Se você vivenciou o verdadeiro espírito dos anos 70, provavelmente já reproduziu algum tutorial de tingimento caseiro para deixar uma simples camiseta branca com a estampa psicodélica batizada de tie-dye. 

A técnica consistia basicamente em amarrar a t-shirt com barbantes e mergulhá-la em uma infusão de corantes e água fervendo com sal. O resultado? Uma camiseta manchada em várias cores e tonalidades diferentes. 

Passado algum tempo, a técnica caiu em desuso. Como tantos outros fenômenos, foi tachada de cafona. Mas, é fato, o mundo dá voltas. E, tal como aconteceu com a pochete e a bota branca, eis que o efeito degradê (que, na verdade, tem sua origem lá atrás, em culturas antigas, em países da África e da Ásia), volta a dar o ar da graça. “Mas hoje, claro, o tie-dye está ressignificado – até porque muitas peças são tingidas digitalmente, e não manualmente. Antes, como uma estampa de protesto nos anos 70, pelo movimento hippie e pela contracultura, o efeito era obtido de forma não industrial”, contextualiza Luiza Oliveira, fundadora e docente da Plural Espaço de Moda, em Belo Horizonte.

Ela pontua que, assim como a estampa característica, outros itens disputados nos anos 70, como a bolsa de palha, os calçados com cara de naturebas e as peças em linho, compõem um movimento de resgate do trabalho artesanal, que é uma forte tendência para o próximo verão.

Para o stylist David Souza, o tie-dye também é um reflexo da forte referência dos anos 70, que está influenciando recentes coleções de moda como as da Prabal Gurung e da Ralph Lauren – precursoras em transpor para a passarela a atmosfera hippie com uma roupagem mais “adulta”, para a vida real. “Estamos vivendo, na moda, um remix de tudo que foi destaque nas décadas anteriores. E, agora, os anos 70 se fortalecem também no quesito ‘consciência do consumo’, no querer saber como foi feita uma peça, se de fato à mão”, pondera. 

Como usar. Para apostar no visual “manchado”, basta entender a tendência aplicada ao momento atual. “Acho legal combinar uma camiseta bem manchada com um bom jeans de cintura alta ou investir em peças como vestidos de seda e saias, além de acessórios como bolsas e bonés”, exemplifica.

Fato é que a tendência colorida pode ser encarada como, no mínimo, divertida – mas é preciso ter cuidado para não ficar com um visual extremamente caricato. “Não costumo ser muito taxativa na hora de direcionar o uso de uma peça dentro dessa tendência: depende de como a pessoa se sente ou de seu estilo. Mas adotar a estampa junto a vários outros elementos da mesma estética hippie, aí, sim, pode resultar em uma ‘cara’ de fantasia”, explica Luiza. Para se precaver, vale misturar a estética a itens que fogem desse espírito – incluindo peças em alfaiataria.

Faça você mesmo. O tie-dye é válido também como uma forma de dar um novo sentido a uma peça que estava encostada, além da possibilidade de se produzir em casa, a um custo baixo. “E isso está, de fato, em alta. Ser acessível a qualquer pessoa, já que, se você não pode comprar um modelo mais caro, basta fazer um similar”, ressalta David. 

Recentemente, a marca italiana Gucci disponibilizou uma versão tie-dye da camiseta com logo que fez o maior sucesso entre as celebridades. Mas, bem, o valor é alto: US$ 550. 

É possível, pois, que a procura por tutoriais que ensinam o passo a passo aumente. Luiza destaca que, antes de a fashionista optar por produzir uma peça multicolorida, deve se atentar ao fato de que “o tingimento natural só acontece em peças 100% algodão”.