso ou por uma vontade de aparecer. Por ser uma marca de luxo, a peça geralmente é bacana. Mas a gente precisa entender que não existe certo ou errado, existe aquilo que é bom para você e eventualmente não é bom para mim”, opina. 

Valéria engrossa o coro. “Os jogadores em ascensão profissional podem usar seu capital econômico para agregar capital simbólico, isto é, para demonstrar novo status social por meio de roupas de grife e artigos de luxo, pois a moda tem potencial de comunicar às pessoas a identidade que cada um constrói sobre si mesmo”, explica ela. “O que considero ‘desvio’ dessas representações é quando a imagem pública não é baseada em um significado de estilo coerente com a personalidade do jogador, mas forjada por um acúmulo de grifes pelo simples desejo de ostentar”, finaliza.